Eu lembro bem das ruas cinzas. De como o frio da madrugada nos fazia íntimos. Sua mão agarrando meu braço, me ajudando a correr pela minha própria vida. E eu não queria voltar pras luzes coloridas. As ruas sujas de terra e com cheiro de chorume me faziam felizes enquanto você me puxava por elas. Sua voz era como o canto de uma sereia. Me ordenava a correr sobre as calçadas esburacadas enquanto éramos ameaçados pelos soldados à direita e pelos criminosos à esquerda. Eu me pergunto se você também imaginava quanto tempo aqueles à direita levariam para também se tornar criminosos, quando matassem os que nos perseguiam à esquerda. Mas você quis voltar às luzes coloridas. Eu me soltei de você e andei até minha casa. Deixei o melhor homem que eu já conheci ir embora. A felicidade fugiu dos meus dedos como grãos de areia. E ela faz outra pessoa feliz agora. Uma pessoa que mereça, afinal, eu nunca fui o
melhor homem que você já conheceu.
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Procura-se Eu
AcakLivro de crônicas (ou algum outro gênero textual alternativo que eu desconheço)