Cap. 8 - Os Inadequados

1.4K 226 175
                                    

"Esse crime, o crime sagrado de ser divergente, nós o cometeremos sempre"

(Patrícia Galvão, a Pagu)



Aos pouquinhos, eu estava conseguindo conquistar a confiança de Alana. Depois daquela tarde de compras no sábado, na segunda no colégio eu fui chamado para ficar com elas no intervalo. Tá bom que quem me chamou foi Sofia, mas a Girafa Albina não pareceu se incomodar com isso. Pelo contrário, foi bem simpática até.

Me sentei à mesa com elas e comentei sobre a nossa avaliação de Literatura, do Dom Casmurro, e o quanto ela estava "moleza". As Meninas do Vôlei se mostraram divididas e algumas delas comentaram que o livro era chato, por isso não conseguiram fazer a prova direito. Sofia disse que não achou a história chata, mas triste, e expressou que esperava um final feliz para Bentinho e Capitu.

Esse foi o gancho da conversa para o clássico "Capitu traiu ou não Bentinho?". Alana, que era do terceiro ano, comentou que ficara apaixonada pela obra quando a leu para fazer a mesma prova que a gente, no ano anterior. Claro que ela se posicionou totalmente a favor da Capitu. "Ai, gente, aquele Bentinho é um lunático, egocêntrico e totalmente louco. Coitada da Capitu, que precisou aguentar ele", defendeu com bastante paixão.

— Ah, mas nem tudo parecia ser paranoia da cabeça dele. — expus. — Quando ele encontra a Capitu e o Escobar sozinhos em casa? Aquela história das 10 libras esterlinas é bem estranha.

— Claro que você vai achar estranha, porque você é homem, né, Otávio? Para o homem, a mulher tem que agir como se fosse propriedade dele. Não pode ter amigos, não pode ficar sozinha com ninguém, que já tá traindo. É um saco isso, sabia?

Nossa, gata, que revolta!

A veemência da resposta de Alana pesou o clima na mesa. Buscando mudar de assunto e transformar a atmosfera presente, Sofia disse que aquela era "sua semana" de realizar a tradicional "noite das meninas". Minha cara de paisagem deve ter sido muito grande, porque ela logo se adiantou em explicar que existia uma tradição entre as Meninas do Vôlei de fazer uma noite semanal na casa de cada uma delas.

— Ah, entendi. — comentei. — Isso foi um convite?

— Pode ser, né, meninas? — Sofia buscou o aval das amigas. — Que cês acham?

— Por mim pode ser. — Alana deu de ombros. — Se você se sente confortável para levar um menino, até onde se sabe, hétero, pra sua casa... Eu não sei se confiaria. O próprio Otávio acabou de falar aí da Capitu ficar sozinha com o Escobar, vai que o meu namorado não gosta de eu ficar sozinha com outro cara?

Girafa Albina, se você soubesse de toda a história, ia cair para trás.

Sofia soltou um gritinho entusiasmado e deu início a uma verborragia sem fim sobre a "noite das meninas" daquela semana. Enquanto ela falava, eu só pensava em como chegar a um nível mais próximo de intimidade com Alana. Eu teria que dar um jeito de me mostrar convidável para a "noite das meninas" na casa dela...

Pedi licença para as Meninas do Vôlei e fui até a região do pátio onde os esquisitos do grupo dos "Inadequados" costumavam se encontrar. Fred estava ao lado de Milena (eles viviam grudados agora) enquanto conversava com os seus amigos de teatro.

Chamei-o de canto e perguntei a ele se ainda havia vagas disponíveis no grupo de teatro.

— Cara, você tá no timing perfeito! — ele falou e a sinergia do sorriso entre seus olhos e boca era irresistível. — Hoje é o dia que a gente vai definir os personagens de cada um do grupo. Só estava faltando uma pessoa e você veio para ser o salvador. Vou te colocar pra ser Jesus na peça.

Operação CapituOnde histórias criam vida. Descubra agora