4. brincar de morrer

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✦✦✦ D O L L H O U S E ✦✦✦

capítulo quatro

BRINCAR DE MORRER

—Você é louca, Yeri! — Jungook exclamou, enquanto virava as costas.

Quando a garota foi até a casa dele em busca de consolo, outra vez, esperava um abraço, um chá de camomila e um "vai passar, fique tranquila". Não aquela reação.

— Eu te juro, antes não acreditava mas agora tenho certeza, Kookie! A Joy matou a Wendy e quem sabe se não fez o mesmo com o meu pai.

O garoto dera algumas voltas em círculos pelo quarto, no mesmo lugar, soltando um riso em desdém, ainda surpreso com o que acabara de ouvir.

— Katrina não era louca, era vítima dela! — a moça continuou — Posso provar para você. É tudo real!

Mas Jungkook não a escutava. Cada palavra que saía de sua boca parecia uma loucura, muito difícil de engolir. Possuíam um tom mentiroso aos seus ouvidos. Tentava, tentava com todas as suas forças acreditar nela, porém, tudo soava fantasioso. Joy era uma boneca de plástico e o que aconteceu com Wendy foi um acidente. Quanto ao seu pai, ele mesmo saiu de casa e não queria mais voltar, e não era como se ele já não tivesse feito algo parecido antes. Apenas mais um clichê de abandono, sinônimo de uma covardia.

Assim dizia o seu interior.

— Você sempre quis que eu superasse meu medo de bonecas, e agora quer me fazer acreditar que uma delas é um tipo de boneca assassina. Virar o jogo é tão fácil assim?

Negou-se, balançou a cabeça em negação várias vezes, cerrou os punhos e queria gritar, por não aceitar que aquilo estava acontecendo. Logo ela.

— O que aconteceu com a Yeri que eu tanto amava?

A menina abaixou a cabeça, tentando conter as lágrimas. Era difícil manter a postura de valentia quando se era atormentada por uma grave doença, a depressão. Uma mínima palavra, para si, poderia ser um gatilho. Como segurar as lágrimas se seu coração doía tanto?

Jungkook ameaçara fechar a porta, mas foi impedido quando a menina colocara as mãos rapidamente na porta, então ela o agarrou pelos braços com uma das mãos, usando a outra para acariciar-lhe o rosto. Aqueles olhos arregalados, dominados pelo medo, tão brilhantes por causa das lágrimas que ameaçavam cair.

— Ela ainda está aqui. — a garota respondeu — E eu ainda amo você.

Fora automática a sua reação de ficar na ponta dos pés, por ser mais baixa, e encostar os lábios aos de Jungkook, que logo viu-se forçado a corresponder. Outrossim, não era como se ele não quisesse, pelo contrário, era o que ele mais queria desde que a reencontrou. Um toque delicado, um beijo inocente entre dois jovens que se amavam verdadeiramente.

O Jeon ficou estático, apertava os próprios bolsos da calça de pijama para resistir à tentação de envolver a cintura delicada da garota, de acariciar as ondas do seu cabelo, que ele tanto amava. Já bastava ter as mãos dela acariciando seu rosto, e de sentir o sabor dos seus lábios como se a provasse pela primeira vez.

Uma gota de lágrima escorreu dos olhos do garoto. Embora quisesse continuar, uma parte de si dizia para parar. Ele não aguentaria mais uma pessoa com medo de bonecas de plástico. Então, empurrou Yeri apenas o suficiente para afastá-la, sem nenhuma força. Ele bateu a porta do seu quarto, antes que mudasse de ideia.

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"Joy só a responderá sua pergunta para um desafio a partir da meia-noite. É quando ela mais gosta de brincar", Kim Yeri relembrou das palavras da Sra. Jeon.

Foi torturante voltar para casa com um falso sorriso no rosto, fingindo que por dentro não estava despedaçada. Sua mãe estava em estado de choque, em luto profundo. Ela chorava até vomitar, não era uma cena bonita de se ver. Yeri juntou forças enquanto subia as escadas com a boneca de pano em mãos, a que a Sra. Jeon a deu de presente para protegê-la da Joy.

Ao menos, com a boneca Seulgi, não se sentia tão só.

Seu quarto já não tinha mais o cheiro doce de amêndoas de sempre. Sentia-se apenas o cheiro metálico e seco de sangue... o sangue de Wendy.

E ver aquelas bonecas de plásticos descansando em suas prateleiras, sorrindo como se estivessem tirando sarro de si, a deixava irritada. Mas precisou sorrir, para disfarçar seus reais sentimentos. Também era uma forma de autocontrole.

Cuidadosamente pôs a boneca de pano sobre sua cama e aproximou-se da casa de bonecas. Yeri pisava descalça no chão gelado e escorregadio, desviando das manchas de sangue espalhada pelo chão. Era horrível deixar suas próprias pegadas ali. A luz da lua, refletida pela janela, atingia justamente aqueles pontos, como se fosse propositalmente para que ela mirasse cada marca.

Não podia acender a lâmpada. Jamais.

Após respirar fundo e com as mãos trêmulas, a ruiva finalmente abriu a casa de bonecas, e encontrou Joy sentada em um dos sofás minúsculos da réplica. Ela então a pegou, e a criatura começou a conversar:

Não fique triste, mamãe. Joy está aqui para brincar com você.

— Eu não estou. Olhe meu sorriso. — mais uma vez forcou um largo sorriso — Quero brincar com você, Joy. O que acha?

Joy ama brincar. Do que vamos brincar, mamãe?

— Caça ao tesouro! — Yeri sugeriu, empolgada — Eu preciso encontrar o meu pai e a chave da casa de bonecas. Se eu ganhar, você irá me devolver o papai e eu destruirei a casa de bonecas.

A boneca ficara em silêncio por alguns segundos, o que deixou a menina um pouco tensa. Felizmente, não tardou em responder:

Eu gosto dessa brincadeira! Qual será o prêmio se Joy ganhar?

— Você pode matar a minha mãe e as bonecas de pano, e poderemos ser uma família. — foi difícil dizer aquilo, mas era preciso — Temos um trato?

Joy ama brincar com você, mamãe. Você ficaria tão linda naquela prateleira. Afaste-se das bonecas de pano mentirosas.

A brincadeira estava só começando.

Dollhouse | jungri ✦ LIVRO UMOnde histórias criam vida. Descubra agora