Cap. 7 - Pagu

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"Eu me aproximo das pessoas como um ladrão que se aproxima de um cofre, os dedos limados, aguçados, para descobrir, tateantes, o segredo."

(Lygia Fagundes Telles – As horas nuas)



Acho que já disse aqui que minha Tia Dóris era psicóloga. Pelo menos foi por um bom tempo, antes de perder o CRP por causa da bebida. Seja como for, ela sempre se declarou defensora de Sigmund Freud e de suas famosas teses. Uma delas é a Teoria do Iceberg.

Tia Dóris costumava me falar dessa teoria. E segundo ela — ou segundo Freud, tanto faz — as pessoas são como icebergs. O que a gente conhece delas, o que fica à mostra, é só uma ponta. Mas tem muito mais coisas submersas.

Profundo, né? Também acho. E quando conheci Alana, naquele dia do parque para ser mais preciso, essa teoria fez todo sentido. Eu fiquei me perguntando o que existia além da sua ponta. E como eu faria para mergulhar e descobrir as coisas que se escondiam lá embaixo.

Em meu primeiro mergulho devo dizer que quase me afoguei e pus tudo a perder.

Naquele dia nas quadras do Taquaral, quando senti o aperto da mão gelada de Alana na minha, seus olhos azuis, que não tinham a mesma simpatia dos de Fred, e intimidavam bastante, aquela postura corporal de quem não teme o mundo... Cara, eu sabia que não seria fácil. Uma coisa era ver Alana de longe no colégio, outra bem diferente era estar ali, cara a cara, forçando intimidade.

Mas eu não podia deixar claro o quanto Alana me impactou. Em resposta, abri um sorriso e a cumprimentei:

— Oi, tudo bem?

— Tudo. — Ela respondeu com uma sequidão casual que me deixou bem sem graça. Acho que meu sorriso simpático até morreu. — Gente, vocês vão querer fazer o que agora? Eu tô com fome.

— Eu tinha falado para o Tavinho que a gente ia no shopping depois daqui. — Sofia explicou.

— Tavinho? — Alana ergueu as sobrancelhas e olhou em minha direção, de cima a baixo, como se só então ligasse o nome à pessoa. — Então tá, eu só não posso demorar.

Fiquei desconfortável com essa clara e imediata rejeição por parte de Alana. Mas não desci do salto. Minha vontade era de correr, no entanto eu acompanhei as Meninas do Vôlei até o shopping de Dom Pedro. Pegamos um ônibus na Av. Dr. Penteado e, em 20 minutos, estávamos lá.

Assim, não que eu tenha problemas com minha altura, mas sou baixinho. Tenho 1,70m e, com 16 anos, eu podia ser uns 4 ou 5 centímetros um pouco mais baixo. Perto das Meninas do Vôlei, eu parecia um patinho no meio das garças. Elas eram pernudas, esguias. Isso só contribuía para que eu me sentisse mais deslocado.

Alana é quem comandava o bando. Embora eu tenha ouvido duas das Meninas do Vôlei cochicharem entre si o quanto sentiam falta de Milena, a antiga líder, elas respeitavam bastante a Girafa Albina, vulgo Alana, a atual.

Paramos na imensa praça de alimentação para comer. Eu estava tão nervoso por causa de Alana que nem conseguia pensar em colocar nada no meu estômago que já se estava se afogando em suco gástrico devido à ansiedade. Pedi um Subway, enquanto as outras enjoadas das MDVs, incluindo a própria Alana, pediram lanches do Mc Donald's.

— Ai, acho que vou pegar um Subway também. É mais leve, né? — Sofia comentou e se apoiou no meu ombro.

— Não vai fazer diferença nenhuma se você tá com medo de engordar. — Alana respondeu. — E tudo isso pra quê? Pra agradar macho.

Operação CapituOnde histórias criam vida. Descubra agora