Capítulo 3

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" Eu devia sorrir mais, abraçar meus pais, viajar o mundo e socializar.  Nunca reclamar, só agradecer, tudo que vier eu fiz por merecer.
Fácil falar, difícil fazer"- Piloto automático, Supercombo.

Passei o dia inteiro no restaurante, limpando mesas e até ajudando na cozinha.
Sempre reparei que a maioria das pessoas anseiam em ir para casa,e que o fim do dia chegue logo. Anseiam em ir para onde ficam quentinhos e protegidos com suas famílias.
Já eu,amo ficar com Marcos e sua mulher, Kate. É meu ponto alto do dia.É aonde me sinto protegida.

Eles me tratam realmente como uma filha que eles nunca tiveram.Assim que me conheceram ,e viram minha realidade, passaram a deixar eu almoçar lá todos os dias com eles sem pagar nada,e as vezes até jantar. Eu me incomodava um pouco com isso, pois não gostava de viver nas costas de ninguém, mas tinha que deixar meu orgulho de lado muitas vezes, e aceitava toda ajuda possível.

"Você é uma menina de ouro" Kate me disse uma vez ,de pé atrás de mim, alisando meus cabelos enquanto eu estava sentada de pernas cruzadas aproveitando aquele gesto tão materno "Pena que você não tem uma mãe de verdade que lhe dê  o carinho que você merece"

Eles não faziam ideia,  mas hoje provavelmente foi a última vez que fiquei com eles. Pensando nisso, fiquei meio triste e cabisbaixa.
Acho que vou sentir falta de Kate me trazendo biscoitos toda terça no intervalo da tarde e me obrigando a levar todas as sobras para casa. Vou sentir falta de olhar para os seus cabelos já mais brancos do que pretos, e seus olhos negros como o abismo. Vou sentir falta de Marcos se preocupando comigo,e sempre me ajudando com toda boa vontade do mundo. Foi aí que percebi que quando eu deixa sse esse lugar,iria sentir muita falta deles . Infelizmente eu havia  me apegado demais àquele casal.

Mas eu devia seguir com o plano normalmente,como eu sempre quis.

Eu sempre fui uma criança muito sonhadora. Sempre quis viajar e viver várias aventuras como nos filmes, livros, e seriados da tv.E eu iria fazer isso, só não sabia por onde começar exatamente.Era o meu propósito de vida.
Sempre me perguntei qual é o propósito da vida.  Por que temos que viver desse jeito, fazendo as mesmas coisas todos os dias e ir morrendo com o passar do tempo? Qual o propósito disso? Qual é o propósito da sua vida? Eu sempre quis mais que isso.

Eu quero fazer a diferença na vida de alguém e ser notada no mundo. Eu quero viver sem me preocupar com o amanhã,  sem fazer muitos planos, sem esperar demais das coisas e das pessoas, por que a vida é assim e lá no fundo todos sabemos que só podemos contar com nós mesmos. Temos que nos amar acima de tudo antes de querer que alguém nos ame,e fazer tudo sem esperar nada de retribuição. Temos que viver o que há de melhor na vida.
É claro que é fácil eu só pensar nisso tudo e não colocar em prática nunca, pois é  o que a maioria de nós fazemos. Nos acomodamos com tudo.
Mas é para isso que vou realizar esse meu sonho.
Cansei. De.me.acomodar.
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Por mais que eu enrolasse o tempo que eu pudesse, uma hora eu voltava para casa.
Me despedi de Marcos com um abraço bem apertado e quase me desmanchei em lágrimas quando fui fazer o mesmo com Kate, que afagou meu cabelo como sempre. Não sei se ela percebeu que havia algo de estranho, mas retribuiu com força meu abraço , antes de me afastar lentamente, ainda segurando meu ombro com uma das mãos. Ela ficou me encarando por um momento e abriu um pequeno sorriso, desses tímidos que só erguem minimamente os cantos dos lábios,  e se afastou.
Saí de lá rapidamente,  peguei a bicicleta e segui rumo a minha casa.
A casa ficava logo no início da rua, e assim que virei a esquina,ouvi os gritos. Pedalando um pouco mais a frente vi que vinham de dentro da minha casa.
Não precisei pegar a chave no meu bolso para abrir a porta da frente,pois ela já estava escancarada.
Deixei a bicicleta de qualquer jeito na calçada e corri em direção aos gritos que agora estava claro que eram de Mônica. Passei direto pela sala que estava toda revirada, com almofada no chão, e parei na entrada da minúscula cozinha.

Mônica estava jogada no chão com Jack por cima dela. Ele estava tentando subir seu vestido enquanto ela se debatia por baixo dele, vermelha e suada. Seu cabelo loiro todo bagunçado e com nós. Parecia ter levado uns tapas em alguns lugares do corpo, que já começavam a ficar roxo, e sua outra mão agarrava  seu corpo magro ,que não aguentava lutar contra ele.
Jack devia ter uns trinta anos,com o cabelo raspado na gilete,e a pele clara. Ele tinha uma cicatriz que pegava toda a maçã do rosto direita, que parecia ter sido causada por algo bem afiado.

-Você acha mesmo que as coisas funcionam assim Mônica?! - Ele enfiava a mão debaixo de seu vestido e ela berrava cada vez mais.
Nenhum dos dois pareciam ter percebido minha presença ali ainda, e eu estava paralisada sem saber o que devia fazer.

- Você está me devendo uma grana preta de pó a meses, e ainda fala que vai sair do club? Sua cadela desgraçada! Você não vai me deixar na mão!

-Saí de cima de mim ,desgraçado!

Fiquei por mais um tempo parada, observando aquela cena, até que coloquei meus olhos em uma arma que estava em sua cintura.

Foi ai que agi rápido.

1 mês para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora