Quem é você?

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"Já não é mais saudade e nem vontade. Ter você aqui junto de mim se tornou questão de necessidade."

Passei a noite inteira acordada pensando naquela coisa que desapareceu como fumaça do meu quarto. As lágrimas ainda desciam lentamente pelas minhas bochechas e meu corpo ainda tremia com o pavor. Apesar de desejar a morte com tamanha dor que sinto por ter perdido meus pais, lá no fundo sinto aquela vontade de viver ainda. Estranhamente sinto, mesmo com a mente nublada e me sentindo depressiva, ao ponto de não mover sequer um dedo para fugir disso. Se é que posso fugir.

Os primeiros raios de sol apontaram no horizonte, iluminando aos poucos o quarto. 

Ainda eram 5:30 horas da manhã mas já se ouvia o som dos pássaros cantando suas melodias. Estiquei meu corpo tenso sob o colchão macio e fechei meus olhos cobrindo-os com a coberta para evitar um pouco a claridade e fui derrotada pelo cansaço.

Acordo com alguém fazendo carinho em meus cabelos, um carinho bom. Abri meus olhos lentamente e me deparo com o sorriso da Tia Rose. Sorri de volta a abraçando bem apertado. Era reconfortante saber que tinha alguém comigo e em quem eu realmente pudesse confiar.

── Bom dia, minha princesinha. ── A voz doce de Rose me fez sorrir ainda mais.

── Bom dia, Mama! ── Digo me lembrando de quando era pequena, sempre a chamava assim.

── Se apronte e desça, o café está pronto. ── Ela fala passando a mão delicada em cabelos. ── Você está tão linda. Azul combina com você!

Rose se afastou e sumiu pelo corredor. Me arrastei até o banheiro como sempre e tomei meu banho quente, me troquei depressa e desci as escadas saltitando - apesar de querer dormir mais um pouco. O cheiro de panquecas invadiu minhas narinas, me trazendo varias lembranças.

── Está do jeito que você gosta. ── Rose diz, colocando um prato generoso a minha frente.

── Senti muito a sua falta. ── Falo com os olhos brilhando, dando uma garfada nas panquecas. ── Como estão as coisas lá em Costa Rica?

Rose me olhava pensativa. As coisas eram meio pesadas na família dela, mas ela não tem culpa dos filhos que tem. Rose era uma pessoa maravilhosa e sofria por conta dos dois filhos que eram envolvidos com droga e outras coisas. Ela suspirou, soltando o ar pesado e ali eu já sabia que as notícias não eram tão boas assim. Naquele mesmo segundo, me arrependo de ter perguntado sobre. Não era o momento de falar sobre coisas do tipo.

── Ah, querida... Continuam na mesma. ── Ela fala baixo. ── Meus filhos estão cada vez mais envolvidos no tráfico e isso me deixa muito aborrecida, tenho medo de voltar pra casa e receber a pior notícia. Eles nunca me escutam...

── Calma... ── Pego em sua mão que estava sob o balcão. ── Vai dar tudo certo, não precisa ficar muito tempo aqui, Mama. Só o suficiente para suprir minha total falta de carinho. Por favor...

Rose sorri, secando uma lágrima solitária que escorreu pela sua bochecha ao pensar em toda essa situação e eu me senti mais mal ainda.

Terminei meu café e lavei as louças enquanto Rose limpava a casa, a deixando com o cheiro inebriante de lavanda. Eram exatas 16:00 horas da tarde quando ela acabou de limpar tudo. Ela pegou sua bolsa e acenou pra mim antes de passar pela porta.

── Trás muita coisa gostosa pra mim! ── Gritei ao vê-la fechar a porta.

Se tinha uma coisa que Rose adora fazer era compras.

Mais uma vez me encontrei sozinha naquela casa. Entediante. Encarava o teto branco quando senti meus pêlos do corpo se arrepiarem. Aquilo não podia estar acontecendo de novo! Me sentei no sofá olhando tudo ao meu redor, a sala parecia ter ficado menor, mais intensa, mais fria e mais escura. Balançava a cabeça freneticamente pensando ser somente meu subconsciente me pregando uma peça. Já senti as lágrimas vindo. Eu não gostava nada daquilo!

Doce como açúcar I • YoongiOnde histórias criam vida. Descubra agora