altostratus

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Jimin estava perdido nas horas.

O breu trazido pelas nuvens tempestuosas engoliam Seul, inundando-a em uma mescla apática de tons monocromáticos, o que ferrara completamente com a sua noção dia/noite.

A lua já teria despontado no céu caso não estivesse densamente encoberta, mesmo assim, ele sabe que é tarde, afinal, não recordava da última vez em que havia voltado para seu mísero apartamento antes da meia-noite. Nada fora do habitual, considerando sua rotina de madrugadas desregradas.

Dentro do táxi, com a nuca apoiada no encosto, ele observa os largos filetes de água empoçada serem varridos pelos pneus conforme o carro desliza pelo cenário caótico das luzes de freio e buzinas abafadas. Park luta contra os sentidos alterados pelo álcool, tendo certa dificuldade em saltar do veículo quando o motorista estaciona em frente ao prédio de pintura desgastada.

Com pouco equilíbrio e, puxando a jaqueta de couro sobre a cabeça – na tentativa de se proteger da chuva fria –, ele corre ao atravessar a rua.

O vento sopra com violência contra si, as gotas se agarram à barra de seu jeans escuro, escorrendo pelos rasgos em suas coxas. Seus pés tropeçam no meio fio, e ele ri desgostoso do estado em que se encontra: bêbado e sozinho, após mais uma sexta à noite ao lado de um bando de desconhecidos.

Francamente, não se importava mais com quem andava. Talvez fossem péssimas companhias, talvez ele fosse a má influência. Desde que o acompanhassem na conversa fiada, nos goles de cerveja barata ou nos shots entorpecentes, estava satisfeito.

Não tinha ninguém o esperando em casa, de qualquer modo.

Ainda podia sentir sua garganta tremelicando das horas decorridas dentro daquele karaokê que cheirava à maconha. Ok, estava acostumado aos sorrisos femininos ganhos, nos olhares predatórios os quais, usualmente, não correspondia, mas que, mesmo assim, acabaram levando-o para camas alheias inúmeras vezes por puro desespero emocional.

Ele balança a cabeça, sentindo-a latejar. Seu semblante embriagado mergulha na rua pouco iluminada, os passos destrambelhados sobem as escadas do hall; encolhido, tenta proteger-se dos pingos pesados que rebatem na calha do prédio enquanto se concentra em digitar a senha nos numerozinhos embaralhados a sua frente.

A chuva castiga a grande capital sem trégua há dias. Água despenca incansavelmente dos céus, os bueiros regurgitam tudo o que não conseguem mais engolir, e o tráfego é só mais um exemplo do caos instalado. Era só olhar em volta e seu apartamento mofado logo lhe parecia uma boa alternativa para estar em meio àquele pandemônio.

Com um ruído muito sonoro, Jimin passa pela porta pesada e tomba para dentro, topando no degrau de concreto. Xinga alto, não poupando seu vasto vocabulário de palavrões, ao sentir a pontinha do seu pé pulsar dentro das botas apertadas. Ele ouvia, no fundo de sua mente, o riso alcoólico debochando de sua situação.

Quando foi que se tornara alguém assim? Tão decadente...

Não esperaria por uma resposta, afinal, já tinha uma ideia e não sabia, realmente, se queria ouvi-la em voz alta.

Do lado de dentro, ele se vê dividido entre seguir pelo elevador ou pela escada, e, ponderando ficar preso em uma caixa metálica durante a tempestade – visto que a energia ameaçava cair a qualquer instante – ou aventurar-se em suas pernas instáveis oito lances escada acima até o quarto andar, opta pela primeira opção.

why don't you have an umbrella? | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora