5
Amanhecer ao seu lado era como acordar seis meses no passado.
Se as memórias não fossem tão frescas e o álcool ainda presente, talvez Jimin fosse capaz de acreditar que tudo aquilo fora apenas um pesadelo. Ou estaria mais para um sonho? Enfim, talvez a sua própria realidade já fosse cruel o bastante.
Desperto pelos primeiros raios de sol ao baterem em sua cara, ele demora suas pupilas, ainda desajustadas à claridade, sobre a beleza de Jungkook entregue ao sono: os lábios entreabertos permitem a passagem de sua respiração pesada, a qual é expelida em lufadas de ar enquanto sua bochecha esquerda é esmagada contra o travesseiro. Seu corpo tem o tronco coberto pela camiseta branca recolocada horas atrás, e as pernas torneadas ficam ainda mais salientes visto o modo como a boxer preta se ajusta sobre seus contornos. É lindo.
Park não sabe exatamente quanto tempo passou imerso nos filetes de água gelada que o chuveiro custou a cuspir sobre si depois de se levantar e fugir da situação como um covarde, deixando Jeon sozinho com seus pensamentos sobre a cama, no entanto, fora o suficiente para que montasse e desmontasse uma discussão fictícia consigo mesmo, balanceando as consequências daquela madrugada em sua vida. A cada segundo, via-se mais perto de um veredicto inconclusivo, ainda que o que não faltassem fossem provas: ele ainda o amava. Ainda amava Jungkook.
Ao sair, incrivelmente mais atordoado que antes, após sua constatação tão clara, deparou-se com o semblante adormecido do outro, sentindo um alívio imediato por não precisar sustentar a tensão flutuante de mais cedo e nem a incerteza de uma nova discussão. Estava sem energia para isso. Dentre tantas sensações que aprendera a desprezar, a que mais odiava era a do sufocamento da falta de palavras, quando, incapaz de olhar nos olhos do moreno, ele sentia a expectativa pesar sobre os seus ombros, fazendo-o afundar cada vez mais.
Esse era o problema: a porra da expectativa.
Se Jungkook não esperasse tanto do ruivo, e se Jimin fosse capaz de cobrar um pouco menos de si, talvez as coisas tivessem seguido por um caminho menos tortuoso. Contudo, Park abominava essa sensação incômoda de sempre esperarem por algo melhor dele. Seu pai esperava que fosse isso, sua mãe aquilo, e, definitivamente, ele mesmo esperava algo melhor de si. Mas a vida é uma maldita caixinha de decepções e verdades doloridas, então... o melhor a ser feito era se acostumar a ela de uma vez por todas.
A realidade é uma merda, e nem a pau que o menor não se deixaria enganar pelos casais felizes e suas mãozinhas entrelaçadas na rua como se tudo fizesse parte de um conto de fadas. Mas, é aí que sua preocupação, muito maior que a leve irritação causada, estava! Saber que Jungkook esperava exatamente isso: as mãos dadas. Não que ele não quisesse. Não que não desejasse, mas, cacete!
Sentindo a cabeça latejar como o inferno, uma óbvia consequência da incomum alta atividade de seu cérebro logo cedo – adicionando isso a uma puta ressaca –, não existe uma gota sequer de saliva em sua boca e sensação o incomoda. Ele apoia as mãos para trás e senta devagar, permitindo-se uma última olhadela quase pecaminosa sobre o corpo estirado ao seu lado antes de caminhar letárgico em busca de água.
Lá fora, presos às vidraças, estão os restos mortais do temporal passado, com um respingo ou outro ainda à espera de que o calor brando do sol nascente paire sobre si e os permita evaporar como se ali jamais tivessem existido. Porém, o que realmente importa é: feliz ou infelizmente, não chove mais, e tudo o que essa manhã de sábado tristonho oferece não é nada mais do que um céu nublado e sem vida. Jimin até conseguia se identificar com a energia meio apática do ambiente.
Com o abdome escorado no balcão, suas mãos giram a engrenagem da torneira e ela expele o líquido cristalino no copo, repleto de pequenas bolhas esbranquiçadas que logo somem, não pensando duas vezes antes de levá-lo aos lábios e sorver todo o conteúdo de uma só vez. O ruivo deixa o recipiente vazio ao lado, fora da pia, já que se convence de que não precisa ser limpo, afinal, ele só havia tomado água. Girando em seus calcanhares, Park permanece alguns instantes parado, observando ao longe o mais novo sobre seu colchão e em como aquela imagem lhe resgata boas memórias.
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why don't you have an umbrella? | jikook
Conto{shortfic | jikook | +16} Não, Jimin não queria ter ficado preso em casa com Jungkook, seu ex-namorado, mas a chuva lá fora estava realmente forte e a rua alagada. plot by @swagay 2019, ©keoppa.