Capítulo IV

5.2K 593 553
                                        

Olá! Sim, voltei <3
Eu tirei umas férias para organizar a vida, esticar as pernas e respirar um pouco.
Espero manter um ritmo de postagem nessa fic agora e agradeço pela paciência de vocês <3

As chamas que se arrastavam pelo piso e lambiam as paredes queimavam não só a santa construção, mas qualquer esperança de que a fé residiria ali novamente. Os estalos na madeira antes que viessem a desabar compunham as primeiras notas enquanto que o mármore partindo-se em mil centenas de pedaços elevavam a sinfonia. No meio de todo aquele calor, Naruto girava, com os braços abertos e o sorriso genuíno, como uma criança que se divertia com mais uma travessura. A cabeça de uma das esculturas estava em sua mão, e ele a beijou como a um amante, os olhos fechados, a língua a passar por entre os lábios frios e duros, antes de rir e arremessá-la com força contra o altar que agora era atingido pelo incêndio.

Havia uma música na cabeça dele, uma que somente ele ouvia, dava para perceber pelo modo ritmado com que os pés se moviam, com que o corpo dele balança no nada enquanto os olhos brilhavam rubros e as chamas se intensificavam. Ele dançava, sozinho, os braços estendidos a um parceiro invisível. Os movimentos lentos e graciosos não combinavam com ele, era algo que lhe havia sido ensinado, mas que Naruto repetia com perfeição, perdido nas memórias enquanto abria os olhos e os dirigia ao seu novo alvo de destruição.

Os gritos das pessoas do lado de fora eram como aplausos, como a plateia que vinha saudá-lo por mais um trabalho bem feito. Os pedidos de ajuda, a movimentação para salvar tão indigna construção, tudo era tão sem sentido que Naruto apenas girava sorria embriagado pelo prazer da própria satisfação. Parou ao centro em um leve pulo, os pés juntos os braços abertos ao lado, o tronco se curvando diante do altar como um maestro a cumprimentar o público. Ele ergueu a cabeça apenas, os olhos azuis contemplando a cruz ao alto, os vitrais, enquanto o sorriso divertido lhe tomava a face.

O fogo o acompanhou no primeiro passo ao altar, e um vento que não deveria existir apareceu do alto para empurrá-lo para trás. Naruto fechou os olhos, o vento mais parecia uma brisa a acariciar os fios loiros rebeldes, a igreja já estava destruída demais para se proteger. Sorriu em desafio, via toda a fé que mantinha o lugar sagrado a salvo evaporar com o poder das chamas e forçou mais uma vez o passo, confiante. Os braços se ergueram, as mãos voltadas ao alto, o fogo repetindo o movimento e avançando sobre o altar.

Os vitrais explodiram, o vento os quebrando de dentro para fora enquanto o fogo os atravessava e fazia as pessoas gritarem em desespero do lado de fora. A cruz ficava no alto, metros e metros no alto, protegida por toda a construção e as esculturas que a adornavam, mas o incêndio já era grande, e Naruto recuou dois passos quando a estrutura cedeu e a cruz tombou para a frente. O impacto da cruz de ouro com o piso poupou-lhe o trabalho, o piso de pedra se quebrou, e tudo o que Naruto precisou fazer foi se abaixar e começar a arremessar as pedras longe.

— Achou, Naruto?

Naruto parou de repente, e os olhos azuis brilharem em alegria genuína quando, em meio ao pouco ouro escondido sob o altar, ele achou a pequena caixa preta que tanto buscava. Seus dedos vacilaram, contornaram a fechadura com hesitação, as linhas douradas que decoravam a tampa ao redor das palavras:

— "Aquele cuja ambição foi além dos céus" — leu em voz alta e então riu, contente, verdadeiramente feliz enquanto a igreja desabava, enquanto o fogo o rodeava e tudo era consumido pelo caos que ele próprio havia instaurado. — Consegui! Achamos a primeira, Shisui! Achamos a primeira!

Shisui soltou o ar, o alívio em seu rosto visível enquanto ele descruzava os braços, incrédulo, e desencostava da pilastra que agora ruía por completo. O sobretudo antigo estava sujo pelas cinzas, e os passos dele soavam de forma característica a Naruto graças ao pequeno salto da bota gasta. Os cabelos negros curtos ondulados necessitavam urgentemente de um novo corte, e a pele pálida não via o sol há muito tempo. Shisui era o retrato de um homem que parecia ter perdido o rumo há tantos anos que não sabia mais porque existia, mas Naruto soube, naquele momento, quando os olhos escuros se tornaram vermelhos novamente ao caírem sobre a caixa que segurava, que o jogo havia mudado. Shisui estava de volta, e era bom o céu rever a guarda de seus portões.

AmenoOnde histórias criam vida. Descubra agora