005. Jēdrar

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Daenerys Targaryen, a Mãe de Dragões.
Jon Snow, o Lobo Branco.

Talvez Jon Snow não devesse ter ingerido tanto daquela engenhoca de líquidos que algum de seus vassalos tinha o oferecido. Não que estivesse desagradável em gosto ─ se é que suas papilas gustativas ainda serviam de algo a esta altura ─, mas seus pensamentos nunca estiveram tão enublados, e sua visão, tão enegrecida como um véu da cor do basalto.

A linha do tempo seguia de forma ondulada na conjuntura de memórias em sua mente. Recordava-se do inalar forte de hálitos dos dipsômanos no grande salão de Winterfell, das suas gargalhadas reverberantes, dos cabelos ruivos de Sansa quando sentou-se na mesa em uma velocidade que o estado ébrio de Jon não poderia acompanhar. Lembrava-se dos sons das patas albinas de Fantasma contra o chão logo atrás dele, e como seus olhos rubicundos refletiam uma inteligência quase humana. Vinha, então, uma grande fumaça preta, como uma fogueira recentemente apagada, apagando alguma porcentagem de acontecimentos de sua cabeça até pular, rapidamente, aos próximos ainda claros dentro dele. Faíscas, pequenas e distantes, o ritmo do seu próprio andar. Sentar-se em uma poltrona que sua mente não reconhecia, mas seu corpo parecia conhecer muito bem ─ tocou a descida do apoio a um dos braços, encontrando ali um vinco que o entretia ao interagir.

Não havia silêncio, mas as altas risadas e o abafado som de conversações tinha cessado. Não estava mais ao salão, de fato, e a ambientação substituta era superior em penumbra e conforto. Jon piscou os olhos cinzentos com dificuldade, tudo o atravessando em lentidão exagerada, carregado de uma aura dopada e íngreme. Focou as pupilas que insistiam em retrair-se e expandir-se, o pescoço ganhando um tanto mais de força para se manter rente ao corpo; foi quando notou a movimentação escura contra a fogueira faiscante que tinha visto anteriormente. Ia e vinha, aquele movimento contra a luz, e ele percebeu que era um corpo ─ nu, em toda sua glória, bailando em uma libido tão protagonista que o arrancou um aumento das pálpebras e os lábios afastados. Prendeu as palmas no apoio aos braços da poltrona, esforçando-se para poder enxergar mais claramente em meio a seu torpor.

As nádegas eram fartas, e palmas de unhas compridas as amassavam com força suficiente para causá-las marcas rubras. Estas mãos subiam até a curvatura das costas, atravessando além de suas covas pouco antes da dobra de seu bem servido traseiro, até prenderem-se na cintura afinada. Platinos cabelos se alongavam em cascatas alvas através da superfície, e a pele albina parecia reluzir como ouro e prata ─ ele não era capaz de discernir se era, de fato, uma personificação divina, ou apenas uma humana revestida de um atrativo suor corporal. A mente turva não encontrou dificuldades em perceber que ambos não passariam de sinônimos, no entanto. Jon tossiu, ou similou ter tossido, porque uma considerável parte de si mesmo não respondia ao que desejava realizar. As dobraduras de seus dedos se tornavam brancas à medida que a imagem feminina diante dele se organizava em um baile sexual e demorado.

Seus olhos se ergueram por conta própria, parte do teto atravessando seu campo de visão. Após algum tempo, em meio a várias falhas de visão, o ambiente não era mais o mesmo. Ele não sentia bem as próprias mãos, e seu suor pingava em grossas gotas através do rosto. Luzes, movimentos e curvas através de corredores. A mulher estava trajada novamente, parecia levá-lo consigo ─ Jon queria tocá-la, queria rosnar a ela, acusá-la de ter se vestido. Nada saía de sua boca, e, em uma sequência de piscos, seu corpo pausou abruptamente. Onde estava ela? A face se moveu, dolorida, procurando a sua bênção de fartas nádegas e mãos lascivas, e o peso do desespero o acometeu ainda mais fortemente em seu estado embriagado.

Um rugido de fera. Ele se moveu para trás, cambaleante, um reflexo, e o corpo magnânimo do dragão se alinhou na escuridão, mostrando a si mesmo em todo seu flexionar de músculo, sopro de fogo e rosnado bestial. Quando a asa preta e vermelha se levantou, expôs o que Jon buscara desde quando alcançara o gélido e obscuro local. Rosto bem desenhado e fulgor de olhos púrpura-violetas, com toda a estrutura nua que a compunha deitada por entre as escamas absurdamente quentes do seu filho alado.

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⏰ Última atualização: Jan 01, 2020 ⏰

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