Despertar

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  Um constante soar me tirou no nada em que estava mergulhada. Eram vozes e estavam alteradas.

Abri meus olhos e sei que os abri porque imediatamente vi olhos suaves sobre os meus e em seguida mãos delicadas tapando meus ouvidos superficialmente.

Ela nada disse com a voz, mas dizia com o olhar.

Está tudo bem, está tudo bem...

Assenti, mas nada daquilo fazia sentido para mim.

Quem era ela, onde eu estava e principalmente... Quem era eu.

Ofeguei.

Milhões de perguntas rodearam minha mente sem nenhuma resposta a não ser aquele olhar. Contudo... Ao passar lento e milimétrico de cada milissegundo, ali, naquele instante, dentro daquele olhar... Ali, era como seu algo de mim reconhecesse completamente tudo dela, os olhos, a sensação do toque em minha pele, os olhos puxadinhos, e uma profunda sensação de saudade, de perda, de perda profunda...

E amor, um amor esmagador e pleno.

Senti lágrimas fugindo dos meus olhos teimosamente ardentes e então um lampejo de sensação fervorosa de que eu podia perdê-la e por isso agarrei as mãos que cobriam meus ouvidos e sussurrei levada por um desespero que não compreendia por que sentia.

Ela era importante, ela era muito importante, isso gritava no mais profundo do meu âmago.

— Não vá embora... Não vá...

— Eu não vou.

Ela disse firme e eu assenti me permitindo fechar os olhos. Então algo se quebrou e eu me virei para ver uma porta ser arrancada do seu batente e um homem estranho, alto, todo de negro como um coveiro mortal, passar por ele falando intenso com... Outra Dela.

Contudo esta usava botas de cano longo, pesadas e assim como o coveiro, vestia-se toda de negro, os cabelos curtos e claros diferenciavam da que lhe tocava, que tinha os fios negros e, contudo... Contudo eram Ela. Eram ela... Dividida.

Não sabia o meu nome, não sabia quem eu era, mas minha alma sabia quem eram ambas.

Minha amada.

Fechei os olhos mais uma vez deixando em segundo plano toda a cena confusa que se seguia ao meu redor e perscrutei meu peito em busca de respostas. Era ela, mas quem era ela e quem sou eu?

Deveríamos ficar juntas para sempre, agora! Não é justo!

Minha voz soou em alguma memória confusa e difusa, rodeada por um nevoeiro dentro de mim e ela, ela como sempre era a mais serena de nós duas. Ela apenas me abraçou:

Fomos separadas tantas vezes, essa é a chance de vivermos uma vida longa, juntas e vivas. Nos dê essa chance, Amada. Nos permita viver uma vida de forma plena...

E então nossas mãos, outra vez como um jogo macabro e doloroso, foram afastadas e eu caí.

— O que ela tem, Marco, o que está acontecendo?

Uma delas, a parte aparentemente mais feroz perguntou aflita e aquela que me tocava de nome Marco – Eu achei belo e único tal nome – disse baixinho:

— Acho que ela está doente. Temos que levá-la daqui, Ka. Cadê o doutor Jin!?

— Eu vou chamá-lo. Mas não tranquem mais a porta! Se o rei souber...

O coveiro disso preocupado.

— Yuan, para sua sorte eu não quero que fique sem ombro, mas isso não muda nada! Ninguém vai levá-la embora, entendeu!?

Irmãs PhiravichOnde histórias criam vida. Descubra agora