Capítulo Nove: Greta

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Na escola havia um limite permitido de tempo que você poderia ser capaz de pensar nos seus problemas e no mundo lá fora, cursar o segundo ano poderia ser algo fácil para todas, mas para mim que ainda carregava uma bagagem extra de matérias do primeiro ano não era bem assim, após o acidente de carro com os meus pais eu acabei ficando mais tempo que o esperado em casa, eu apenas não queria sair para fora e enfrentar o mundo, mas ao mesmo tempo era insuportavelmente sufocante ficar presa o dia todo.

Por fim, eu me levantei, terminei o primeiro ano aos pedaços e me deixaram ir para o segundo devendo algumas matérias, sendo assim, eu precisava alternar minha vida indo e vindo de salas do primeiro e segundo. Muitos viam a atitude da escola como bajulação ou preferência a mim em vez dos demais, suas mentes opacas ofuscadas pelo mundo cor de rosa não enxergavam que esse era o jeito que a escola havia encontrado de não me deixar afundar ainda mais.

E afundar era algo em que eu sempre pensava, afinal havia sido assim que eu tinha perdido meus pais. Submersos em um rio sujo, o final de uma vida feliz.

"Você acredita que ela está usando o mesmo casaco pela segunda vez essa semana?", indaga-me Liliana horrorizada.

Ignoro meus devaneios e sigo seu olhar, a poucos metros Grace caminha até nos com seus livros em mãos, ela mexe no cabelo de forma desconsertada o jogando para o lado afim de esconder seu rosto, e antes que eu venha a me questionar o porquê vejo os olhos de Ty fixos na morena.

Franzo o cenho e o encaro. Não há desejo evidente em seus olhos, apenas um misto de saudade, algo como dor física, ele queria estar com ela, mas algo o impedia. A sua volta seus irmãos falam animados sobre algo, todos eles, menos Daniel, encaro a mesa com os três irmãos Jenkens confusa e tento me lembrar das aulas que geralmente temos juntos, mas não, não há vestígio de seu belo rosto em nenhuma delas. Ele não está aqui.

A cadeira a nossa frente é levantada é colocada com cuidado no chão, Grace odeia ser notada por barulhos que ela considera deselegante, diferente de Lili que está sempre a espera de conseguir ser mais e mais deselegante.

"Eu odeio geometria", diz a morena suspirando, olho para ela e lhe dou um sorriso cúmplice.

"E eu odeio esse seu casaco estranho", diz Lili, respiro fundo e me encosto contra a cadeira, no instante em que não lhe dei brechas para falar disso ficando calada pensei que o assunto havia acabado, mas claro que com Lili nada era tão simples.

"Você pode odiar o quanto quiser, isso não muda o fato de que ainda estarei o usando", responde Grace retirando sua garrafa de água da bolsa marrom.

Observo os olhos claros de minha amiga - hoje ruiva - se franzirem, ela odeia ser ignorada.

"Então, o baile", diz Grace mudando de assunto, o que funciona, pois ao meu lado Lili se mexe animada e sorri de orelha a orelha. "O orçamento esse ano será maior, o que nos dá mais opções de decoração, mas em contra partida o tempo é menor, o diretor quer que seja no próximo final de semana", a morena revira os olhos e bebe um gole de sua água.

"O quê? Por quê?", indaga Lili horrorizada com levando uma das mãos a sua peruca perfeitamente colocada sob sua cabeça, vendo como alguém de fora eu entendia a razão de alguns acreditarem que ela apenas pintava seus fios semana após semana.

"Algo sobre não querer que atrase as atividades acadêmicas", diz balançando a mão no ar, Lili faz biquinho, mas logo da de ombros.

"Você irá planejar?", indago curiosa, os olhos de Grace resplandecem certa tristeza, mas o sentimento é tão momentâneo que se eu não estivesse encarando-a ao menos teria visto.

"Não e o que eu queria", diz dando de ombros. "Mas precisam de mim."

"Você está certa, não é como se pudesse parar sua vida por conta de um carinha qualquer, você merece mais", diz Lili com afinco, olho para a mesma e vejo o olhar de nojo que ela lança a Ty, Grace também vê, mas se limita a apertar a mão da amiga por sobre a mesa.

YoursOnde histórias criam vida. Descubra agora