Eu tinha uma vida perfeita. Pais que me amavam, e me apoiavam, um namorado que me amava, e um irmão que era um grande amigo. Só que eu levava essa palavra perfeição muito a sério, e tentava a todo momento atingir isso. Eu estava no terceiro ano do curso de direito e meu sonho era seguir os passos de meu pai e ser uma grande advogada. Meus pais sempre me apoiaram nisso, é claro, mas não gostavam muito do meu jeito perfeccionista e controlador. A verdade era que eu sentia que tinha que provar sempre muito mais que as outras pessoas que era realmente boa no que eu fazia, primeiramente por ser uma mulher, e segundo por meu pai já ter um nome conhecido por todos os cantos de São Paulo. Eles não me pressionavam em nada, na verdade nem queriam que eu realmente seguisse a carreira jurídica, mas eu sempre fui muito teimosa, e via a paixão que meu pai tinha por sua carreira e quis isso para mim também. Já a minha mãe vivia uma vida mais tranquila, era psicóloga e sócia da ong de meu avô que cuidava especialmente de dependentes químicos. Eu tinha um imenso orgulho dela, ainda mais porque ela superou seu passado complicado com as drogas, e fazia mais de vinte e cinco anos que estava sóbria. Ela era muito forte e decidida, isso eu com certeza puxei dela.
Só que meu jeito era um pouco diferente do dela. Minha mãe era tranquila, deixava a vida seguir seu rumo como tinha que ser, e meu pai era desse mesmo jeito, só que eu era bastante controladora com tudo a minha volta, sabia exatamente como cada dia ia ser e o que eu tinha que fazer. Naquela manhã por exemplo eu ia estagiar no escritório de advocacia de meu pai, e a tarde passaria boa parte estudando. Eu me esforçava o máximo que podia para realmente aprender tudo, e a noite eu tinha a faculdade, onde ia me encontrar com Victor, meu namorado já fazia um ano e meio. Nos conhecemos na faculdade, ele também cursava direito, e sempre foi maravilhoso comigo, e entendia perfeitamente o meu jeito, e o fato de eu não ter tanto tempo quanto eu gostaria para ficar com ele. Eu tinha uma linha fixa na mente de tudo que queria para o meu futuro, e o que eu imaginava era que eu seria uma grande juíza, tinha certeza que ia conseguir isso, desperdiçava muitos momentos de diversão para que quando eu conseguisse isso, e eu pudesse realmente aproveitar minha vida. Minhas amigas não entendiam muito bem a minha quase obsessão por ser tão certinha com as coisas, elas estavam acostumadas a passar madrugadas em festas se embebedando e transando, e eu não as julgava por isso, cada um sabia de sua vida, mas eu não me arrependia por passar minhas madrugas com a cara enfiada em livros, sabia que seria muito bem recompensada.
Sentei-me em minha cama, e olhei o celular para ver se tinha alguma mensagem, sorri ao ver a mensagem de Victor.
Bom dia, Bia! Amanhã é sábado, tem certeza que vai passar a manhã estudando? Queria sair com você como combinamos semana passada. Você já me deu um cano no sábado passado, lembra-se?
Vi, eu sei que prometi, mas estou atolada com tantas coisas para estudar. Prometo que irei recompensar semana que vem. As provas terminam nessa semana, e eu serei completamente sua novamente. Te vejo na aula.
Ele era muito compreensivo, e eu entendia o lado dele, mas aquela semana realmente era muito importante para mim, final do ano estava chegando e as provas me consumiam mais do que qualquer outra coisa. Levantei-me e escolhi uma calça social preta e uma camisa rosa claro, deixei-os na cama e fui até meu banheiro. Tomei um banho rápido, e me sequei com a toalha branca felpuda. Soltei meu cabelo do coque e o penteei. Me observei no espelho, enquanto fazia isso. As pessoas costumavam dizer que eu era bastante parecida com minha mãe, os olhos castanhos, e os cabelos da mesma cor, e eu realmente concordava com aquilo. Mas eu também tinha o nariz parecido com o do meu pai, ao menos uma coisa parecida com ele, pensei e ri sozinha.
Voltei para meu quarto e me vesti, calcei uma sapatilha preta, e coloquei um batom rosa claro, apliquei um pouco de rímel nos cílios, e um pouco de corretivo nas olheiras. Não dormia bem já fazia algumas semanas, aquelas provas me deixavam extremamente ansiosa. Pego minha bolsa, e saio de meu quarto andando pelo corredor em direção a cozinha. Percebo que tudo está vazio, meu pai não tinha me esperado naquele dia, e minha mãe já tinha saído. Somente vi Gabriel assistindo televisão sozinho. Ele tinha dez anos, e era uma peste às vezes, mas eu o amava ainda assim.
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A Proposta
Romansa(Continuação Do Livro "A Aposta") Beatriz e Rafael sempre tiveram que estar próximos por conta da amizade de seus pais, mas apesar disso a relação deles não era nada boa. Beatriz desejava seguir os passos de seu pai e se dedicava exclusivamente ao...