Capítulo III

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Ouço batidas na porta, olho para o meu relógio e vejo que já são sete e dez da manhã, faltam vinte minutos para minhas aulas começarem, chegarei atrasada outra vez essa semana, pulo imediatamente da cama e coloco um casaco sobre meu pijama e uso uma calça jeans, corro as escadas abaixo e vejo que fora papai que bateu em minha porta e já esta de saída para o trabalho, tenho tempo de dar-lhe um beijo antes de correr para o Instituto que demoro os exatos vinte minutos para chegar à frente do colégio, senhor Phill já está acostumado comigo chegando atrasada na última semana, o cumprimento e corro para minha classe antes da professora Florence chegar à sala e fechar a porta, quase não tenho tempo de chegar.
Cassie e Elizabeth me cumprimentam com risadas abafadas pelo meu trágico cabelo totalmente bagunçado, não demoro muito para perceber qual é o assunto principal: a Cerimônia , como se isso não acontecesse de cinco em cinco anos, muitas acham que serão escolhidas, Serena principalmente, só porque possui belos cabelos lisos e pretos como a noite e uma pele mais clara que a maioria da região, e de alguma maneira, seu corpo parece que foi esculpido pelos deuses, ela acha que tem mais vantagens contra todas as outras garotas , mas ela provavelmente esqueceu que para nossa região ninguém liga , mesmo se tiver um corpo daqueles ou um belo sorriso, doce ilusão para elas, acham que eles se importam com quem mora nessa região.
--Só esperem pelo Jornal hoje à noite, com certeza estarei entre os 100 - Diz Serena para suas amigas com tanta certeza em sua voz que quase me faz acreditar que isso é possível, bem se ela for escolhida não vou nunca mais me estressar com ela.
--Espero que consiga Serena, porque assim ninguém nunca vai ver a sua cara outra vez - Diz Tristan rindo no canto da sala.
--Haha, engraçadinho, todos vocês vão é sentir minha falta quando eu for escolhida - Diz ela se virando para frente onde a professora aguarda em silencio, às vezes tenho pesadelos com a professora Florence, ela aparenta ser tão velha, com sua pele enrugada, que se ela te disser algum acontecimento histórico como a Guerra Fria entre 1945 e 1991, você acredita, porque ela realmente esteve lá, alguns alunos brincam dizendo para os novatos que ela é uma bruxa do século 21, muitos dos novatos acreditam e ficam aterrorizados, alguns até choram quando ela chega perto, eu, Elizabeth e Cassie demos o apelido carinhoso a ela de Oude Heks, que significa bruxa velha, espero que ela nunca tenha ouvido a gente chamando ela assim.
--Bom dia alunos, sei que estão animados com os resultados da Cerimônia hoje a noite, mas vamos nos concentrar na aula , abram seus livros na página 203 e comecem lendo o texto e depois façam um resumo sobre enquanto faço a chamada .
Sim, nós ainda usamos livros, acontece que, na 3º Guerra, todas as indústrias tecnológicas, nucleares, até as automobilísticas foram destruídas, tivemos que começar tudo do zero, tudo foi destruído graças às bombas nucleares que foram lançadas, mas perece que alguns cientistas imaginaram que isso aconteceria um dia e criaram um tipo de cidade subterrânea a prova de radiação, que suportava cinco mil pessoas, mas em 100 anos quantas pessoas não se reproduziriam? A  cidade foi criada para esperar 100 anos abaixo da terra, para que toda a radiação da Terra deixasse de existir por completo ou apenas o suficiente para que próximas gerações pudessem viver na superfície terrestre. Mas tiveram que subir a superfície antes, cinco anos antes para ser exata, pois estavam com super lotação e com problemas nos geradores de oxigênio, então tiveram a brilhante idéia de mandar 70 prisioneiros para “testar” se a Terra já era habitável novamente, o plano era bom, mas muitas coisas ruins aconteceram, é o que estamos estudando agora na aula da professora Florence.
--Terra chamando Carmila! Está acordada ou preciso lhe mandar para a sala do diretor novamente essa semana?  --Diz a professora bem na minha frente.
--Oh! Desculpe, estava pensando sobre como seria a vida naquela cidade - Digo a verdade, mas ela não acredita.
--Você estava em outro lugar com certeza, mas não estava pensando na aula e nem nada sobre a aula, eu lhe conheço muito bem Carmila, agora vá lavar seu rosto e volte imediatamente para a sala.
--Já que insiste - Digo e saio da sala em direção aos bebedouros pensando em como hoje o dia seria longo.
  Depois de duas aulas seguidas com a professora Florence de história da humanidade, tivemos duas de Língua neerlandesa e uma de química, só de pensar que ainda tenho mais um ano nesse colégio e então vou para faculdade me anima. Meus irmãos terão mais oito ou dez anos para chegarem onde estou, quase me formando no Instituto médio. Ao terminar todas as aulas somos liberados e vamos para casa, Cassie, Elizabeth e eu vamos juntas até certo ponto, e então sigo sozinha para minha casa.
--Ei! –Levo um susto ao ver que quem gritou fora Ruan, achei que nunca mais o veria depois das inscrições.
--Ei! Você me deu um susto! Mas o que faz por aqui? –Pergunto a ele me aproximando.
--Estou visitando a casa de alguns amigos, e você?
--Voltando do Instituto.
--Interessante, sua casa é por aqui? –Ele pergunta apontando para a direção que eu estava indo.
--Sim - Respondo em um tom um pouco seco de mais.
--Que bom, minha tia mora nessa direção também, posso lhe acompanhar ate sua casa?
--Claro - Respondo um pouco tímida, pois não estou acostumada a levar pessoas para minha casa.
  Conversamos um pouco pelo trajeto e vimos que temos muito em comum, incluindo o gosto musical.
--Qual sua banda de rock favorita?—Pergunto a ele para descobri um pouco mais.
--Link Park, e a sua?
--Prefiro Skillet - São duas bandas de rock do século passado, pra mim são as melhores e parece que para ele também.
--Bem chegamos - Digo apontando para minha casa lilás no final da rua.
-- Uma bela casa – Diz ele com um sorriso.
--Obrigada, quer entrar?
--Adoraria - Ele me responde com um sorriso maroto no rosto e abrindo o portão para mim.
​Ao entrarmos em casa Mathew e Cecilí estão no sofá assistindo The Adventure Time, Cecilí me olha pelo canto do olho enquanto Mathew já esta quase pulando em cima do Ruan.
--Você é o namorado da Carm? Se for quando vai ser o casamento? Vai ter docinhos? –Pergunta Mathew rindo da minha cara corada de vergonha.
--Não, não, por enquanto somos só amigos - Diz ele me olhando e dando um sorrisinho de lado, ele disse “por enquanto”, será que meu plano vai funcionar sem eu fazer esforço nenhum? Adoraria se isso acontecesse, talvez Ruan seja um belo marido para mim, fora Que se meu palpite estiver certo, ele é da região 2, o que daria muitas vantagens para minha família.
--Que bagunça é essa? –Pergunta mamãe vinda da cozinha em sua cadeira de rodas, e se surpreendendo ao ver Ruan - Oh! Olá, sou a mãe da Carmilla - Ela diz improvisando alguma coisa. 
--Olá, sou o Ruan - Ele se aproxima da mamãe e lhe da um beijinho na bochecha.
--Quer ficar para o almoço? Está quase pronto - Mamãe pergunta impressionada pelo beijinho, só cavalheiros ou o pessoal da corte fazem isso ao cumprimentar alguém, acho que ela já desconfia que ele não seja daqui.
--Bem se a Carm permitir eu gostaria de ficar para o almoço sim, senhora Allard.
--Que isso! , pode me chamar de Monique --Mamãe diz encantada com o jeito de cavalheiro dele, até eu me surpreendo com isso, ele simplesmente foi tão educado que meu coração até imaginou um futuro ao lado seu lado, mas ele deve ser mesmo da região 2, isso é um bom sinal para meu plano.
--Com licença, mas onde fica o banheiro? –Ele pergunta com tanta delicadeza que parece uma criança indo comprar doces sozinhos pela primeira vez.
--Claro, Mathew, mostre ao Ruan onde fica o banheiro - Mamãe diz já me puxando para o lado, só tenho de olhar Mathew o puxando pela mão e dar um sorrisinho para Ruan.
--Por que nunca me falou desse rapaz? Ele é tão educado, devia ter trazido ele antes - Ela sussurra no meu ouvido tão baixo que eu quase não a ouço.
--Talvez porque nós nos conhecemos há pouco tempo?
--Como assim? Quando vocês se conheceram? Ah não importa, ele não é da cidade, não?
--Eu não sei! Pergunte depois para ele - Digo vendo Mathew pulando as escadas fazendo um monte de perguntas para ele.
--Vamos sentando-se à mesa, a comida vai esfriar--Mamãe diz virando sua cadeira de rodas em direção a mesa
--Deixe que eu te leve até lá, Dona Monique - Ruan pega a cadeira de rodas pelas alças e empurra mamãe ate seu lugar de costume.
    Quando papai chega já estamos todos servidos e comendo, ele se assusta ao ver a sombra de Ruan ao meu lado.
--Ah! papai esse é o Ruan, Ruan esse é meu pai - Digo me levantando e fazendo sinal para papai ir cumprimentá-lo.
--Prazer, sou Alfred, pai da Carmilla - Papai diz com a voz firme ao ver que Ruan é uns dez centímetros mais alto que ele.
--O prazer é meu, senhor Alfred, sou Ruan, amigo da sua filha - É uma pena agora ele falar que somos só amigos e antes falar que somos só amigos “por enquanto”.
--Bem, de que cidade você é mesmo? –Papai pergunta sentando em seu lugar na mesa e olhando diretamente para os olhos de Ruan.
--Sou de Herschapen, na região 3 - Ruan responde de modo que pareça um sotaque natural de lá, mas seu comportamento prova que ele não é dessa região.
--Mas o que faz aqui em Catham? –Papai pergunta de forma como se ele soubesse a resposta, vejo que ele associou de onde possivelmente conheci Ruan, o Departamento de Inscrições.
--Visitar alguns familiares e amigos - Parece que eles vão começar o joguinho de entrevistas, papai até já esqueceu que não almoçou ainda e o jeito que ele fica olhando para o Ruan está me dando medo, se eu não conhecesse meu pai, saberia que se ele tivesse uma arma no momento atiraria na cabeça de Ruan por ele o estar encarando do mesmo modo, mas papai para de encará-lo e olha para seu prato de comida já frio.
--Bem, parece que meu almoço está esfriando, Carm, leve-o para conhecer a casa enquanto termino aqui - O modo que papai diz isso insinua que ele continuará sua “entrevista” depois.
--Claro, vamos? –Enquanto me levanto e vou em direção a cozinha ele diz algo ao meu pai, mas não escuto, mas vejo que papai sorriu, então deve estar tudo bem pelo visto.
--Carm, obrigado pelo almoço, estava ótimo, você tem que me convidar mais vezes –Seu riso se mistura um olhar de admiração —Mas terei de ir embora, meus tios devem estar preocupados comigo, pois não apareci para o almoço, nos vemos por ai?
--Oh, claro! Vamos, te acompanho até o portão–Dou um sorriso para ele, queria que ele ficasse mais, mas pelo visto nós nos veremos mais vezes, é o que eu espero, preciso colocar meu plano em prática até o inverno, não posso deixar minha família sem dinheiro ainda mais nesses tempos.
Ao atravessarmos a sala, Mathew pergunta o porquê dele já ir embora e pula no colo de Ruan para um abraço.   
--Tenho que ir para a casa de meus tios, eles devem estar preocupados.
--Quando você vai vir de novo?–Mathew dispara uma pergunta atras da outra, acho que quem vai casar com o Ruan nao sou eu e sim Mathew.
—Quando vai pedir a mão da Carm em namoro? - Cecilí aparece tão de repente que levo um susto e Ruan começa a rir, um pouco também pela pergunta de Cecilí.
--Ainda não sei, mas um dia quem sabe - Ele deu uma piscadinha para ela e então caminhamos em direção a porta.
--Desculpe pelo tanto de perguntas, até parece que só sabem conversar fazendo perguntas - Digo um pouco envergonhada pelo jeito de como todos pareceram jornalistas esfomeados por uma nova notícia.
--Ah, que isso! Adorei sua família, é normal todos fazerem perguntas quando conhecem alguém novo, principalmente se esse alguém novo almoça com eles.
--Bom, até mais?
--Até mais, senhorita Carmilla Allard- Ele me puxa para um abraço e então pega minha mão e da um beijinho e se despede acenando e desaparece virando a esquina.
Viro-me para entrar em casa quando vejo que meu pai está na porta, percebo então que a “entrevista” que não havia acabado na hora do almoço não era para o Ruan, mas sim para mim, prevejo que ficarei um bom tempo sentada ouvindo um sermão.

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