"E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olhará para dentro de ti."
Acordei sentindo meu corpo se afundando no colchão macio. Abri meus olhos depressa e me arrependi amargamente ao entrar em contato com a claridade. Tentei me mexer mas não conseguia, o sol sumiu por uns instantes, deixando o quarto meio escuro. Então, senti como se algo estivesse puxando meu corpo para baixo, me afundando ainda mais no colchão. Fechei meus olhos com tanta força e os senti ficarem molhados com lágrimas de pavor. Eu queria gritar, mas minha voz havia desaparecido. Ouvi o som do relógio e então foi como se nada tivesse acontecido. Eu conseguia me mexer de novo.Levantei sentindo minhas pernas bambearem a cada passo até o banheiro, tudo que precisava era de um banho quente. E foi o que eu fiz, deixei a água cair sob meu corpo, aliviando a tensão e relaxando meus músculos. Balancei a cabeça, acreditando que era apenas meu subconsciente brincando comigo depois da tragédia que passei, era isso ou eu estava ficando louca. Sempre fui muito cética em relação à espíritos e fantasmas.
Ao sair do banheiro, me vesti com uma roupa simples e parei em frente ao espelho. Encarei meu reflexo enquanto penteava meus cabelos úmidos. Com um descuido, deixei o pente cair no chão. Revirei os olhos por conta da minha lerdeza extrema e me abaixei com preguiça para pegar o objeto no chão.
Foi quando me dei conta que não estava sozinha.
Me senti sendo observada e ao levantar meu olhar para me ver no espelho, lá estava ele. Me assustei ao ver um homem desconhecido atrás de mim. Senti meu corpo paralisar no lugar, eu não tinha mais o controle dos meus movimentos. Me virei bruscamente mas não havia nada e nem ninguém comigo, olhei mais uma vez no espelho e então só havia meu reflexo.
Sai do quarto as pressas e ao chegar na sala, coloquei as mãos nos joelhos tentando recuperar o fôlego. "Só posso estar louca", penso e me assusto ao ouvir o som da campainha.
── Olá, sobrinha! ── Meu tio Kim Hyun Joong diz, assim que abro a porta.
── Está fazendo o quê aqui? ── Pergunto ríspida.
Ele odiava meu Pai e só queria o dinheiro da minha mãe.
── Isso é jeito de receber seu titio? ── Ele entra para dentro da casa, jogando uma mala média aos meus pés. ── Titio veio morar com você!
Balancei a cabeça em negação. Isso só podia ser brincadeira! Eu não gostava dele, repudiava esse homem com todas as minhas forças. Quando tinha 10 anos de idade, ele tentou me molestar. Papai ficou irado e chamou a polícia pra ele, mas como não tinham provas, ele foi solto depois de 7 meses em cana. Ele caminhou até o bar no canto na parede e pegou um copo de Whisky, foi aí que eu percebi que ele ainda bebia muito. Quem tomava álcool logo às 10 da manhã? Ele jogou seu corpo esguio no sofá e me observou com cautela, sorrindo descaradamente.
── Não ligue para o titio, é só fingir que não tem ninguém aqui! ── Ele fala, fazendo uma careta depois de dar um gole do líquido alaranjado.
Revirei os olhos com aquele comentário idiota e subi as escadas devagar até o meu quarto. Eu não tinha o que fazer. Na verdade, não sei se tenho forças para fazer algo do jeito que estou me sentindo. Entrei e fechei a porta e, ao me virar de frente para a cama, vi um vulto preto andando calmamente para dentro do banheiro. Encostei minhas costas na porta e fiquei estática, sentindo o medo me dominar novamente como nessa madrugada. Eu ouvi o som de uma risada que fez gelar minha espinha. Criei coragem e corri até o banheiro, notando que não havia ninguém ali. Cocei meus olhos e bufei me sentando na cama.
── Eu estou ficando louca! ── Murmuro baixo para mim mesma.
── Não, não está!
Ouvi aquela voz rouca e um pouco grave em meu ouvido. Pulei da cama rapidamente e olhei para todos os lados, procurando o dono daquela voz e então o encontrei no espelho. Dessa vez, ele levantou o capuz que cobria parcialmente seu rosto, revelando-se para mim. Ah... Como ele é lindo! Tinha a pele tão pálida que não duvido que, com um simples peteleco, ele ficaria muito vermelho. Seus cabelos eram em um tom loiro quase brancos como neve, sua boca rosada e seus olhos puxados eram negros como a noite. Terrivelmente tentador. Mas o que ele era? Isso não pode ser real!
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Doce como açúcar I • Yoongi
Ciencia FicciónVivendo uma vida nada agradável ao lado de seu tio, Kim Yong-sun passou a ouvir e ver coisas que achava que era fruto de sua mente perturbada. Mas não era esse, o fato. Tudo o que ela acreditou ser imaginação, se tornou mais real do que gostaria... ...