Capítulo Cinco: Greta

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Ignorar o estranho encontro com Jenkens na enfermaria havia sido o ponto alto da minha caminhada de volta para casa, isso porque, por mais que eu quisesse ser uma total alheia a sua presença, era impossível não se sentir momentaneamente em transe quando ele sorria ou apenas me respondia algo em seu tom debochado.

Ele era alguém que eu gostaria de conhecer antes do acidente, mas agora tudo que eu tinha a oferecer eram cacos do que havia sobrado de mim após minha perda.

Respiro fundo e encaro minha casa. As janelas abertas deixavam as cortinas brancas alvoraçadas pela brisa fria que adentrava pela residência, o balanço preso à varanda balançava-se de forma rítmica e lenta, ao longe podia ouvir o som dos cachorros do vizinho do fundo latindo e a grama que antes estava alta agora mostrava indícios de ter sido cortada recentemente.

Contudo, apesar dos esforços de JJ em manter o pequeno jardim de mamãe vivo, as roseiras morriam pouco a pouco dia após dia, eu sabia que ela detestava que víssemos migalhas da nossa antiga vida se acabando, mas não é como se pudéssemos culpá-la por sua total falta de destreza com as plantas, ela apenas não sabia como equilibrar sua vida pessoal com dois sobrinhos adolescentes e tarefas domésticas que nunca acabavam.

Caminho até a entrada e ignoro o comichão que sempre sentia ao me aproximar. Era estranho dizer em voz alta, e as vezes era ainda mais estranho escrever em meu diário sobre isso, mas era inevitável não ter uma leve, e quase doentia, certeza de que a vida que eu estava vivendo não era minha, e que em algum momento eu acordaria, ou alguém apareceria e diria que havíamos chegado ao fim do jogo, e que nossos pais iriam voltar para nós, no entanto, quando abro a porta e olho o interior da casa revestida em madeira, é JJ que vejo sentada à mesa em volta de livros e folhas desordenadas.

Apesar dos cabelos escuros e do olhar obstinado que a fazia franzir o cenho enquanto lia algo em seu notebook, ela era o oposto de mamãe, e em meu íntimo eu sabia que não só eu, mas também Jeremy, agradecia pela falta de semelhança entre ambas.

"Oi", digo fechando a porta em seguida, ela levanta seu rosto e quando seus olhos se focam em mim ela sorri de leve.

"Oi, querida", diz. Sorriu e me aproximo deixando minha bolsa sob o encontro do sofá, sento-me na cadeira ao seu lado e olho a bagunça sobre a mesa.

"A tese não está sendo fácil, não é?!", indago-a. Ouço seu suspiro cansado e ela fecha seu notebook.

"Nunca achei que fosse ser, mas admito que está pior do que imaginei", diz e sinto o desapontamento em sua voz. Franzo o cenho e me encosto contra a cadeira.

"Sinto muito que estejamos atrapalhando ainda mais", digo, pois é a única coisa que me vem à mente.

JJ arregala seus olhos e me encara, ela muda sua expressão, e ao menos cinco sentimentos diferentes antes de assumir uma postura irritada, ela aponta seu dedo fino para mim e por um instante sinto-me assustada.

"Jamais, nunca, nunquinha mesmo, assuma que toda a minha desorganização e falta de disposição para conseguir ir adiante com a minha tese seja culpa sua ou de Jer. Vocês são meus sobrinhos e eu os amo. Admito que não gostaria de estar aqui, mas não porque não quero cuidar de vocês, mas porque ela...", JJ respira fundo e vejo como seus olhos ficam embaçados pelas lágrimas que ela segura, engulo em seco e deixo que ela leve seu tempo "Emília amava essa vida. Isso era tudo que ela sempre sonhou e ver ela perder...Bem, não foi muito fácil", diz fungando, limpo uma lágrima às pressas antes que ela veja e me mantenho quieta apenas ouvindo-a. "Vocês mereciam mais tempo juntos, mas agora somos nós três, e eu sei que faremos dar certo, eu amo vocês, Greta."

JJ pega minha mão e a aperta, aperto de volto e dou um sorriso fraco para a mesma, ela respira fundo e funga se levantando em seguida.

"Bem, imagino que eu deva começar a preparar o jantar", diz, rodeando o balcão indo até a geladeira.

YoursOnde histórias criam vida. Descubra agora