Acordei em um sobressalto sentindo meu coração totalmente acelerado e procurando me situar. Minha cabeça dói como o caminho inferno e o meu corpo não está diferente. Piscando várias vezes, eu logo percebi que não estava no quarto que os meninos deixaram para mim e bastou que eu me movimentasse para que uma dor irradiasse fortemente pelo meu quadril e costas. E como uma enorme onda, lembranças do que era possivelmente o motivo de toda a minha dor, me invadiram, momentaneamente arrancando o ar para fora de meus pulmões.
Ao meu lado, Changkyun e dormia na mesma posição de quando eu adormeci observando e acariciando suas costas. Eu sei que tudo o que aconteceu é errado e também sei que se houvesse como voltar no tempo, eu faria tudo novamente, mas isso não significa que a culpa não estivesse me corroendo por inteiro. Sem fazer muito alvoroço e sentindo tudo dentro de mim, despedaçar, eu pulei para fora da cama mordendo o lábio inferior para evitar que minhas exclamações de dor sejam um empecilho para minha fuga.
Recolhendo todas as peças de roupa que pertenciam a mim, eu logo comecei a vesti-las, fazendo o mínimo barulho possível. Lançando um último olhar na direção de Changkyun — que parece estar em um sono profundo —, eu saí pela mesma porta que havia entrado a poucas horas atrás, contudo, agora, eu carrego comigo o sentimento miserável da culpa.
Recomponho-me da melhor maneira que meu eu culpado me permitiu, desço para o andar debaixo, tentando não deixar transparecer qualquer desconforto que eu possa estar sentindo.
Tanto a sala quanto a cozinha, se encontram em um tremendo caos repletos de garrafas de diversas categorias de bebidas alcoólicas, copos descartáveis, embalagens de pizza e salgadinhos, e mais um monte de coisas que eu não ligo.
Respirando profundamente, eu retiro do armário da cozinha tudo o que eu preciso para começar com a limpeza. Em grandes sacos plásticos, eu separo o lixo de forma que vá facilitar na hora da reciclagem e depois vou dando continuidade a limpeza do chão e de todos os lugares que eu imaginei precisarem ser limpo, ou seja, cada canto da casa.
São 16:00 PM quando eu jogo de volta no armário, tudo o que eu peguei para me auxiliar na limpeza. Eu realmente gostaria de ter contratado uma equipe de limpeza, mas não há sequer um telefone fixo nessa casa para eu poder fazer uma ligação e o meu celular está trancado no meu quarto. Fora horas de muita procura e frustração até que eu encontrasse a porra da chave do quarto na parte interna da geladeira. Como diabos ela foi parar lá, eu não sei, mas ela estava lá.
Ninguém deu o ar da graça até agora, então antes de pedir algo para o jantar, eu me dou ao luxo de um banho, pois eu sinto necessitar de uma limpeza até mesmo interna se possível. Enquanto a banheira enche, todo o ambiente é preenchido por um agradável cheiro de lavanda e amêndoas. Aproveitando que o espelho ainda não fora embaçado pelo vapor da água, eu começo uma detalhada inspeção por todo o meu corpo em busca de quaisquer vestígios do que ocorreu entre mim e Changkyun, porém, para o meu alívio, não há nenhum indício além de uma mancha acentuada em meu peitoral. O pensamento de como eu consegui essa marca, me faz tremer ao lembrar da sensação que foi ter os lábios de Changkyun sugando minha pele, mas não permito meus pensamentos vagarem por muito mais tempo que alguns segundos, pois não estou interessado em me sentir ainda pior do que já estou me sentindo.
Limpando os pensamentos que pareciam lutar contra minha vontade de armazená-los no lugar mais profundo em minha mente, eu entrei na banheira já sentindo meu corpo reagir de maneira positiva. Eu não sei com que cara eu devo encarar Changkyun quando o encontrar ou se será preciso me preocupar com isso, pois há uma grande possibilidade de ele não se lembrar de nada do que aconteceu. Deixando para me preocupar depois ou na hora que o encontrar, eu foco apenas em passar a esponja por todo meu corpo, com diligência, eu tento lavar o sentimento de culpa para fora de mim.
•••
Eu fiquei cerca de uma hora no banho e na minha opinião, banhos deveriam ser considerados uma categoria de terapia, pois são durante eles que mais pensamos e encontramos soluções para muitos dos nossos problemas. Sentado no sofá da sala, eu passo através dos canais sem sequer prestar atenção, porém não permaneço nessa por muito tempo, já que passos na escada me fazem tenso por um instante. Aguardo sem saber como reagir, mas para minha sorte, Hyunwoo é quem passa pelo grande arco arredondado que dá acesso a sala.
— Você não parece nada bem.
— Eu estou com uma fodida dor de cabeça e parece que meu cérebro está solto aqui dentro, gatinho. - Hyunwoo me chama por um dos diversos apelidos carinhosos que ele me deu e isso me faz sorrir, pois apesar de toda altura e massa muscular, ele é doce como um dos ursinhos carinhosos. — Quero remédio.
Seus pequenos olhos são direcionados a mim em súplica.
— Os analgésicos estão na gaveta da bancada perto da geladeira e tem isotônico no freezer perto da porta.
— Obrigado, gatinho. - Hyunwoo some na cozinha e eu volto a minha função de correr pelos canais sem realmente prestar atenção.
Quando penso que Hyunwoo já sumiu de volta para o seu quarto, ele se joga ao meu lado, bebendo metade da bebida isotônica em sua garrafa com apenas três goladas.
— O que nós teremos para o jantar hoje?
— Eu pedi pizza a uns minutos atrás. - Meu foco continua na tv, pois eu sei que se olhasse na direção de Hyunwoo agora, ele com certeza iria ler o meu estado emocional e saberia que algo estava me incomoda. — Deve chegar daqui a pouco e eu já vou avisando que o milkshake e as fritas são meus.
— Eu não sei que graça tem comer fritas mergulhadas no milkshake. - Ele falou como se a mistura fosse nojenta, mas a verdade é que se eu o oferecer, ele come como se fosse uma de suas comidas favoritas. — Isso é tão nojento.
— A quem você está querendo enganar, ursinho? - Com as sobrancelhas arqueadas, eu o encaro, porém, Hyunwoo apenas dá de ombros. — Fale isso mais uma vez e eu deixo você sem pizza.
— Não está mais aqui quem falou! - Hyunwoo levantou as mãos, como se estivesse se rendendo a mim enquanto dava passos para trás, mais uma vez Hyunwoo sumindo em direção a cozinha, no mesmo instante em que a campainha toca.
Olhando pelo monitor digital, vejo se tratar do entregador, então eu libero sua passagem pelo portão. Ao abrir a porta, Hyunwoo já se encontra atrás de mim, pegando todos os lanches das mãos do entregador enquanto eu faço o pagamento via aplicativo. Quando dispenso o entregador, ouço passos pesados batendo nos degraus da escada, mas pela falação, sei se tratar de Hoseok e Jooheon que está dando uma lição de moral ao seu irmão mais velho que mais uma vez, exagerou na quantidade de bebida que ingeriu, mesmo que ontem se tratasse de uma festa.
— Parem de discutir. - Não foi necessário mais que um pedido vindo de Hyunwoo para os dois ficarem quietos. — E você, Changkyun? Vai ficar parado aí até quando? A pizza vai esfriar.
Jooheon e Hoseok se movem até a cozinha, voltando com copos e três garrafas de refrigerante no momento em que Changkyun alcança o último degrau da escada. Por um segundo, eu senti todo o meu corpo congelar, pois, eu não sabia o que esperar de Changkyun, mas diferente do que eu esperava — se é que eu esperava algo — ele agiu normalmente. Eu sabia haver hipótese de ele não se lembrar de nada era grande e eu deveria me sentir aliviado por isso, pois eu com certeza não conseguiria lidar com o fato de ser tratado com indiferença por ele ou qualquer um dos meninos, mas eu sou humano e consequentemente não consigo evitar que uma parte de mim se quebre ao me dar total conta de que eu não fui nada além de apenas um corpo na cama de Changkyun.
Respirando profundamente, eu me lembrei que só tinha que seguir com o meu próprio plano. Eu só precisava agir normalmente, como se a noite passada nunca tivesse acontecido. Me aconchegando ao lado de Hoseok que não hesitou em me acalentar em seus braços, cessando um pouco do frio interno que eu estava sentindo. Antes de pôr fim voltar a mirar o filme, eu lanço um último olhar em direção a Changkyun, porém ele não olha na minha em momento algum.
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Rockers - O Som Dos Meus Sentimentos [Changki]
RomanceEu fui salvo por quatro meninos, esses que hoje são incríveis rockeiros e a minha única família. Como uma forma de agradecimento, eu venho cuidando deles da melhor maneira que posso, só não estava em meu currículo que eu, Yoo Kihyun, me apaixonaria...