Intensidade Desmedida

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"I didn't know how lost I was
Until I found you"

Like a Virgin,
Madonna

Jimin suspirou mais uma vez naquela tarde, encarando o fumo que saía do cigarro que pendia dos lábios secos do mecânico carrancudo. Havia marcas de óleo por todos os malditos lados, e o cheiro a combustível queimado que se espalhava pelo ambiente estava começando a fazer com que se sentisse absurdamente enjoado.

Se lhe perguntassem o que o levou a ficar sozinho com um mecânico velho e rabugento dentro daquela oficina minúscula naquele domingo quente, Jimin não saberia responder. Tudo o que sabia era que Jungkook havia dito para ele ir na frente falar com o dono do lugar enquanto ele ia encontrar um lugar vago para estacionar o carro; no entanto, essa tarefa estava demorando bem mais do que ele pensava que demoraria.

E talvez fosse pelo ligeiro desespero que sentia por estar ali, ou talvez por se sentir pressionado demais pela situação, mas a verdade é que parecia que faziam horas que já estava tentando captar a atenção do olhar triste e cansado que fugia de si a cada segundo. O mecânico parecia ter perdido há muito tempo todos os resquícios que pudessem restar da vontade de viver.

No entanto, nada disso foi o suficiente para que ele quisesse largar do pé daquele maldito velho carrancudo.

— Garoto, pelo amor de Deus. — O homem bufou, limpando as mãos num farrapo todo rasgado, antes de cruzar os braços na frente do peito, visivelmente emburrado. —  Dá o fora daqui e me deixa trabalhar.

— Mas eu estou desesperado! — Jimin disse, soando um tanto mais choroso do que pretendia. Por dentro, porém, só faltava gritar de ódio; Jaehyun o pagaria caro por aquilo, ah se pagaria. — Por favor senhor, eu preciso mesmo de consertar aquele carro!

— Então volta amanhã, quando a oficina abrir. — Falou, atirando a chave de fenda que segurava para o chão de qualquer jeito, fazendo um barulho alto e metálico ressoar pelo ambiente. — Já falei que estamos fechados.

Jimin bufou emputecido, sentindo uma vontade súbita de se jogar no chão que nem uma criança birrenta e fazer um belo de um escândalo só para que o homem tivesse pena dele e aceitasse consertar o carro. Porque se ele não arranjasse forma de o consertar ainda naquele dia, ele quebraria a promessa que fez a Jaehyun; e ainda que ele fosse um irmão desgraçado que merecia uns bons socos no meio das fuças, Jimin não podia arriscar deixá-lo na mão. Até porque, se a porra do carro não ficasse pronto naquele dia, o pai não teria como ir trabalhar no dia seguinte sem perceber o para-choques todo amassado, o que acarretaria perguntas às quais nem ele, nem o irmão tinham uma resposta boa para dar.

Tudo bem, nada de pânico.

— Mas...

— Mas o quê? Não entendeu, rapaz? — Virou-se para si soltando a fumaça na sua cara, descruzando os braços e dando um longo suspiro, parecendo entediado. Depois, virou-lhe as costas, continuando a analisar o motor do carro como se nada estivesse acontecendo. — Amanhã significa amanhã. Depois da meia noite é outro dia, sabe? E esse outro dia a gente chama de amanhã. É quando você deve voltar se quiser meus serviços. 
Jimin bufou, contrariado. Não podia simplesmente ir embora, aquela era a única oficina que tinha alguém trabalhando a um domingo. Mas que porra de velho filho da puta, o que custava ajudar?

— Olh-

Jimin? — O loiro calou-se imediatamente, e quase soltou um suspiro satisfeito ao reconhecer a voz do tatuador surgir na oficina. Olhou para trás só para confirmar que ele estava realmente vindo na sua direção, finalmente se juntando a si naquela guerra contra o velho resmungão, e foi só ver o sorrisinho nos lábios vermelhinhos dele para se sentir melhor quase que instantaneamente. — Foi mal pela demora. O que está acontecendo?

Eu, Você E Três Doses De Coragem LíquidaOnde histórias criam vida. Descubra agora