Parede Borgonha

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Sangue escorre das minhas artérias partidas. É a única tinta que eu conheço capaz de tocar almas. Eu escrevo a sangue nas paredes do meu quarto todas as minhas preces, esperando que haja mesmo algum ser primordial capaz de tirar o peso da minha espinha e levar meus pesamentos consigo para bem longe. Mas eu não tenho certeza se é exatamente isso que eu quero. Me livrar dos meus pesos e pensamentos. Desistir de todas as toneladas que compõem a cruz que eu devo carregar. Porque é dessa cruz que saem todos os fragmentos de arte responsáveis por colocar um sorriso no meu rosto. Falar sobre minhas fraturas expostas me faz feliz e eu imagino que curá-las me traria solidão. Minhas cicatrizes são minha única companhia. A dor que elas me causam é mais agradável que as palavras das pessoas à minha volta enquanto os cortes só me dão o gentil silêncio.

Procura-se EuOnde histórias criam vida. Descubra agora