Cicatrizes Dolorosas e Doces Liberdades

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"Now that you're mine,

We'll find a way of chasing the sun."

Slide Away,

Oasis

Depois daquele dia, o tempo começou a correr muito depressa.

Jimin e Jungkook passaram todo o mês de julho e uma grande parte de agosto completamente grudados, vivendo tudo a que tinham direito de viver na companhia um do outro e, quando se deram conta, já faltavam poucos dias para que o verão se fosse embora. O sol já não brilhava mais tão intenso como fazia nas tardes de junho, e isso servia como um doloroso lembrete, um sinal claro de que Setembro e o frio que o acompanhava estavam perto, perto até demais, de regressarem à cidade.

O verão nunca era longo o suficiente, era assim que Jimin pensava. Ele sempre foi um fã do sol e das brisas frescas que lhe bagunçavam os cabelos, sempre foi muito grato ao verão por todos os anos o presentear com aqueles preciosos dias de calor e liberdade. Agora, Jimin era-lhe infinitamente grato por ele lhe ter dado Jungkook também.

A verdade era que, quanto mais tempo passava com ele, em quantas mais encrencas se metiam juntos, mais Jimin percebia que Jungkook o completava de um jeito muito estranho, quase surreal, mas também acabou por descobrir que gostava disso. Muito.

Foi num daqueles dias quentes de julho que Jimin ganhou coragem e decidiu que queria fazer outra tatuagem. Jungkook sorriu ao ouvir o pedido, e foi com muito carinho que trabalhou no desenho e lhe tatuou as letras NEVERMIND nas costelas; ao terminar, Jungkook não cansava de falar que ficara lindo, e que deixara Jimin ainda mais gostoso do que já era. No entanto, os pais do Park não pareceram pensar o mesmo; eles surtaram quando viram a tatuagem por acidente, porque aparentemente naquela casa ninguém sabia mais como bater na merda da porta antes de já ir entrando no quarto dos outros, mas Jimin manteve-se mudo durante toda a chuva de gritos e o sermão que se seguiu sobre a sua terrível irresponsabilidade que durou vinte minutos, no mínimo. Porém, como não podiam arrancar aquilo da pele do filho, acabaram por deixar para lá; guardaram aquele assunto na prateleira das desilusões que Jimin lhes havia dado, e deixaram o assunto morrer por ali. E o tempo continuou passando.

Às vezes, quando estavam com preguiça demais para se arriscarem a sair à rua, eles dois ficavam em casa, encolhidos em frente à TV de Jungkook assistindo às matinés de filmes que passavam e que, se dessem sorte, não eram completamente horríveis. O jeito era se sujeitar àquilo mesmo, porque a preguiça de ir até à locadora alugar uma fita era grande demais para lutar contra.

Tinha outras vezes em que ficavam apenas ouvindo música, dançavam no quarto a alguma música dos Ramones, trocavam alguns beijos e, depois de conversarem durante a tarde inteira ou cozinharem algo que no fim acabavam por não comer, Jimin ia embora contrariado por não poder ficar só mais um pouquinho. Nesses dias em específico, Jungkook precisava carregá-lo no colo como um gatinho manhoso até à porta do apartamento para o convencer a ir pra casa antes de anoitecer.

A cidade onde viviam era pequena demais, fofoqueira demais para que pudessem se dar ao luxo de arriscar atrair rumores e atenções para eles — mais do que já atraiam naturalmente. As pessoas não eram de confiança, e não era nada bom que vissem Jimin a sair do apartamento do garoto cheio de tatuagens com quem estava todos os dias muito tarde da noite, ou de madrugada.

Não queriam problemas.

Jimin sabia de tudo isso, é claro, mas não deixava de se entristecer um pouco quando olhava para Jungkook e ele lhe sorria com aquelas orbes cintilantes, esperando pelo seu beijo de despedida. Jimin nunca se ficava por um só, e quando se separavam, vários minutos depois, Jungkook sorria outra vez e só então lhe abria a porta. Nesses momentos, Jimin podia sentir o coração substituir aqueles pulos animados que não cansava de dar quando estava perto do Jeon, por uma dorzinha incômoda e desesperada, não querendo se afastar.

Eu, Você E Três Doses De Coragem LíquidaOnde histórias criam vida. Descubra agora