Capítulo 1: A Carta

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Já faz algumas semanas que a neve esbranquiçada e sem emoção cai como uma chuva de cinzas incessantes, os relógios batem meia noite. James sente a brisa inclemente passar pelas pequenas frestas de seu quarto enrugando sua pele no processo, um frio desalento o suficiente para fazê-lo não esquecer do acidente há cinco anos atrás. Ele levanta sua mão e olha para o recipiente de pílulas que fazem a mágica acontecer, fazem com que as memórias ruins fiquem longe por um tempo.

Seus pés desnudos sentem o calor negativo e impiedoso ser transferido para todo seu corpo com velocidade total. James traga o ar ao seu redor e o ar quente de seus lábios é expelido e a vida e calor de seu sopro se extingue em tão pouco tempo, que emula a mesma fúria de seus vizinhos da frente que discutem como dois cães raivosos querendo decidir qual dos dois entraria primeiro em casa e qual ficaria mais tempo no lado de fora.

"Todo dia eu me pergunto, por que você Josh, poderia ter sido eu" James olha para as pílulas com inscrição "Clonazepam". Só deus sabe a imensa ajuda que elas proporcionam a seu sono, também, mantém os sonhos ruins longe. James tira uma das pílulas alaranjadas do recipiente e engole-a com olhos fechados, na esperança de não ter outro sonho ruim.

James sai do banheiro e senta-se em sua cama, há uma luz por debaixo de sua porta que produz sombras fantasmagóricas, lá fora pode-se ouvir ruídos fortes que fazem a madeira gritar. Suas formas irregulares desaparecem e reaparecem maquinalmente como engrenagens de um relógio.

Entretanto, uma dessas sombras desiste de mostrar seus movimentos irreal e para em frente à sua porta. Não demorou muito para o som de três batidas chegarem, a primeira foi tão forte que foi como se um dos fantasmas de seu passado voltassem para cobra-lo de algum tipo de vingança, a segunda e a terceira foram tão suaves que os ouvidos de James mal conseguiram captar o som.

- Sr Walker, tem entrega para o senhor.

James abre a porta e se revela um homem com trajes padrões dos hotéis da região, camiseta branca com uma gravata borboleta, colete vermelho e calças pretas com sapatos lustrosos. Em sua mão jaz um pacote pequeno negro e mal empacotado como se tivesse sido transportado de muito longe pelas mãos de alguém nada cuidadoso.

- Chegou para o senhor essa manhã.

- Quem o mandou? - James olha para o homem.

- Aqui diz. Joshua Walker, Sr.

James arregala seus olhos de modo que parece ter visto uma aparição, estremece como se estivesse no lado de fora, nu perante a impiedosa neve, "Joshua?" Sua mão imita a tremedeira de seu torso.

- Está tudo bem Sr? - O homem entrega o pacote nas mãos de James.

- Obrigado - James pega o pacote e fecha a porta.

Após a luz da sala ser extinguida pela porta, senta-se na cama com a respiração tão ofegante como se estivesse tendo o pior ataque de ansiedade de todos, mas não era isso, a certeza do efeito do remédio é quase cem porcento, não era ansiedade, era algo diferente.

Suas mãos deslizam pelo pacote e a textura de tecido do nó borboleta completamente desequilibrado para a direita, James desfaz o nó aos poucos com tremenda delicadeza, demonstrando completamente seu medo irracional de destruir o que tinha dentro antes de saber o que é, mesmo sendo uma possibilidade ínfima, ele não quer ver ser concretizado.

Ao abrir o pacote, um envelope cai, o papel é enrugado como pele humana envelhecida e possui um cheiro de mofo forte o suficiente para derrubar uma pessoa sem resiliência. James tapa seu nariz com uma de suas mãos e segura o envelope com a outra, seus olhos analisam o envelope peculiar, mas não consegue discernir entre o papel crispado e o que poderiam ser letras presentes no papel.

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