AVISO: contém cenas muito curtas de preconceito e homofobia, acho que nada de muito pesado, mas caso seja sensível a esse assunto ou exista a possibilidade de servir de gatilho, aconselho a ler esse capítulo com cuidado <3
“Though nothing will drive them away
We can beat them,
Just for one day.“
—
Heroes, David Bowie♫
Jimin torceu o nariz de forma engraçada assim que saiu do conforto do carro do Jeon, notando que o ar do centro da cidade era muito mais frio e sem graça do que aquele que se respirava no lugar onde vivia.
Olhando em volta, tudo o que se via eram pessoas com pressa e um monte de conjuntos arquitetônicos desalinhados que não falharam em desapontá-lo pela sua monotonia excessiva e entediante. Tudo, absolutamente tudo ali parecia ter uma cor cinzenta e triste, e Jimin não soube como fugir daquela sensação ruim que parecia querer tomar conta de si apenas por estar ali, num lugar onde alguém como ele eventualmente se tornaria um alvo a abater, mais cedo ou mais tarde.
As pessoas na cidade viviam numa espécie de murmúrio surdo, abafado pelas autoridades, como se algo estivesse fermentando dentro das casas sombrias e mal arejadas, uma revolução ou apenas um certo descontentamento deplorável, ruidoso ou nem isso: uma agitação reprimida e uma atmosfera de expectativa impregnava as casas, as praças, a vida. Era… sufocante.
Nada ali lhe lembrava a leveza da estação quente em que supostamente estavam; cada molécula de ar estava consideravelmente mais fria do que era de prever, tudo cheirava a velho. Cheirava a umidade, poluição, cebola frita e algodão doce, e o céu estava tão carregado de nuvens negras, que parecia até que ia chover.
Ainda assim, pelo canto do olho, Jimin podia ver Jungkook e ter a certeza total de que ele não combinava em nada com a paisagem escura ou com as casas monstruosas pelas quais estavam cercados. Diferente do ambiente que aos poucos esfriava e escurecia um pouco mais, adquirindo uma sensação ainda mais pesada e palpável de solidão nas ruas vazias, Jungkook irradiava uma cor brilhante e viva, quase invejável. Ele se destacava de uma forma muito peculiar e bonita, quase inconsciente.
— Eu tô com fome. — Jungkook falou de repente, se espreguiçando para aliviar a tensão que o tempo de viagem naqueles bancos duros tinha impregnado nos seus músculos, dando a volta ao carro e andando até ficar pertinho de Jimin, passando discretamente a mão pela sua cintura inesperadamente fina. — Tá afim de um cachorro quente?
Jimin concordou na hora, porque a verdade é que estava realmente faminto. Mal tinha jantado, e, pode não parecer, mas pagar um boquete bem pago enquanto se está sob os leves efeitos da maconha deixa qualquer um com uma larica desgraçada.
Assim sendo, e ao ter a confirmação do mais velho, Jungkook tratou de trancar o carro rapidamente, a mão esbarrando na de Jimin por acidente quando começaram a andar meio sem rumo pela rua, lado a lado.
Jungkook andava cuidadosamente, mantendo o cuidado para nunca se afastar muito de Jimin. Desviava das pedrinhas soltas que se atravessavam no seu caminho de vez em quando, sorrindo para as luzes coloridas que saíam das vitrines das lojas fechadas, virando de costas de vez em quando para que pudesse comentar o que via com Jimin. Fascinou-se com o rio que partia a cidade em dois, parando várias vezes para admirar o próprio reflexo da água — e pronto, lá estava Jimin divagando sobre o jeito que o garoto andava na porra da rua.
Não demoraram muito a encontrar uma barraquinha de comida quase vazia, onde uma garota mascava um chiclete, parecendo entretida a capturar alguns pokémons no seu Game Boy colorido do outro lado do balcão.
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Eu, Você E Três Doses De Coragem Líquida
Fanfic[CONCLUÍDA] Enfiado nas suas jaquetas de couro e com um leve vício em cigarros de cereja e doses de tequila com gelo, Park Jimin era alguém que certamente não via necessidade nenhuma em ser arrastado todo o sábado à tarde para as traseiras da igreja...