nimbostratus

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Encharcado da cabeça aos pés, Jungkook está encolhido no canto da porta. Sua franja castanha gruda na lateral bonita do seu rosto, delineando o maxilar marcado, enquanto seus lábios tremem.

Ele percebe que Jimin refreia os passos, visivelmente entorpecido em vê-lo, no milésimo de segundo em que seus olhares tropeçam um no outro.

— O que você tá fazendo aqui? — O ruivo pergunta, rispidamente.

Jungkook não devia estar surpreso por sua reação, mas mesmo assim se retrai sob o seu tom brusco, o que fez Park, de imediato, arrepender-se por não ter sido sutil. Mas a verdade era que não sabia ao certo como reagir. Sua mente alcoólica começara a pulsar ainda mais com o estímulo abrupto, e o fato de que não sabia o que fazer em seguida o deixava estático.

Jeon apoia uma mão de cada lado do corpo com calma, contendo uma careta de dor ao sentir as pernas meio dormentes, e levanta do chão duro, no qual esperara por Jimin, pacientemente, durante as últimas duas horas.

— Precisamos conversar. — Diz com a voz baixa, limpando as palmas na calça.

O moreno estava com a pauta e a saudade entalados na garganta. Fizera e refizera milhares de vezes esta conversa em sua cabeça, contando, esperançosamente, com que Jimin fosse compreensivo e eles estivessem na mesma página. Só Deus sabe quanta coragem reunira nos últimos dias para, enfim, tomar um táxi e marchar até aqui.

Só queria lembrar como era a sensação de aconchegar seu rosto no ombro do menor. Em todas as noites insones, perguntava a si mesmo se Jimin sentia sua falta como ele sentia a sua.

Semicerrando as pálpebras pesadas, Park desconfia da possibilidade de que a figura diante de si – a qual, mesmo após tantos meses, continuara a ser o motivo de seus pensamentos diários e das angústias antes de dormir – fosse uma mera alucinação. — Não temos nada para conversar, Jungkook, nós terminamos.

Por mais que Jungkook sinta-se feliz em reencontrá-lo, não consegue ignorar a enorme barreira emocional existente entre eles. Tentando diminuir o espaço, ele enfia as mãos nos bolsos do moletom, sentindo o tecido molhado, e dá dois passos à frente. Jimin recua de imediato em um reflexo, mas sua instabilidade o faz vacilar.

Sentia-se assustado, nervoso. Bem que queria ser capaz de camuflar a ansiedade, no entanto, seu estômago estava embrulhado, a garganta apertada, e ele quase podia premeditar as palmas suando frio. Observa Jungkook rolar os olhos e, cabisbaixo, afastar-se dele ao retroceder um passo, levantando as mãos em forma de rendição.

Por que tudo tinha que ser tão difícil quando se tratava dos dois?

Engolindo em seco, procura por alternativas que amenizem a tensão, mesmo que o desconforto seja tão tangível a ponto de conseguir tocá-lo.

Subitamente, eram estranhos outra vez.

Jungkook estuda o seu rosto, percebendo que ele tenta disfarçar – mas não consegue – a maneira como treme quando se aproxima da porta e tenta enfiar a chave no encaixe da maçaneta.

— Bebeu de novo? — O timbre calmo ao seu lado pergunta, notando sua dificuldade no ato tão simples.

O ruivo pragueja baixo. Por que a porra da chave não entra?

— Deixa que eu faço isso — Jungkook se adianta, toma a peça de metal de sua mão e destranca a porta em menos de dois segundos. Seus dedos esbarram nos seus no meio do caminho, os rostos ficam perigosamente próximos. — Pronto.

Jimin torce o nariz, arrumando motivos para se afastar, mesmo que não quisesse; mesmo que não tivesse nenhum.

E, sim, a bebida havia sido desde sempre um dos motivos primordiais das brigas que tinham, entre tantos outros. Ainda que o relacionamento dos dois nunca tenha sido pacífico, Jimin admite que os únicos momentos de paz que tivera em sua vida foram ao lado do mais novo.

why don't you have an umbrella? | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora