stratus

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Não é apenas uma situação isolada. Basta olhar através do vidro embaçado e ver que toda a cidade mergulha na completa escuridão.

Jimin fica parado no lugar, tentando forçar a mente a raciocinar algo coerente, mas sente o cérebro entorpecido pulsar com o esforço. Ele olha para cima, observando algumas sombras opacas projetarem-se no teto, na esperança de que as luzes voltem a acender a qualquer momento. Nada acontece.

Completamente imerso pelo fulgor da discussão, sua distração o abstraiu de qualquer atenção que pudesse ser voltada à mínima percepção de como a chuva piorara do lado de fora – ainda que, por vezes, ela viesse a marcar presença mesmo ali dentro, encharcando o colchão na goteira logo acima da cama.

Se não fosse por Jeon, Jimin teria uma noite tranquila-dentro-dos-seus-termos, assim como planejara a princípio. Ele chegaria e, da forma mais simples possível, se jogaria sobre a cama, fechando as pálpebras e permitindo a sua consciência algumas horas de descanso. No entanto, Jungkook estava ali, com seu olhar pontilhado de inocência, banhado em arrependimento, o qual conhecia bem.

O clarão dos relâmpagos ilumina cômodo por cômodo, a velocidade da luz sendo consideravelmente maior que a sonora, demorando alguns segundos até que eles cheguem em forma de rugidos aos ouvidos, fazendo o chão e as paredes sacolejarem.

A porta range, seu ruído misturando-se  aos outros ao cortar o silêncio instaurado como uma lâmina afiada.

— Jungkook? — Park chama, sua voz, amanteigada pela precaução, ricocheteia pelas paredes.

Não lembra de ter escutado Jeon sair.

Seus olhos estreitam-se ao redor, as pupilas dilatando-se à medida que tenta delinear as formas, mesmo que não enxergue um palmo à sua frente. Ele arrisca alguns passos no negrume, sentindo cada um dos seus sentidos subitamente mais aguçados.

Tateia o vazio conforme caminha vagaroso, o eco dos estalidos da madeira sob suas botinas guiando sua percepção atenta. Sua respiração está pesada e os músculos tensionados em uma insegurança desconfortável quando, em direção à porta, o ruivo dá um pulo com o choque inesperado do seu corpo em algo quente e macio.

— Porra!

Seu coração dispara dentro do peito, as batidas doloridas quase arrebentando a estrutura óssea de sua caixa torácica.

— Calma, eu sou o único aqui, esqueceu? — A voz doce sem face fala, mesmo quando o menor achara que ela já havia partido.

— Devo estar surdo. — Pondera, uma vez que costumeiramente as tábuas instáveis denunciariam sua aproximação.

— Você só tá bêbado, Jimin.

Então ele percebe os dedos esguios de Jungkook circundando firmemente seu pulso fino. O calor adentra sua derme, desmanchando, como uma enxurrada, suas barreiras como se elas fossem feitas de papel. Jimin havia enfiado em sua cabeça teimosa que mantê-lo longe era a melhor das opções, ainda que tudo o que mais almejasse nos últimos cinco meses fosse tê-lo perto... o mais perto que qualquer princípio da física permitisse.

— Você tem que ir embora. — Diz, engolindo em seco e a contragosto, com medo de ser traído a qualquer instante pela própria saudade, no tempo em que desengata delicadamente a mão tenra que continua em si.

Ouve um suspiro miúdo. Park não queria que o mais novo partisse, e Jeon não queria ir.

Com o único elevador morto, eles logo reconectam o contato pele a pele, a fim de descer os oito lances de escadas até a saída em segurança. O entrelace das mãos deixava-os nervosos de um jeito que apreciavam estar, embora desacostumados. No trajeto, Jungkook teve que segurar o corpo do menor diversas vezes, impedindo que suas pernas – ainda consideravelmente alcoolizadas – enodassem, e seu pequeno corpo rolasse até lá embaixo vergonhosamente.

why don't you have an umbrella? | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora