O Sol já estava forte às sete da manhã. Todos acordaram com os raios atravessando as cortinas e batendo em seu rosto.
— Meu Deus... Vai ser osso fazer alguma coisa num Sol desses... — Penny fala consigo mesma.
Na cozinha, George já preparava algo para comer. Felizmente, tinham mais coisas além de ovos.
— Até que tem bastante coisa aqui, hein George?!
— Bom dia pra você também, Hasten.
— Tá preparando pra todo mundo? — ela ignora.
— Não. — George responde de modo tão frio que seria capaz de congelar um litro de água.
— Que absurdo! Com tanta gente nessa casa e você só pensando em si!
— Creio que todos aqui já estavam acostumados a preparar o próprio café. A menos que você fosse filhinha de mamãe e papai que ainda levava café na cama.
A expressão de sarcasmo de Hasten muda completamente para ódio em frações de segundo.
— Idiota! — ela joga um copo de água no moletom grotesco de George. — Aproveita e tira esse negócio, me dá calor só de ver. — Hasten sai com passos firmes pelo corredor, como uma criança mimada indo para o quarto depois de um esporro.
— Já tão cedo? O que houve? — Ethan chega à cozinha, ainda com um roupão, meia e chinelo.
— Algumas pessoas não aceitam ouvir verdades.
— É... prefiro não perguntar o que você disse. Bem, vamos ver o que tem de bom nessa geladeira.
— Bom dia, confrades! — Hunter chega, logo à frente de Penny.
— Bom dia! A luz do Sol no meu quarto é bem forte... Sequer consegui cochilar mais um pouco... — Penny diz, bocejando.
— Tô vendo que alguém aqui ainda está com a cama nas costas mesmo!
— Deixa de ser bobo, Ethan! — houve um pequeno silêncio. — Onde está Hasten?
— De mau humor. — George responde.
— Mas, o que hou- — Penny retira sua fala ao ver o olhar de Ethan, que dizia indiretamente “acho melhor não perguntar isso”. — Bom... Acho que vou fazer uma panqueca...Depois de comerem o que tinham que comer e beber o que tinham que beber, os cinco se sentaram na sala.
— E então... O que faremos? — Hunter pergunta enquanto se espreguiçava.
— Não podemos iniciar a obra sem uma planta da casa e muito menos sem material. — George constatou.
— Talvez tenhamos que procurar por isso.
— Sim...
Todos começaram a vasculhar as gavetas e portas, procurando incessantemente por indícios do que fazer.
— Penny, olha isso aqui.
— Encontrou a planta, Ethan?!
— Não, mas olha esse quadro.
— É um poema?
— Uma espécie de um... Já leu Agatha Christie?
— Com certeza!
— É o poema dos dez soldadinhos.
— Uau! A família que morava aqui realmente tinha bom gosto em literatura!Dez soldadinhos saem para jantar, a fome os move;
Um deles se engasgou, e então sobraram nove.Nove soldadinhos acordados até tarde, mas nenhum está afoito;
Um deles dormiu demais, e então sobraram oito.Oito soldadinhos vão passear e comprar chiclete;
Um não quis mais voltar, e então sobraram sete.Sete soldadinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles cortou-se ao meio, e então sobraram seis.Seis soldadinhos com a colmeia, brincando com afinco;
A abelha pica um, e então sobraram cinco.Cinco soldadinhos vão ao tribunal, ver julgar o fato;
Um ficou em apuros, e então sobraram quatro.Quatro soldadinhos vão ao mar; um não teve vez,
Foi engolido pelo arrenque defumado, e então sobraram três.Três soldadinhos passeando no zoo, vendo leões e bois,
O urso abraçou um, e então sobraram dois.Dois soldadinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então sobrou só um.Um soldadinho fica sozinho, só resta um;
Ele se enforcou,E não sobrou nenhum.
(E não sobrou nenhum, Agatha Christie)
Sobre a prateleira, debaixo do quadro com o poema, estavam cinco gatos de porcelana, pintados à mão. A cabeça de um deles saía, podendo ser, assim, um bom pote. Ao abrir, Penny encontra um molho de chaves, sem qualquer descrição de finalidade para cada uma.
— Acha que isso pode ter relação com o lugar onde está a planta?
— Talvez. Vamos ver se encontramos alguma gaveta ou porta trancada.
— Certo.
Os dois foram em direção a todas as portas que viam, mas a maioria estava destrancada e as que estavam trancadas não correspondiam a nenhuma das chaves.
— Acho melhor vermos se os outros já encontraram alguma coisa. Às vezes alguém precisa dessas chaves.
— Aham.Os outros nada encontravam. Andavam de um lado para o outro, já não sabendo mais onde tinham passado ou não: o famoso “andar como uma barata tonta”.
— Ai, gente. Eu desisto. Sério mesmo. Estamos há horas rodando essa casa e não achamos nada. — Houve um silêncio. Todos sentaram no sofá.
— Hasten Camperfield. Acusada de assassinar Lindsay Hansell. George Legasov. Acusado de assassinar Emily Hansell, filha de Lindsay Hansell. Hunter Camperfield. Acusado de colaborar no assassinato de Lindsay Hansell. Ethan Melwood. Acusado de extorquir a empresa de Steve Hansell. Penny Foster. Acusada de falsificar os documentos da empresa de Steve Hansell, causando um caos em sua economia logo após a extorsão. — uma voz estranha surge em meio ao silêncio, expondo fichas criminais dos cinco.
— O que foi isso..? — Penny diz, assustada. — Eu nunca... Eu juro... Eu...
— Eu fiz isso. — George diz, friamente. — Não posso mentir. Ninguém pode.
— Eu também. Eu admito. Não temos nada a fazer com o passado, não é mesmo? — Hasten diz.
— Todos, sem exceção, saíram impunes. E agora estão aqui. — a voz retorna. — Vocês ainda têm uma dívida.
— O que nós temos de fazer? Eu não entendo... Eu não... — Penny se engasga em suas lágrimas e cai no ombro de Ethan, que ainda está paralisado com a situação.
— Bom, temos três assassinos, um extorsor e uma falsificadora. Ótima equipe. — Hasten brinca, parecendo não se importar muito com o que acontecera.
— Você devia ter motivos concretos para matar Lindsay, não é? — George diz de forma levemente sarcástica.
— Sim. Tinha. E, não, não quero contá-los a você.
— Certo.
— Depois dessa... O que devemos fazer? — Hunter indaga.
— Creio que não há muito, little brother. Que tal sentarmos e chorarmos como Penny? Tadinha... Não sabe ouvir uma acusação ao próprio erro.
— Cala a boca! — Penny se exalta.
George se retira da sala e se tranca no próprio quarto. Hunter leva Hasten antes que mais uma briga se forme. Enquanto Penny ainda chorava, assustada, Ethan olhava mais uma vez para o poema dos soldados.
— Não pode ser...
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As Cinco Rachaduras
Mystère / ThrillerInspirado no grande livro "E Não Sobrou Nenhum", antigo "Os Dez Negrinhos", de Agatha Christie, "As Cinco Rachaduras" imersa o leitor em um suspense quase infindo. A cada morte, uma rachadura.