A Igreja Em Esmirna

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CRISTO, POR ELE MESMO.

Apocalipse: 2. 8

"[Ao anjo] da igreja em Esmirna escreve:"

     Jesus, manda João escrever, "ao anjo", da igreja daquela localidade, Esmirna, uma carta endereçada a um povo, mas que teria que ser passada através de um representante, o anjo, ou, pastor, o líder daquela igreja; todos os cuidados de uma igreja local é de responsabilidade do seu líder, que está sob seus cuidados.
      Até Deus respeita a hierarquia que ele próprio constituiu, que é de um representante nominal sobre essa instituição eclesiástica, dando a carta a ele, que por sua vez, terá que repassar fielmente a mensagem que recebeu; apesar de não ter tanto poder e autonomia assim sobre a igreja, o líder, ainda sim terá que dar conta de tudo que está sob sua responsabilidade. Como está registrado em: (Hebreus: 13. 17) "Obedecei a vossos guias, sendo-lhes submissos; porque velam por vossas almas como quem há de prestar contas delas..."

"Isto diz o [primeiro e o último]"

      Aqui Jesus se intitula como o "primeiro e o último", que é o mesmo que "alfa e ômega", a primeira é a última letra do alfabeto grego, uma descrição muito complexa, dada a nossa capacidade de compreensão, obviamente é uma característica incomunicável de Deus, mas que não deixa de ser uma incógnita para nós. Ele é o "primeiro e o último", e isso, ao mesmo tempo, coisa que é uma característica unicamente Dele; isso tudo pra mostrar que a mensagem dada ao líder da igreja era muito relevante, e precisava de ser levada a sério.

"que [foi morto] e reviveu:"

      Um dado interessante: Não era mais o Cristo morto, mas o que havia ressurgido, a fase de morto de Jesus foi real, não foi um momento de sono somente, ou um desmaio; essa foi uma heresia criada pelos alemães Gottlob Paulus, Schleiermacher e Herder no final do Século XVIII e meados do XIX, é de suma importância reconhecer que Jesus faleceu, contrariando essa linha de pensamento que havia na época. Essa heresia consiste em afirmar que Jesus só teria ficado inconsciente, o que por sinal é muito danoso para a fé cristã; são esses os esforços de minimizar o valor da cruz, mas, aconteceu. Todas as coisas que estão escritas no livro do Apocalipse, têm um viés de defesa e afirmação, frisando verdades que são importantes na vida da igreja; todas as crenças e doutrinas, são bem claras e definidas, para servir de amparo à vida espiritual do corpo de Cristo.


A PERSPECTIVA DO ALTO

Apocalipse: 2. 9
(Parte A)

"Conheço a tua tribulação"

      Aqui Jesus declara que conhece a tribulação da igreja de Esmirna, e que ela não está desamparada mediante aquele período turbulento; na verdade as tribulações são canais de graduação espiritual, pode parecer "contra-intuitivo", mas o que para o mundo é prejuízo, pra Deus é lucro; e o que para o mundo parece o fim, para a igreja é uma promoção; como podemos ver o que o apóstolo Paulo vai dizer em:
(Romanos: 5.
3) "... [sabendo que a tribulação produz] a perseverança, 4. e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;5. e a esperança não desaponta..."🏼
Com certeza é muito difícil compreender pra quê, sofrer perseguição, calúnia, e aborrecimento, o que naquela época, era os principais fatores de insegurança, os quais também, fazia parte da cartilha de uma genuína igreja; o ambiente de construção e edificação proporcionado pelas tribulações, é também mencionado em outro texto:
(2 Coríntios: 4.
17.) "[Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz] para nós cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória;"🏼
Há um benefício maior em sofrer por causa de Cristo, é como se a vida espiritual do crente fosse refinada, e a trajetória da igreja fosse aplainada; não há luta maior que possamos suportar, e não tem resistência que seja capaz de parar a noiva de Cristo.

"e a tua pobreza (mas tu és rico),"

      E pegando o mesmo sentido de (2 Coríntios 4), acima usado, na sequência o verso 18, que diz "não atentando nós nas coisas que se vêem, mas sim nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, enquanto as que se não vêem são eternas." O segredo pra resistir firmes nas tribulações, e ver a vida por outra perspectiva, consiste em tirar o foco das coisas momentâneas e atuais, por mais que pareçam permanentes e mais grandes que nós, porém vão passar, nada dura mais do que Deus permite; até porque, como está descrito em:
(1 Samuel: 16. 7.) "... porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração." Deus vê algo muito mais além do que podemos ver, e o que nós pensamos que ele está levando em conta, na verdade, ele está ignorando; quando a igreja de Esmirna pensava que era pobre, na verdade Deus a considerava rica e abastada espiritualmente; quando ela se achava desamparada nas lutas, na verdade, ela estava nas mãos do que anda no meio dos candeeiros.


MARCA ESPIRITUAL

Apocalipse: 2. 9
(Parte B)

"e a blasfêmia dos que dizem ser judeus, e não o são, porém são sinagoga de Satanás."

      Um dos maiores perseguidores da igreja primitiva eram os judeus, e eles traziam grande resistência aos irmãos por toda a parte, justificando o nome de "sinagoga de Satanás", onde o diabo usava os judeus para perseguir e massacrar cristãos; e Jesus vai ampliar a definição de ser "judeu", colocando em cheque a posição daqueles filhos de Abraão por genealogia, dando à entender que há uma definição muito mais além, e profunda, do que ser judeu na carne. Paulo vai mencionar em:
(Romanos: 2. 24.) "Assim pois, por vossa causa, [o nome de Deus é blasfemado entre os gentios]..."* Paulo vai relatar que alguns judeus estão querendo se impor por não entenderem a graça, e o caráter estrutural da igreja, e a sua composição, que é uma mistura de judeus e gentios, e com iguais direitos e deveres. Mas uma grande maioria de judeus, não todos, estavam perseguindo a igreja situada ali naquela cidade; e o seu discurso vai defender a posição de cada um dentro da igreja do Senhor, e explica:
(Romanos: 2. 29.) "Mas é judeu aquele que o é interiormente, [e circuncisão é a do coração, no espírito], e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus."
      Se há alguma distinção entre quem é, ou não é, servo de Deus, é a "circuncisão do coração"; a circuncisão é uma marca do povo, uma marca carnal, e que fazia de uma linhagem étnica povo de Deus. Mas a "circuncisão" da igreja, está no coração, e no espírito, muito mais profundo, e capaz de fazer desse povo mais chegado ao Pai; a igreja transcende o conceito básico de ser "circuncidado", ou povo marcado, como povo de Deus, essa marca passa a ser espiritual, fazendo de gentios também participantes da herança de salvação em Abraão.


TEOLOGIA DA PROSPERIDADE ?!

Apocalipse: 2.

10. "Não temas o que hás de padecer."

      Obviamente a bíblia não exclui do seu sentido completo o tema "prosperidade" bem como a "fuga da dor", há sim um caráter genuíno na questão do cuidado e zelo de Deus a nosso respeito, e que também faz parte de um escopo geral; no que tange a um panorama completo da bíblia, o equilíbrio dessas questões são de extrema importância, pra se ter uma leitura mais fiel da estruturas sagradas. Jesus não prometeu uma vida isenta de lutas e perseguições, e nem disse que se comprometeria em excluir totalmente a tribulação da vida da igreja, muito pelo contrário, ele disse que, sim, teríamos tribulações, mas que, apesar das dificuldades, seríamos mais que vencedores; e o apóstolo Pedro vai salientar ainda mais essa ideia, vejamos:

(1 Pedro: 3. 14) "Mas também, se padecerdes por amor da justiça, [bem-aventurados sereis]; e não temais as suas ameaças, nem vos turbeis"

"Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão..."

      Jesus, á igreja de Esmirna, escreve, e revela que haveria uma ação satânica, onde seriam perseguidos, e até seriam presos alguns deles, essa não é uma boa notícia para aquela igreja, foge totalmente de uma ideia de triunfalismo sem sofrimento algum; pelo contrário, uma leitura correta da bíblia vai defender sim a existência de problemas extremos, e até mesmo morte daqueles que são de Deus. Como está escrito, "Bem-aventurado o homem que suporta a provação; [porque, depois de aprovado, receberá a coroa da vida,] que o Senhor prometeu aos que o amam." (Tiago: 1. 12), aqui, Tiago vai dar um nó na mentalidade da "prosperidade", e "ausência de dor", como ponto de referência, e parâmetro, no qual supostamente, exime o crente de qualquer forma de sofrimento; aqui ele vai defender que, há sim um sofrimento, e tribulação que faz parte do "crescimento" dos que amam a Deus, e que essa luta é serve como promoção espiritual para o crente, ou seja, é normal para o cristão passar por lutas e dificuldades.


PARE DE SOFRER ?!

Apocalipse: 2.

10. "... para que sejais provados; [e tereis uma tribulação de dez dias]."

      O número dez nesse trecho profético empregado, nos fala de um "tempo determinado", um período de tempo onde algo aconteceria, e por ser dez dias, levando em conta que se uma tribulação durar somente dez dias, é um tempo bem reduzido, nos dando ideia de pouco tempo; como está descrito em:
(Mateus: 24. 22.) "... mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias." e em:
(Marcos: 13. 20.) "... por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias."
      Apesar de se tratar de um período específico, ou seja, "a grande tribulação", podemos perceber que é um padrão de Deus abreviar o tempo de lutas e pelejas do seu povo.

"[Sê fiel até a morte,] e dar-te-ei a coroa da vida."

      A fidelidade daquele que está sendo provado é o maior ativo à ser observado, todo o resultado final da tribulação está em cheque, dependendo da perseverança na fidelidade ao Senhor. E como está escrito aqui em:
(Tiago: 5. 11.) "Eis que chamamos bem-aventurados os que suportaram aflições. [Ouvistes da paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu]... "
     Podemos ver um exemplo bem claro da "teologia da prosperidade" mesmo nos dias de Jó, onde seus amigos o julgaram por esta naquela situação, achando que Jó teria pecado contra Deus, e como resultado, estaria passando por tribulação. Como está registrado em:
(Jó: 32. 3) "Também contra os seus três amigos se acendeu a sua ira, porque não tinham achado o que responder, [e contudo tinham condenado a Jó.]"
      A teologia da prosperidade parte do pressuposto de que Deus estaria punindo Jó, fazendo sofrer por ter desagradado à Ele; mas, é bem pelo contrário, Jó estava muito bem com Deus, e por isso foi provado, e o principal ativo, obteve aprovação, à saber, a sua fidelidade à Deus.



NUNCA VOU MORRER

Apocalipse: 2.

11. "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. O que vencer, de modo algum sofrerá o dano da segunda morte."

      Existe uma propriedade bíblica, que consiste na ausência de necessidades concretas ou abstratas, onde a pessoa fica resguardada de prejuízos múltiplos, nas mais variadas áreas de sua vida; a verdadeira prosperidade vai além dessa vida material, vai além de posses financeiras, vai além de fuga da dor momentânea, muito além do repúdio ao sofrimento. Na verdade, a prosperidade é perder tudo, e ainda continuar rico, sabendo que as riquezas, e posses, e bem estar, e facilidades quaisquer são passageiros, e que irão se findar; a nossa prosperidade é, não ter quase nada, e não sentir falta, é obter, e compartilhar, se sentir bem em qualquer lugar, momento, ou circunstância. A primeira morte só nos separa do corpo material, de tudo o que juntamos enquanto presentes aqui, logo, nada disso é eterno, então não faz sentido esperar prosperidade só nessa vida; como Jesus disse em:
(Mateus: 6. 19.) "[Não ajunteis para vós tesouros na terra;] onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; (20) "[mas ajuntai para vós tesouros no céu] ..."
      A vida da igreja não se pautar em conquistas nesta vida, sejam elas financeiras, e de "bem estar", ainda que isso possa ser muito e útil, e válido, não é que a igreja faz apologia a pobreza, não, ela só não é compatível ao apego demasiado à isso; o propósito da igreja é buscar outras coisas muito além dessas, coisas que são eternas, e não só as passageiras.     
      Ainda que possamos nos ausentar dessa existência material, estamos seguros em Cristo, e as coisas temporárias, perecíveis, e passageiras não devem nortear nossas vidas e esforços; ser igreja é não se deixar levar pelas posses, mas compartilhá-las, em prol de uma prosperidade ainda maior, na eternidade; prosperidade verdadeira consiste em não morrer de novo.


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