Capítulo 4

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Enquanto dirigia sentia o olhar do Sillas em cima de mim. Passei a mão livre pelo pescoço disfarçando meu desconforto e a para ter certeza que eu estava realmente inteira.

- Está doendo?

Franzi o cenho e o encarei rapidamente, seus olhos miravam a onde eu me tocava.

- Só quando estou falando, então não me faça fazer isso!

Ele não disse mais nada, apenas virou o rosto e encarou a janela. Sillas era diferente dos outros NE's, não só fisicamente, mas também nos seus modos, todos sempre viviam grunhindo ou rosnando, mas não vi nada disso durante todo o caminho até o prédio central Stacy.

Sair do carro soltando os cabelos para esconder as marcas que eu devia ter. Ele me seguiu, fomos direto para o elevador, entrei primeiro, não pude deixar de pensar no que tinha acontecido exatamente em um mesmo ambiente pouco tempo atrás. Vi Sillas dá um passo para mais longe, lancei um olhar para ele, que encolheu os ombros.

- Um NE te atacou, eu sou um também, não quero te deixar desconfortável.

Engoli em seco. Eu estava sendo tão transparente assim? Não que eu estivesse com medo dele, afinal me salvou, mas ainda sim era estranho ele parecer saber o que se passava na minha cabeça.

Dei um aceno e então logo saímos no andar do escritório da minha prima, aproveitando que não vi Loren a mesa como um cão de guarda, segui direto até a porta e entrando sem cerimônias.

- Mas o que é isso?

Claire perguntou tirando os olhos da sua tela de computador. Escutei Sillas entrar atrás fechando a porta suavemente.

Como ele podia ser tão cuidadoso?

Aquele questionamento estava me perturbando, nenhum NE que vi até aquele dia agia da maneira calma ou tão controlada como o via fazendo. Dando um tempo com aquilo levantei meu cabelo me aproximando para Claire ver.

- Isto aqui é isso, marcas do ataque de um NE seu!

Falei enfática, Claire tomou um susto e olhou para trás de mim.

- Não, não fui eu Claire. Nunca tocaria em uma...moça assim... Foi o Kit, pelo menos acho que é esse o nome do macho alocado no prédio que estou.

Eu percebi que ele se esforçou para falar "moça" o que era aquilo? A minha prima me encarou parecendo horrorizada.

- Alexia eu...

Levantei um dedo em um sinal de interrupção.

- Não quero ouvir você dizer uma palavra que contenha desculpas, quero ações.

Passei a mão pelo pescoço. Doendo com o esforço de falar, vi o Sillas se mover pela sala e foi até o mini bar que existia ali.

- O que você quer? - A fala da Claire me trouxe de volta a ela. - Mas pelo amor de Deus, seja razoável...

- Quero que devolva a minha independência, tudo que é meu, esqueça as exigências do testamento do Howard!

A expressão dela se fechou.

- Se o seu pai não te deu controle de tudo que era dele, junto da sua liberdade, deve ter sido por um bom motivo!

- Howard nunca fez nada por mim que tivesse um bom motivo, agora escute bem, não estou pedindo para ignorar o que ele pediu, mas sim mandando.

Claire deu um aceno em negativa rindo sem nenhum humor.

- E se eu não fizer o que você quer?

Dei de ombros.

- Irei denunciar o NE que me atacou a corte suprema!

Um pouco daquela máscara de frieza e poder que minha prima carregava caiu. Seus olhos azuis semicerraram na minha direção como se quisesse me fuzilar.

- Você só pode estar ficando louca!

Comecei a tentar falar mais minha voz falhou, então vi Sillas, ele me deu um guardanapo com gelos dentro enrolados. Aceitei meio atordoada com o gesto e ele se afastou para se sentar no sofá. Quando encarei a Claire de novo, com gelo na garganta, tinha perdido um pouco a minha linha de pensamento.

- Estou falando muito sério!

- Precisaria de uma testemunha!

Ela disse, sorri e então olhei para Sillas, que fez uma careta.

- E eu tenho. É ele, que me salvou!

- Sillas você concordou com isso?

Claire indagou e o vi sacudi a cabeça em negativa.

Merda!

- Eu não concordei com nada!

Ele afirmou e eu o encarei sem muito tato.

- Você viu a agressão que sofri, não pode simplesmente não entender que agora é testemunha de um crime!

Sillas sacudiu a cabeça mais uma vez e passou a mão pelo cabelo.

- Não direi nada que prejudique um irmão!

A resposta dele foi um balde de água fria. Fui muito idiota para achar que aquele NE teria algum senso de justiça.

- Acho que não tem uma testemunha!

Claire disse parecendo muito satisfeita, arqueei minha sobrancelha.

- Vocês são um bando de desonestos!

- Não venha falar de desonestidade Alaxia, quando tentou me ameaçar.

Rolei os olhos exasperada e dolorida, com raiva de tudo aquilo. Me voltei para Sillas jogando o gelo nele que se encolheu.

- Aí!

- Obrigado por ferrar comigo!

Disse antes de me virar e sair da sala pisando duro. Claire tinha ganhado, mais uma vez.

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Eu não queria prejudicar aquela fêmea de forma alguma, mas não poderia ser cruel com Kit, apesar do que aconteceu. Tirei o gelo de cima de mim e olhei a Claire suspirar.

- Desculpe por isso!

Ela disse, neguei, não precisava daquilo. Sair do sofá e sentei na cadeira em frente sua mesa.

- Eu não queria prejudicar a fe...moça.

- Sillas pode usar a palavra fêmea que é do vocabulário de vocês NE's, não tem problema.

O Mestre não gostava que eu falasse daquela forma, fazia com que eu aprendesse termos "totalmente humanos".

- Tudo bem, como disse, não queria prejudicar a fêmea.

- E não fez Sillas, a Alexia está passando por uma fase de adaptação que não a prejudica, somente a incômoda demais.

Olhei para as minhas mãos, pensando no que tinha acontecido. Eu passei dos limites agredindo Kit, podia ter parado, porém fiquei com raiva quando vi ele machucando aquela fêmea.

- Pode mandar os médicos até o condomínio para ver o Kit? Bati mais do que deveria nele.

Claire concordou e deu apenas uma ligação rápida enquanto fiquei ali esperando, quando terminou me encarou parecendo curiosa.

- Machucou ele?

- Sim, consegui acertar sua cabeça, ele ficou zonzo e daí aproveitei, mas não devia, só que estava com tanta raiva. Ele iria matar a sua prima!

Claire engoliu em seco.

- Ele está instável?

- Pensou que era uma inimiga, acredito, não sei exato!

- Merda! - Ela ficou de pé. - Vou ter que ver isso melhor, preciso ir, mas te agredeço muito por salvar a Alexia, sei que ela não agredeceu.

Encolhi os ombros não precisando de agradecimento, pois era dever de alguém mais forte proteger o mais fraco.

- Não foi nada...

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