[I] Os gêmeos

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-Amy?! -Oh, Amy! - Jake chamava a amiga, que estava viajando em seus pensamentos. - AMY!
-Ahn?! - ela o olhou com uma expressão de quem estava com a cabeça nas nuvens.
-Os documentos, Amy!
-AH... Toma aqui. - disse voltando para o mundo real, pegando alguns papéis que estavam em sua pasta e entregando-os para o amigo.
-Tu tá bem? Parece até que não dormiu.
-Ah...to sim. Só pensando em algumas coisas.
-Como?!
-Hm...por exemplo, na vontade que eu estou de arranjar uma cama e dormir...ou sei lá, minha vontade constante por sorvete. - ela olhou para o teto.
-Você precisa se animar um pouco, vem cá. - Ele levantou e estendeu a mão para a morena.
-Onde a gente vai? - ela segurou a mão do Jake firmemente. Ele a puxou, fazendo com que a mesma levantasse em um pulo.
-Tomar um sorvete. Tu não disse que tava com vontade?! - ele perguntou, fazendo a garota sorrir.
-Tá, mas só se você pagar para mim. - disse fazendo uma cara fofa.
-É, esquece então. - Amy riu.
-Ta, eu pago. Só me leva pra tomar o bendito sorvete logo, Jake.
-Seu desejo é uma ordem. - ele disse puxando-a até o elevador.

Jake e Amy eram muito amigos. Se conheceram na faculdade, muito embora não fossem da mesma sala. Se tornaram detetives juntos, sempre foram parceiros, simplesmente inseparáveis (e imbatíveis também). Eles são, sem sombra de dúvidas, os melhores detetives da delegacia.

Eles chegaram na sorveteria e o garçom automaticamente se aproximou. Jake pediu um Sunday de chocolate com milhões e milhões de acompanhamentos por cima. Já Amy pediu um Milk-shake de morango, com calda e chantilly.

-Achei que tu queria sorvete.
-Ah, sei lá. Minha vontade passou, agora eu quero mesmo é um milkshake. - ela riu.
-Eu fui virar amigo logo dessa maluca?! Sério?! - falou para si mesmo.
-Você fala sozinho e eu que sou a maluca, é?! A, me poupe!

Eles conversaram horrores, como sempre. Depois disso Jake deixou Amy em casa, já que a conversa tinha se prolongado tanto que já estava de noite.

Amy entrou em casa, tirou os sapatos e foi tomar um banho. Vestiu um pijama confortável e se jogou no sofá para assistir alguma coisa, porém, quando colocou o filme para rodar, a campainha tocou.

-Mas que porr...-ela disse baixinho enquanto colocava um roupão por cima do pijama - JÁ VAI!

Abriu a porta e deu de cara com uma velha senhora, aparentava ter uns 80 anos. Seus cabelos eram grisalhos e curtos, possuía rugas por toda cara e era tão baixinha que Amy precisou abaixar a cabeça para enxerga-la.

-Erh...boa noite - a mulher disse meio sem jeito - Você é a Amelia Santiago?
-Sou sim... mas me chame de Amy, por favor. E você, é?!... - fez uma pausa, esperando uma resposta.
-Ah, meu nome é Jessica...Então, Amy. Precisamos conversar. Não tenho tempo para enrolar.
-Ta meio tarde, mas okay, se você diz que é urgente. - ela deu espaço para a mulher entrar. De trás dela saiu uma menininha, que estava carinhosamente segurando a mão de um outro garotinho. Deviam estar se escondendo, pois Amy não tinha notado a presença deles até a tal da Jessica sair andando.
- Quem são...eles?
-Ah, é sobre isso que eu vim falar com você. - A menininha tentava desesperadamente se esconder por trás da imensa saia da velhinha.
-Okay... - Disse estranhando um pouco a situação.
-Certo...Bem. Essa aqui é Emma...Emma Santiago. E aquele ali é o Jack. Eles são filhos de uma prima sua. Bem...eram, no caso. Melissa, mãe biológica da Emma e do Jack, sofreu um terrível acidente de carro. Ela era meio revoltada, não tinha família. Pelo menos não era próxima...e sabe, criava os gêmeos sozinha. Nós já tentamos falar com grande parte dos parentes dela, mas nenhum aceitou ficar com eles. Você é meio que nossa última opção. Seria mais fácil coloca-los em um orfanato, que é o que iremos fazer caso não aceite a proposta.
-Pro...proposta?!
-Isso. Você pode assumir a guarda da Emma e do Jack ou deixa-los aos cuidados do estado, você decide. - ela disse em um tom um tanto frio, como se realmente não ligasse para o destino das criancinhas.

Amy tremia. Olhou para a garotinha (que agora estava no canto da sala, encolhida ao lado da porta) e sentiu um peso no coração. Ela não sabia o que fazer. Bem, mais ou menos...sabia que não podia deixar aquelas coisinhas lindas irem para um orfanato, ou quem sabe coisa pior. Querendo ou não, os pequenos tinham o sangue Santiago correndo pelas veias.

-Okay...eu fico com eles.
-Ótimo! - a velha sorriu, satisfeita. Tirou alguns papeis da bolsa e colocou tudo em cima da mesa - Assine nos locais que tem um x. Uma advogada vai vir aqui semana que vem, lidar com tudo certinho e te explicar o processo.

Amy leu bem antes de assinar, respirou fundo e pegou sua caneta. Foi assinando exatamente nos locais que a senhora mandou, depois suspirou. "Pronto, feito. Agora não tem mais como voltar atrás" , pensou.

Jessica se retirou do apartamento alguns minutos depois, deixando a Amy sozinha com a criança que ela mal conhecia.

-Uhm...Oi. - A mais velha disse, com um sorriso simpático. - Meu nome é Amy, vou cuidar de vocês.
-Oi, meu nome é Emma, mas isso você já sabe...A tia Jessica contou. Bem, esse aqui é o Jack. Ele não é muito de falar, sabe?! Fica mais quietinho na dele... - a garotinha sorria.
-Diferente de você, ne. - Jack disse, fazendo Amy rir.
-Ah, mas é claro! Falar é muito bom, sinceramente não sei qual é o seu problema, jackzinho.
-Eu sou mais velho, você que é a Emmazinha daqui! - ela cruzou os braços.
-Ah, então quer dizer que ele é mais velho?! - perguntou Amy.
-Três minutos e meio. - confirmou o garotinho.
-Você pode até ser "mais velho", mas todo mundo sabe que eu sou a mais lógica e inteligente daqui. - Disse a irmã. Amy ria com a conversa dos dois.
-Bem...eu não sei vocês, mas eu estou faminta!
-Uh, eu também. Foi uma viajem loooonga... acho que minha barriga ta até roncando.
-Bem, nós temos três opções. 1 - Amy levantou um dos dedos - Eu posso cozinhar algo. Mas já adianto que minha comida não é la as mil maravilhas. Dois...- levantou outro dedo - a gente pode pedir alguma comida pelo delivery mesmo, eles entregam na porta. E três - foi a vez do terceiro dedo - A gente pode sair para comer, aproveitar e comprar algumas coisas para vocês, já que pelo visto não vão trazer suas roupas, nem nada.
-É, a terceira. To precisando de uns vestidinhos, esse aqui ta a-c-a-b-a-d-o - disse soletrando a última palavra enquanto dava um giro.
-Ótimo - sorriu. - Vamos então. Vou só trocar de roupa.

Amy foi até seu quarto e colocou uma calça com uma blusa. Como a noite estava fria, colocou um casaco por cima. Escovou ou dentes, pegou as chaves do carro e enfiou-as na bolsa. Ela pegou Emma no colo, já que ela é menor e mais leve, e segurou na mão do Jack. Foram até o carro, onde Amy arrumou-os no banco de trás, colocando seus cintos.

-Prontos ou não aqui vamos nós.

Ela passava uma firmeza, uma confiança...mas na verdade não sabia a mínima ideia do que estava fazendo. Toda hora pensava em um "ah, qual é. Você nem conhecia ela, capaz de nem ser sua prima de verdade" ou então um "Amy Santiago, querida...onde você ta se metendo?!". A verdade é que ela estava se segurando muito forte para não surtar.

Baby Steps [Peraltiago]Onde histórias criam vida. Descubra agora