Cap. 5 - Pacto Secreto

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"Não se luta contra o destino; o melhor é deixar que nos pegue pelos cabelos e nos arraste até onde queira alçar-nos ou despenhar-nos."

(Machado de Assis – Esaú e Jacó)



Cheguei à diretoria escoltado pela Irmã Elizapeste. Lá encontrei Fred Maciel, Nicolas Leme e outros dois Meninos do Futsal. Junto a eles, com a cara de donzelo virgem de sempre, Bruno, ex-aluno e agora secretário do colégio.

Desculpe, leitor, mas aqui tenho que fazer uma breve pausa na história. Quando enviei este original para minha editora, ela me acusou de um vício absurdo — e imperdoável — chamado de name dropping. Não olhe no Google e nem em dicionários, aqui o significado é um pouco diferente. Na verdade, ela me acusou de encher a história de inúmeros nomes de personagens que podem confundi-los no processo de leitura!

Eu me senti incompreendido, mas ainda assim compreendi a observação dela. Como aqui eu conto fatos que aconteceram comigo, fica difícil não mencionar, citar ou chamar à história pessoas que tiveram alguma participação nesses eventos, mesmo que pequena. Sendo assim, procurarei refrescar suas memórias, de tempos em tempos, a respeito da identidade dos personagens mais secundários.

Por enquanto, retorno à narrativa. Naquele exato momento em que me sentei em frente à mesa de mogno da sala da diretoria, sem entender nada. Nem a minha presença ali. Busquei uma explicação nos olhos de Fred, que ficou quieto e não me explicou.

Bruno, então, falou que o professor Álvaro logo chegaria. O Diretor Interino! Revirei os olhos só de pensar. Ele era uma das pessoas mais horríveis e asquerosas do mundo. Melhor, da galáxia! E ainda estava se achando só porque tinha se tornado o diretor substituto, enquanto as três Irmãs Diretoras tinham ido a um passeio turístico no Vaticano.

Será que eu colei chiclete na cruz pra merecer esse castigo?

Cerca de uns cinco minutos depois, Professor Álvaro Schievone — em carne (enrugada e envelhecida) e osso (ou ossada pré-história que constituía aquele esqueleto velho) — cruzou a porta dupla da diretoria em seu passo múmico. Sério, sua presença cheirava a mofo. Ou devia ser aquele livro surrado que ele levava para cima e para baixo.

— Muito bem, senhores. — o diretor-múmia se sentou na imponente cadeira de espaldar, estofada em vermelho. Parecia um coronel saído de algum livro do Jorge Amado. — Eu estava em aula quando esse rapaz aqui — apontou para Bruno, o Secretário/Padre. — me chamou. E eu espero que vocês tenham um motivo muito bom para ter me tirado da sala.

— Não tem motivo nenhum, não. — Nicolas protestou. — Esses dois viados aqui que estão inventando coisa pra ferrar a gente. — ele falou se referindo a mim e Fred.

Meu Deus, menino! Finge que eu sou a carreira da Victoria Justice e me esquece!

Apenas lancei um olhar furioso ao Escroto-mor. Em resposta ao que Álvaro perguntou, foi Fred quem deu a explicação. Ele contou tudo, desde a festa, passando pelo vídeo que tinha sido espalhado, até chegar no momento em que Nicolas me empurrou na escada. O professor Álvaro ouvia tudo com a sobrancelha arqueada e expressão de pouco caso.

Naquele momento eu entendi o que aconteceu. Preocupado comigo, Fred foi até a diretoria e denunciou a agressão de Nicolas. Provavelmente para Bruno. E, nesse contexto, o secretário foi quem mandou me chamar...

Nossa, que fofo! O Fred era quase um príncipe. Só faltava o Camaro branco.

— Mas olha só. — o Diretor-múmia disse finalmente. — Isso que aconteceu, do vídeo do Otávio, foi fora do Colégio. É porque em um caso assim fica difícil eu fazer alguma coisa...

Operação CapituOnde histórias criam vida. Descubra agora