— Waka-sama[1], bom dia. — uma voz suave o despertou de seu sono e Kasumi abriu os olhos devagar, encarando o rosto pálido de uma mulher ajoelhada ao seu lado.
Ele sentou-se rapidamente, pondo a mão no peito acelerado e olhou em volta.
Não estava em seu quarto, vestia roupas estranhas... Tinha sido sequestrado? E o pior, não tinha dinheiro para pagar o resgate, na melhor das hipóteses ele seria vendido como escravo para algum-
— Waka-sama? — a mulher tinha a preocupação estampada em sua face. — Sente-se bem?
Por que ela estava falando em keigo?[2]
— A-Ah, estou bem... — engoliu em seco, ansiosamente vasculhando todo o cômodo com o olhar.
— Eu trouxe seu café da manhã, já que ainda deve estar cansado da viagem. — ela se virou e pegou uma bandeja que estava cuidadosamente colocada no chão ao seu lado.A mulher a sua frente tinha feições delicadas e pele pálida como a neve, cabelos negros presos em um coque bem arrumado e vestia um kimono simples, porém arrumado.
Sua figura era um tanto acolhedora e calorosa em meio a toda sua delicadeza.Viagem? Kasumi franziu a testa e olhou para a bandeja que foi colocada com delicadeza em seu colo. Ele ainda estava um pouco grogue e seu corpo dolorido, nunca estava exatamente bem quando acordava. E parecia estar bem cedo, já que os raios de sol ainda não ousavam irromper pela janela.
— Trouxe sopa de miso, pães cozidos ao vapor e arroz. Se quiser mais alguma coisa, posso preparar agora mesmo.
— Não, não. Obrigado. — ele disse, coçando a cabeça com preocupação e notou o tamanho de seus cabelos. Deviam estar na altura da cintura.
— Então por favor, me dê licença. — ela se levantou com a delicadeza de um felino e curvou-se para Kasumi antes de partir.Ele tomou um pouco da sopa e pensou consigo mesmo, o que diabos poderia estar acontecendo? Era um sequestro planejado por alguém da máfia? Mas desde quando ele tinha alguma ligação com um mafioso?
Com a sorte que Kasumi tinha na vida, ele não duvidava mais de nada.Enquanto comia, ele examinava o quarto com curiosidade. Era um tanto grande e minimalista, sem muitos objetos e uma grande janela era coberta por uma cortina cor de creme. Suas costas apresentavam uma leve dor por dormir no futon no chão quando se estava acostumado a dormir em uma cama macia.
Ele deslizou os dedos pelos seus cabelos loiros mais uma vez. Estavam enormes e macios, mas ele nunca gostara daquela cor que lhe lembrava palha. Ainda segurando o cabelo com curiosidade, ele continuou comendo a comida que estava maravilhosa.
Seus olhos pousaram em uma pilha de roupas cuidadosamente dobradas ao seu lado. Naturalmente curioso, ele segurou um pãozinho com a mão esquerda e usou a direita para desdobrar as roupas sem nenhum cuidado. Era um kimono feito de algum tecido caro na cor bordô com leves bordados na barra. Enfiando na boca o último pedaço de pão, ele mastigava enquanto inspecionava de perto os bordados do kimono e podia saber que era algo refinado. Pra quê isso?
Não se lembrava de viagem alguma, mas estava tão cansado que se alguém lhe dissesse que participou de uma luta, ele acreditaria facilmente. Uma brisa fria rodopiou pelo quarto e Kasumi largou o kimono — agora desdobrado — sem o mínimo de cuidado no chão e bebeu um pouco do chá verde antes que começasse a esfriar. Pegou seu par de hashi e comeu um pouco do arroz que ainda saia fumaça e seu estômago agradeceu por dar-lhe mais comida.
Kasumi sorriu. Ultimamente estava comendo tão mal que achava hilário o fato de ainda estar vivo. Seus olhos inspecionaram mais vezes o enorme cômodo, sem entender o porquê de estar ali e como havia chegado lá. Até então, ninguém além daquela gentil mulher foi vê-lo ou tentou força-lo a fazer algo que não queria e até machuca-lo.
A comida também não parecia estar envenenada; mas se estava, Kasumi só pensou na possibilidade quando o último gole de chá descia por sua garganta.
Um leve formigamento se espalhou por seu corpo, era ansiedade. Kasumi nunca foi bom em analisar situações e resolver problemas da forma mais lógica e eficiente, mas também não era nenhum burro e sabia muito bem a hora de correr.Colocando a última porção de arroz na boca, ele mastigou devagar enquanto pensava em todo tipo de evento esquisito que acontecia ao redor do mundo e como as pessoas passavam por situações inusitadas.
De alguma forma, todo aquele cenário lhe era um tanto familiar. Kasumi conhecia aquele lugar, mas nunca havia estado ali.
De repente, o arroz que parecia tão saboroso antes ganhou aspecto de uma cola asquerosa em sua boca, tornando-se impossível de mastigar.
Sentiu o estômago se contrair furiosamente enquanto negava suas suspeitas. Coincidências aconteciam o tempo todo, e além disso tudo que ele criou era baseado em-Puxando os lençóis para o lado e consequentemente virando a bandeja em cima do futon, Kasumi saiu correndo do quarto com suas roupas de dormir, seus pés descalços faziam barulho no piso de madeira e seus cabelos balançavam naquele ritmo. Assim que avistou um homem no corredor, segurou seu braço e imediatamente o homem virou-se assustado.
— W-Waka-sama...? — o homem já de idade avançada vestia roupas simples e tinha uma expressão cansada, porém gentil. — O que aconteceu?
Ignorando as perguntas feitas pelo homem, Kasumi tomou fôlego antes de fazer a sua própria.
— Em que ano estamos? — perguntou afobado.
— Edo, ano 20. — respondeu o mais velho com uma certa confusão pintando suas feições.Ele soltou o homem e se afastou alguns passos, olhando em volta pela milésima vez. Seu olhar voltou ao senhor idoso, suas mãos tremeram quando ele levantou o dedo indicador em sua direção — era uma enorme falta de educação, mas não pôde evitar.
— Seu nome é Shibahara Shinji-san, não é?
— Sim. — o homem se curvou com um leve sorriso. — Estou feliz que se lembra de mim.Kasumi perdeu o foco naquele instante e ele sentiu uma enorme vertigem.
Shibahara Shinji era um personagem criado por ele em seu jogo. Quando ouviu que estavam em Edo ano 20, suas suspeitas foram confirmadas mas ele ainda se recusava a acreditar.Quando desejou se transportar para dentro de seu jogo, ele estava só brincando! Era brincadeira! Por que algo tão improvável tinha que acontecer com Kasumi? Quando ele ficasse milionário e resolvesse contar a história por trás da criação do jogo, ninguém nunca ia acreditar e acharia que ele estava louco.
Era melhor que esse jogo vendesse e lhe rendesse milhões. Mas espera, ele precisava voltar ao mundo real ou nunca poderia assinar o contrato com a empresa.
Até o couro cabeludo de Kasumi se arrepiou com o calafrio que percorreu seu corpo; então aquele era o real pânico que as pessoas tanto falavam?____________
[1] 若様 waka-sama: jovem mestre. Jeito respeitoso de chamar o filho de alguém importante. Então preferi manter romanizado para se aproximar o máximo do original.
[2] 敬語 keigo: linguagem respeitosa
Oi pessoal, minha primeira nota como tradutora dessa novel. Espero que vocês estejam gostando porque o começo é lento mas só fica interessante a partir daqui. Até semana que vem <3
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一日三秋 || One day, three autumns {pt-br}
Ficção Histórica一日三秋 || One day, three autumns • Um dia, três outonos. Títulos alternativos: Impatiently waiting, Esperando impacientemente. Autora: 笹木優気 - Sasaki Yuuki "Quando foi que encontrei seu verdadeiro eu?" Faltando pouco para o prazo final da entrega de se...