Capítulo 2: Westburry Hill

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Não houve previsão de quando a palpitação em seu peito diminuiu, mas houve previsão de quando ele chegou na cidade. Em sua percepção foi como se tivessem passado horas, mas de acordo com o relógio em seu carro, passou-se apenas alguns minutos. Se já não bastasse a neve cobrir quase que completamente a estrada, teve esse encontro mais do que estranho.

— Mas o que era aquela coisa? — Diz James enquanto suas mãos tremem segurando o volante — Parecia humano, porém...

James para em um bloqueio, dois policiais com jaquetas grandes de coloração preta e azul marinho estão parados de frente a uma ponte, um deles se aproxima e em pouco tempo bate no vidro.

— Tudo bem aí amigo? — O policial se aproxima e aponta para a vidraça da frente — Parece que bateu em alguma coisa.

— Tudo bem policial, eu acabei batendo em uma árvore lá atrás — James treme.

— Por que está tremendo? — Pergunta o policial.

— Está muito frio.

— Posso ver seus documentos por favor?

— Claro —James pega seus documentos no porta luvas e os entrega para o policial.

James Walker — O policial verifica os documentos — Tudo bem James, houve alguns casos de polícia aqui perto, então estamos verificando as redondezas, tome cuidado em Westbury.

Seguindo pela ponte, chega a pequena cidadezinha, corvos voam em círculos e tapam algumas partes do céu enquanto utilizam seu grito de guerra e ostentam seus números grandiosos. As árvores aos arredores são quase idênticas as que já passou, exceto uma variação macabra nos longos galhos tortos, pálidos e quebrados como ossos. Mesmo estando dentro do carro, o ar é denso e pesado, como estar dentro do mar é difícil respirar ou até mesmo impossível, a cidade a frente possui poucas variações de cores, variam desde o laranja acinzentado dos tijolos quase decompostos pela ação do tempo até o cinza do cimento com rachaduras visíveis a distância.

James estaciona seu carro em um posto de gasolina, a neve continua perversa como antes, pouco ligando para quem quer que queira ser tolo o suficiente para descobrir sua fúria. Algo que aparentemente ele não liga no momento, até esse ponto, só vivenciou experiências bizarras, seu irmão desaparecido a cinco anos reaparece e manda para ele uma carta lhe mostrando o caminho a essa cidade bizarra e esquecida.

Do bolso de sua jaqueta pega um cigarro e acende-o com seu isqueiro, seus nervos param de pulsar tão radiantemente e adotam uma pulsação firme e estável. A fumaça sai por entre seus dentes, um novo sorriso brota em seu rosto, tudo para agradecer por ter pego sua jaqueta, por não ter se tornado mais uma vítima do frio sem misericórdia.

Se aproxima da lancheria do posto de gasolina e ao abrir a porta, o vento interior infecta suas narinas, ali só jaz o cheiro de madeira podre e putrefata como se tivesse sido exposta a chuva por alguns dias, o cheiro de cerveja e o familiar aroma de carne mal passada causa uma química estranha em seu estomago que se contorce com um desprazer macabro.

Pode ser sua impressão, mas todos param para olhá-lo, James ouve uma gota de suor cair de sua testa e uma dificuldade de puxar o ar para suas narinas, especialmente quando devolve a jogada de olhares de volta para eles, os olhos dessas pessoas são impenetráveis e fixos a ele como se James fosse seu pior inimigo a anos.

Movendo-se ao bar, percebe que a cabeça das pessoas se move junto com ele, James inspira profundamente o ar grotesco e expira-o sem devaneios, seus passos fazem a madeira sofrer com seu peso e cada vez mais o cheiro de mofo se mistura a fragrância anterior. No bar há uma mulher com rugas feito papel velho e amassado, ostenta de um sorriso com dentes de madeira mofada como as do chão que pisa, seu avental não esconde sua forma redonda e irregular.

Westbury HillOnde histórias criam vida. Descubra agora