Tempo de esquentar

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— Tive uma dica quente... Quente, sacou, rerê. Que o feladaputa ia descer nessas coordenadas — Brasil mostrou um mapa no celular.

— Pra onde que os caras foram? — Café perguntou para o motorista, que tinha ficado ali, observando a conversa entre os heróis.

O motorista apontou para a estradinha — foram para o lado da ponte.

— Icyboy, dá para você danificar aquele avião ali? — pediu Café.

— Ah, eu faço isso, rerê — e o Major Brasil voou contra o avião arrancando uma das asas e voltou. — Prontinho! Vamos?

O Major Brasil pegou Café com um braço e o garoto com o outro e voou seguindo a estrada. A estrada seguiu por uns poucos quilômetros até que chegava numa pequena aldeia. Não era exatamente uma aldeia à moda antiga, mas um conjunto de pequenas construções de madeira e alvenaria. E lá estava o vilão, todo vestido de verde e amarelo enquanto outros dois, usando telefones celulares o filmavam. Sem se aproximar muito deles, alguns indígenas observavam desconfiados.

— Nos vamos pegar esses caras! — bradou o Major Brasil e pousou perto deles, colocando Café e Icyboy no chão.

— É o Major Brasil! — Disse o anão com sua voz anasalada. Ele segurava um celular filmando o Inflama e Café reconheceu: Mau-Mau Bomber.

— Continua filmando essa porra! — O Major ordenou para o anão quando ele baixou o celular.

— Tá preso, Inflama! — Brasil apontou o dedo para o vilão agindo de modo teatral.

Inflama estava vestido todo de brim verde e com detalhes em amarelo na gola e nas mangas, tinha botas altas. Tinha a careca negra lustrosa de um lado, e carcomida por cicatrizes de queimadura do outro.

— Tudo bem, vou me entregar, Major! Eu não posso mesmo com um herói poderoso como você.

Café ficou olhando aquilo desconfiado. Era algum tipo de armação? Teatro? Alguma coisa cheirava pior que miolos de caranguejo.

O outro homem que filmava estava vestido com um camuflado verde, tinha óculos escuros e uma barba falha. Café olhou para ele, lhe parecia familiar.

¡No, pero yo soy rival para ti! — disse o homem largando o celular e juntando as mãos. Um brilho intenso quase cegou Café e o raio atingiu o Major Brasil nas costas. Então Café teve certeza, era o Revolucionário Atômico.

Uma explosão atirou todos para trás e Brasil voou na direção oposta do raio, fumegando. Assim que caiu rolando, teve o fogo em sua roupa e capa apagados por uma rajada de gelo fino expelido por Icyboy.

— Cuidado, moleque! — Café tentou avisá-lo, mas o chão sob o garoto explodiu a comando de Mau-Mau Bomber. Icyboy foi atirado para o alto e caiu troncho sobre o telhado de uma das construções.

Café correu até Mau-Mau e chutou-o fazendo-o zunir girando no ar como uma bola de futebol americano. O anão voou para fora do terreno da vila, a comparação é imprópria, mas foi um homerun.

Brasil, mesmo ferido, sustentando uma queimadura severa, voou contra Atômico atingindo-o no peito. Atômico não era apenas capaz de projetar plasma nuclear, como também era mais resistente que um tanque de guerra. Então ele ignorou a pancada e projetou novos raios contra Brasil. O herói brasileiro era ágil e se desviou dos disparos. Então, Brasil voou de encontro a ele e tirou-o do chão, segurando pelos antebraços. Atômico disparou, mas Brasil era mais forte e conseguia apontar os braços dele para os lados.

— Se não posso te ferir, vou te jogar no espaço, desgraçado!

Brasil começou a acelerar subindo, mas então, viu o corpo todo de Atômico começar a brilhar. Foi ficando quente e antes que ele pudesse soltá-lo, veio a explosão. E não era qualquer explosão. Foi uma explosão atômica que desintegrou o Major Brasil.

Do chão, Café foi cegado pelo brilho e em poucos momentos, foi atingido por uma onda de choque e calor sem precedentes. A energia negra procurava defendê-lo, mas talvez não fosse tão forte.

Perto de Café, o único que conseguiu sobreviver foi o Inflama. Ele convocou um escudo de calor e transformou o próprio corpo numa bola de fogo. Essa bola de fogo foi crescendo à medida que absorvia parte da energia da explosão nuclear. Inflama subiu aos céus na forma de uma espécie de imenso mboitatá. A bola de fogo cresceu até formar um diâmetro de dois quilômetros e começou a se deslocar em zigue-zague tocando a superfície da floresta. Isso começou um incêndio florestal sem precedentes em toda história. Inflama avançou cruzando boa parte do estado do Pará, e depois do Amazonas, deixando atrás de si um incêndio enorme que se expandia, mais e mais.

Fraco, Café caminhou entre as chamas e conseguiu se atirar no Rio das Oeiras. Os pulmões atingidos por fumaça e o corpo todo, coberto de queimaduras, Café pensou que vivia seus momentos finais. O implante da LIS, no entanto, conseguiu transmitir sua localização para a base flutuante a quilômetros dali. Seguindo o sinal, Thundergirl conseguiu resgatá-lo, mas Café quase não notou. Sentiu apenas um toque gentil ao redor de seu corpo, uma brisa, talvez e também o som de choro.

Homem-Café: Nação em ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora