7. Brevemente

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— Este é Arturo! — O velho disse praticamente obrigando com o olhar para que o filho me cumprimentasse, ele se aproximou, cruzei meus braços demonstrando que eu não estava disposta aquilo, seu olhar me transmitia compreensão e raiva ao mesmo tempo, na falha tentativa de quebrar a tensão, o Carbone mais velho nos fez o acompanhar ate seu escritório.
Ao entrar, ele sentou-se do outro lado da grande mesa de madeira e me mediu com olhar assim como seu filho, eu fazia questão de ficar em pé e sequer cogitei quebrar contato visual. O fato de eu simplesmente aceitar não significava que eu ia tornar as coisas mais fáceis.

— Por que queria me conhecer? — Questionei diretamente, percebendo o olhar de "controle-se" do meu pai em cima de mim e ignorei completamente.
— Você será minha nora, não? — Questionou — Nós nunca chegamos a conversar pessoalmente.

— Não havia necessidade, afinal, os boatos da promotoria são suficientes para mim! — Respondi o velho, Arturo, a quem infelizmente fui apresentada porém sequer cogitei a chance de cumprimentar, me lançava um olhar de raio laser, se o tivesse, eu provavelmente estaria derretida agora.

Era notável que ate ele estava odiando aquela situação, vivemos no século XXI, casamento é uma coisa brega e muito superestimada nos dias de hoje.

— Sente-se Valerie! — Sugeriu indicando o lugar vazio com o olhar, meu pai já havia sentado-se.
— Não precisa! — Rebati.
— Essa conversa será longa...
— No que depender de mim, a tornarei brevíssima. — Novamente insisti.

O olhar do filho do mafioso sobre mim estava começando a me irritar para caralho, resolvi lhe devolver.
— Tenho certeza que seu filho encanta muitas mulheres, porque eu? — Questionei.

— Seu pai tem uma divida! — Nos relembrou e eu bufei por um instante lançando um olhar mortal para meu pai.

— E minha irmã não serviria? Afinal, ela esta prestes a se casar com um membro da família. — Atirei Isabela aos leões, se bem a conheço, ela iria adorar ter um sogro mafioso, eles podiam ser criminosos mas ainda assim faziam parte da nata elite nova yorkina, gerações e gerações.

— Ela não é você Valerie! — O velho destacou — Eu pretendo casar meu herdeiro, não um afilhado qualquer.

— Qual a minha relevância? — Entreolhei aquela obra viva italiana — Tenho certeza que qualquer outra mulher estaria muito feliz casando-se com seu filho, o que não é meu caso.

Arturo abriu um sorrisinho, eu havia inflamado seu ego ao elogia-lo mas eu sequer ligava.

Ele soltou uma breve gargalhada.
— Meu filho não deseja amor Valerie, meu filho deseja ascender como Don e para isso, algumas tradições antigas devem ser respeitadas.
— Casamento arranjado?!— Conclui com tom de desprezo e nojo — Novamente, porque eu?
— Você não é qualquer mulher Valerie... e não é qualquer uma que merece essa posição.

Soltei uma risada nasalada num tom irônico, como se o sonhos de diversas mulheres fossem casar-se com um criminoso.

— Você é uma mulher forte, admirável e famosa por ser implacável. — Explicou elogiando-me o que eu sequer chegava a comprar.
— Preciso que meu filho tenha uma mulher forte ao seu lado, que saiba lidar com assuntos pesados.
— Crimes? — Questionei sentindo um puxão no braço, era meu pai em repreensão e o homem lindo mas imensamente petulante e arrogante que estava atrás do pai controlando-se para não interferir, estava detestando a minha ousadia e eu sequer recuava.

Malvino soltou uma gargalhada, ele parecia extremamente confortável conversando comigo, como se a cada cinco segundos eu não desafiasse sua autoridade. — Você é advogada, afinal...
— É mas não cometo crimes e jamais cometerei.

Ele riu de novo — Quer dizer que seus jogos, chantagens e blefes são coisas completamente honestas?
— Nunca resultou na morte de ninguém que eu saiba. — O velho parecia estar se deleitando com minhas rebatidas e o fato de eu estar desafiando-o constantemente.
— E os seus clientes? — Ele questionou.
— Eu trabalho para corporações, o que eles fazem não é problema meu.
— Será que não? Você nunca parou para refletir sobre quantas vidas você atinge cada vez que os livra de problemas judiciais? — Questionou, fiquei em silêncio e o meu futuro marido pareceu apreciar a linha da raciocínio do pai — Veja bem Valerie, todos fazemos coisas que prejudicam os outros... a questão é, se é em grande ou pequena escala!
— As indenizações existem pra isso... — Tentei argumentar.

— Chega! — A voz grave e sexy vinde de trás do velho nos interrompeu, ele me encarou parecendo enraivecido.
— Serei objetivo — Disse saindo de por detrás do pai e aproximando-se de mim, senti um leve arrepio e sua postura e tom consistentes me abalarem. — Estamos noivos, vamos nos casar e não a há nada que nós dois possamos fazer para mudar isso, e eu os aconselho — Disse entreolhando a mim e meu pai — A não tentarem usar nenhum artifício para impedir isso, ate porque... — Ele disse diminuindo o espaço entre nós dois consideravelmente — Você sabe do que minha família é capaz! — Declarou quase num sussurro e piscou o olho de forma galante, bufei irritada e ele deixou a sala, seu pai o olhou parecendo reprovar a atitude do filho.

— Perdoem a falta de educação do meu filho! — Disse levantando-se — Tentarei trazer-lo de volta.

— Não será necessário, já nos conhecemos e não há porque prolongar isso! — Rebati mas o Carbone pareceu ter me ignorado.

Depois que o Carbone deixou a sala me permiti sentar e me inclinar tapando meu rosto com minhas mãos, dei uma surtada momentânea e em seguida encarei meu pai.
— Eu te odeio! — Proferi extremamente irritada e me levantei deixando aquele escritório e indo para fora do Andrômeda, puxei meu celular e liguei para Nathan... eu definitivamente precisava sair dali e beber uma mais que considerável quantidade de álcool.

(...)

Acordei pela manha na cama do quarto de hospedes de Nathan, completamente desnorteada e aparentemente nua, minha roupas estavam espalhadas pelo chão e minha cabeça latejava com um pouco de dor, me enrolei com o lençol e ao levantar da cama, reparando no lugar, quase tive um ataque de risos ao perceber minha companhia da noite anterior "desmaiada" no tapete felpudo do quarto, completamente nu e de bunda pra cima... e que bunda, mordi meus lábios por breves segundos admirando aquela bunda perfeitamente "quadrada" no corpo daquele Deus grego.
Fui ate o banheiro do quarto cautelosamente evitando barulhos que não acordassem meu convidado, peguei o roupão de banho e deixei o quarto descendo as escadas da cobertura e me dirigindo ate a cozinha onde um Nathan completamente ressacado estava com a cabeça repousada em cima da mesa encarando o frasco de aspirinas e copo d'água.

— Bom dia! — Desejei indo ate sua geladeira e me servindo um pouco de suco.
— Eu não bebo mais! — Resmungou em tom baixo ajeitando sua posição e fazendo uma massagem em movimentos circulares nas têmporas.

Gargalhei depois de tomar um gole do suco de laranja.

— Eu acredito! — Respondi num tom irônico e ele voltou a repousar a cabeça na mesa.
— Onde estão suas companhias? — Questionei curiosa pousando o copo na mesa e me juntando a ele, sentando-me numa cadeira próxima.
— A ruiva foi embora e o cara ainda ta no meu quarto — Informou, abri um sorriso ao recordar do homem no tapete felpudo.
— E o seu?
— Ainda dormindo belamente!
— Você não me disse muito sobre o que aconteceu na "reunião familiar" de ontem! — Declarou fazendo aspas ao referir-se a tentativa escrota do Carbone mais velho de me intimidar.
— Não durou muito, isso que importa.
— Valerie... a meses que não te vejo bebendo assim.
— Bem, a chance de eu ser assassinada caso não cumpra esse contrato idiota me fez rever algumas prioridades na minha vida. — Relatei sacudindo o copo e observando o movimento circular do líquido amarelo dentro.
— Que seriam?
— Álcool e liberdade Nathan!

Perfect Trap  (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora