004. Urnēbagon

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Sansa Stark, o Lobo Vermelho.
Jon Snow, o Lobo Branco.

Tudo era cinzas, neve e o ultimato silêncio. Sem as bestas aos céus, sem seus cantos de fogo a bailar os ouvidos de quem se prepondera próximo de seus grandes pés, sem a mulher que as ordenava, pisando ao chão ou agarrando-lhe as nucas, que cospissem o fogo real além de suas colossais gargantas. Sem genocídio, sem cabelos prateados entreabrindo lábios de surpresa, medo ou admiração. Westeros condecorara e então matara a Rainha Dragão.

O Norte nunca fora tão si mesmo, e Sansa Stark rubricava logo abaixo. Winterfell carregava um banho de sangue abaixo de suas fortificações e entre as frestas de suas paredes, mas o líquido serviria para algo ao final de tudo. Arya estava distante, certamente, mas colaborara independentemente; Petyr Baelish, outro que jorrara a si mesmo sob o solo sagrado de Winterfell, tentara corroborar ao desencanto de Sansa e sua irmã. Perecera tão horrivelmente quanto a Rainha. Homens e mulheres, quando expostos à morte, eram apenas homens e mulheres 一 sem artimanhas, sem dragões e sem esperança; e, ao ápice, sem vida.

Não fora fácil vê-lo, às espreitas e no silêncio, após o regicídio que cometeu. Jon Snow 一 Aegon Targaryen VI, do sangue de Rhaegar Targaryen e da Antiga Valíria 一 amava aquela mulher. Amava-a mais que tanto, que Sansa ponderou o quão temível fora cumprir o feito que agora o retirava de Westeros. Não prendeu-se a isso, no entanto; as honrarias, os nobres feitos, esses eram de falecido Ned Stark e que os Deuses o tivessem. Sansa era ferro e aço, e o Norte teria uma liderança coesa e forte, como bem era merecido. Vê-lo, no entanto, era ácido e corrosivo. Inerente, porque Jon era mais Stark que um dia sequer seria Targaryen, e ardido porque seus olhos eram fundos mórbidos, entristecidos e lúcidos.

一 Jon. 一 murmurou ela, a mão aplainada em uma mesa de madeira. Havia antes ali algo retangular, por causa do formato da poeira, e Sansa sabia bem o que era. Antigo quadro de simbologia Targaryen que costumava estar em uma das ambientações da fortaleza. Seu descarte foi tão veloz quanto sua vinda. Tudo que pudesse fazer alusão a um dragão era imediatamente destruído. 一 Diga-me algo, qualquer que seja. Conte-me sobre o que sente.

A barba do exilado estava maior do que quando ainda amava Daenerys Targaryen, e ele emagrecera desde então. As pontas dos dedos pareciam feridas e as unhas, muito negras; mas Jon não emitiu chiado de dor ao tomar uma pena nas mãos e analisar o ordenamento de pelos brancos. Devolveu-a ao lugar, sorrindo debilmente, e Sansa sentia-se imersa em uma síntese de dor. Cada dobradura de articulação era um tilintar de agouro, e os olhos cinzentos dele piscavam tão pouco que mal pareciam mover-se.

一 É bom vê-la. Não sei onde está Arya, para ser sincero. 一 tossiu ele, os braços agora inertes a cada lado do corpo. As mãos estavam trêmulas. 一 Imagino que distante; é de seu feitio, não é? 一 retórico, Jon aproximou-se e analisou as feições rubras da outra sem fervorosidade. Era um estudo solene, como sempre fora, mas vazio e incoerente. Nunca parecera tão errado. 一 Temo que, em breve, estarei tão longe quanto. Meu tempo em Winterfell está meticulosamente calculado. Há ouvidos a todo lugar. Qualquer atitude é mera cautela perante a mim. Os Greyjoy que o digam.

Sansa exala devagar. 一 Não pense nisso. Eu não o faço. Sabe o quão irredutíveis eles são, mas que ao fim, sempre há a reconciliação. 一 surpreendeu-se com a facilidade da mentira, e o quão fluida ela soou. 一 Agora dê por esquecimento tudo isto, toda a política e a intriga. Deixe-me cuidá-lo, é o mínimo que me cabe, o restante de devoção que o devo. Acompanhe-me.

Valar Dohaeris 〃 G. of ThronesOnde histórias criam vida. Descubra agora