Capítulo 1

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Meu pai era um narcisista, alcoólatra e um hipocondríaco. Quando eu tinha cinco anos ele teve a primeira crise que consigo me lembrar, eu estava gripada, e ele apenas espirrou, logo achou que eu tinha lhe passado uma bactéria viral que o mataria em dias. O resultado: Um mês isolada em uma área da casa onde ele não pudesse me ver.

Obviamente essa não a primeira atitude disfuncional que meu pai aprontou. Teve aquela quando eu tinha dez anos, ele me esqueceu na aula de balé por causa de uma reunião que iria decidir sobre onde colocar uma placa em sua homenagem na empresa.

Tive que ser levada para casa pela minha professora e quando cheguei a noite ele simplesmente estava jantado como se eu não existisse. Disse que achou que eu tinha ido a casa de uma colega, mas que droga, só possuía dez anos, isso era praticamente impossível de acontecer sem que alguém me levasse até lá.

Tudo bem, teve outra, esta eu poderia considerar uma das piores. Ele bebeu demais, brigou comigo e me mandou no mesmo dia para um colégio no outro lado do continente. Eu tinha quatorze anos na época, claro que três meses depois me transferiu para um colégio interno, pelo menos, dentro do mesmo país.

No fundo sempre achei que essas atitudes do meu pai eram uma forma de punir a minha mãe. Ela tinha abandonado a nós dois assim que eu nasci, mas quem poderia culpar aquela mulher? Howard Stacy era um louco de pedra, que mulher poderia aguentá-lo? Nenhuma pelo visto, já que passou o resto da vida inteira sozinho como um ermitão excêntrico.

Depois de passar por tantas daquelas situações, exaustivamente, pensei que ele me daria paz quando moresse, mas não, não o meu pai. O velho babaca conseguia me ferrar até na sua morte, ele tinha falecido há um mês, nessa época estava de férias no outro lado do mundo.

Quando soube tive que voltar foi direto parar a leitura do testamento administrado pelos seus advogados com pontos bem interessantes. O primeiro deles estava em letras garrafais, ele não queria um enterro. Assim que morresse queria que fosse cremado e jogado em frente ao mar da casa de verão que morreu. Claro que quem fez isso foi o Merlim, o mordomo dele, já que estava escrito que devia ser o tal.

Porém esse não era o ponto mais extravagante do testamento. Meu pai era rico, muito rico, pois é enquanto Charles Stacy, seu irmão, virou um magnata da indústria de tecnologia, meu pai virou um ás a frente de uma companhia de mercados futuros, vendendo e comprando ações, administrando algumas outras empresas e dizimando-as se necessário.

A verdade era que os irmãos Stacy nunca se deram muito bem, uma mesma empresa para os dois não comportaria o ego inflado de ambos, mas no fundo todo mundo também sabia que aquela família era tão forte como louca. Nenhum de nós se salvava e estava ótimo vivermos em pólos distantes.

E aqui entra a cláusula mais absurda daquele testamento. Howard deixou expresso que eu era sua única herdeira, porém somente ao completar vinte e cinco anos poderia assumir a sua fortuna, até lá eu teria que ser tutelada por Charles Stacy que nada mais fez que delegar a função a sua filha, Claire, e agora eu estava naquela droga de mundo dela.

- Agradeceria se você pudesse tratar as pessoas de maneira educada!

Tirei os olhos da paisagem frígida da cidade que passava pela janela do carro. Encarei Claire sentada no banco do carro de frente para mim com seu marido ao lado.

Como ela casou com troglodita daquele?

Era história velha que a Claire sempre foi "exótica", mas se casar com um NE passava qualquer excentricidade. Aquele sujeito era rude, mal humorado e francamente, violento.

- Perdão? Acredito que não é de mim que deva cobrar educação.

Dei um olhar sugestivo a Grey que mesmo naquele terno alinhado, provavelmente italiano, ainda era um NE com cara de "quem comeu e não gostou". Ele rosnou na minha direção, empertiguei-me, Claire suspirou.

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