Capítulo 1 - A Caminho da Forja Anã

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Saltando rapidamente de galho em galho, ao se aproximar das bordas da floresta, o som gutural das criaturas ficava cada vez mais alto. Käliné! Orks à beira da Floresta Azul? Quanta petulância! Além dos gritos, o fedor pútrido também aumentava. Estariam caçando algum animal? Aqui, tão distante dos pântanos do Sul?

Então o elfo, de pé nos galhos de uma grande árvore, com os escuros cabelos compridos balançando ao vento, divisou no descampado ao longe uma figura atarracada correndo em direção à floresta. Desesperado, um anão de barbas e cabelos brancos, desarmado e com a roupa suja e esfarrapada, fugia de um pequeno grupo de orks.

Para outros de sua raça, encontrar orks tão perto do reino da Floresta Azul, região Norte do continente de Landeral, poderia ter sido uma grande surpresa. Melónmë, entretanto, já havia ouvido sobre criaturas horrendas estarem perambulando por lugares não tão distantes, pois o elfo possuía um espírito aventureiro, indo muito além de apenas explorar as terras que margeavam o reino da Floresta Azul e aproveitando todo e qualquer novo lugar em que estivesse para ampliar seus conhecimentos.

Melónmë vivia sozinho em uma casa acima das árvores, em uma região um tanto afastada das principais casas do reino. Tinha poucos amigos e não recebia muitas visitas, sempre ocupado em ler e aprender. O que aprendia, guardava para si e aplicava, na prática, dentro de sua casa ou em locais que não perturbassem a ordem no reino, pois sair da Floresta Azul era considerado descumprimento do Tratado.

Mesmo sem a aprovação — e muitas vezes sem o conhecimento — dos demais, já havia visitado montanhas, mares, regiões nevadas, desertos e florestas. Ele viajava, passava alguns anos em determinada cidade, aldeia ou tribo, aprendia o máximo que podia e somente então voltava para sua casa na Floresta Azul.

O elfo já havia acumulado muito conhecimento relacionado às plantas, à terra e à disposição das estrelas, cada qual com um objetivo muito peculiar, seja para restaurar a saúde, a ordem ou consertar situações indesejadas. Porém, nos últimos tempos, Melónmë verificara uma perturbação no correr natural da vida em todos os locais por onde passava. Juntando informações em bibliotecas, junto de sacerdotes ou do povo humano, ele suspeitava que o Curso da Existência estava chegando em uma curva ascendente, sem volta e cada vez mais rápida. Chegou a conversar com os druidas da floresta, mas estes deram pouca atenção às suas palavras, principalmente por se tratar de observações vindas de locais fora da Floresta Azul.

Percebendo uma estagnação em sua vida, ele entendeu que estava na hora de mais uma expedição. Existia um local que ele não havia visitado e tinha muito interesse, o último reino ao sul de Landeral que era habitável: Azon, de clima quente e planícies férteis, com seu povo guardião da fronteira sul, herdeiro dos tempos antigos. Assim, reunira porções de alimento, água e outros itens como pós, ervas e líquidos e havia saído disposto a mais uma viagem, quando fora interpelado pela guarda élfica há algumas horas:

— Melónmë. Não envergonhe a sua raça mais uma vez. Cumpra o Tratado.

Vis Érändin, não precisava ter se dado ao trabalho de vir até mim. Respeito o Tratado, mas o Curso da Existência é o que é. Eu poderia muito bem ter conseguido sair sem ser notado... Käliné!

— Desta vez, antes de sair, teremos de lembrá-lo da Lei — respondeu Vis Érändin, o comandante da guarda élfica, ao desenrolar um pergaminho com o brasão da flecha cruzando o sol, indicando se tratar de um documento real. — Quando eu terminar, poderá continuar seu percurso, se ainda assim o desejar.

A proclamação do documento no idioma élfico levou quase meia hora, para só depois Melónmë ter conseguido seguir viagem. Se os guardas não tivessem me parado lá atrás, provavelmente eu já estaria longe da floresta e não teria me deparado com este anão fugindo de orks. Realmente, o Curso da Existência é o que é.

Antúrië - A Espada Élfica do Pôr do Sol [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora