6: Quando voltei a ser um bebê

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O carro parou em frente ao cemitério. Namjoon desceu do veículo e eu fiquei paralisado durante um tempo.

– Vem, mano. — Hoseok sacudiu meus ombros pelo banco de trás.
– A gente tá com você. — Seokjin me encorajou.
– Okay. — Desci do carro.

Meus amigos vieram comigo, pois não quiseram me deixar passar por essa situação sozinho. Estavam tão confusos quanto eu.
Caminhamos em direção ao suposto túmulo de Jimin e, a cada passo dado, mais calafrios me subiam pela espinha. O sol estava se pondo, logo não teríamos muito tempo para chegar ao nosso destino antes que escurecesse.

– Apressa o passo aí, gente! — Namjoon gritou lá da frente — Não quero estar aqui quando anoitecer, não!
– Tem medo de morto, Joon? — Seokjin perguntou com ironia. — Morto já morreu! A gente tem que ter medo é dos vivos! — riu — Esses são os que podem fazer alguma coisa, inclusive maldade.
– Faz sentido! — Hoseok concordou.

No mesmo momento, ouvimos um barulho como se alguém tivesse pisado em algum galho seco à nossa direita.

– Quem tá aí? — perguntei e levei um tapa de Seokjin na parte de trás da cabeça.
– Tu quer entrar em contato com os mortos, Jungkook? Tá maluco?
– Ué, mas você não disse que a gente tem que ter medo só dos vivos?
– Sim, mas se o morto quer passear pelo quintal dele, deixa ele em paz! — outro barulho. Dessa vez, à nossa esquerda.
– Jungkook, controla teu anjo aí, na moral. — Hoseok pediu.
– Tem como As Panteras aí adiantarem o passo, ou o salto alto tá machucando o pezinho delicado de princesa da Disney de vocês? — Namjoon nos chamou e fomos correndo sem pensar duas vezes.
– Por que parou, Joon? — Perguntei, recebendo um aceno de cabeça do meu primo para um túmulo à sua frente.
– É esse? — Hoseok se aproximou.
– Sim. — Meu primo disse.

Cheguei perto do túmulo e lá estavam os dizeres "Park Jimin: 1975-1998, 23 anos" seguidos de uma foto. Era ele. Caí de joelhos. Não era possível.

– É ele, Kook? — Namjoon perguntou com a mão no meu ombro.
– S-Sim.
– Tá. Okay. Já pode sair daí de trás, pessoal! Essa câmera escondida já perdeu a graça! — Seokjin falou alto, olhando para os lados. — Podem parar com a pegadinha!
– Mas, gente? Isso não existe! — Hoseok começou — Jungkook falava o tempo todo com esse cara. Como que ele morreu há tantos anos assim?
– Eu tava lá quando ele seguiu o Jungkook no Twitter! Eu não tô maluco! — Seokjin continuou.
– Acho que estamos todos malucos. — Namjoon concluiu.

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Voltamos para a casa de Hoseok praticamente em silêncio. No caminho da volta, só eram ouvidos nossos suspiros e respirações. Estávamos paralisados, congelados e aterrorizados.

– É claro! — Hoseok bradou quando chegamos à sua sala de estar — É tão óbvio!
– O que houve? — Seokjin perguntou.
– Gente, não veem? — ele se jogou no sofá, sorrindo e pondo os braços por trás da cabeça.
– A única coisa que vejo é você deitando no seu sofá com roupas de cemitério. — Namjoon comentou, fazendo o Jung levantar em um pulo.
– Valeu. Vou tomar um banho depois de falar aqui com vocês. Gente, a única explicação óbvia e possível é que fizeram um fake com o perfil do Jimin!
– Até que faz sentido... — Seokjin comentou.
– Mas quem faria um fake dele? E por quê? — perguntei.
– Sei lá. Algum parente, talvez? Amigo distante? Não sei. Mas só pode ter sido isso! Não tem como a gente falar com um fantasma! Até onde eu saiba, não tem Wi-Fi no céu... ou inferno, não sei onde ele tá. Ou tem Wi-Fi por lá?
– Tem razão, Hoseok. — meu primo pensou em voz alta — Só pode ter sido isso.
– E o que vocês vão fazer agora? — fiquei confuso.
– Eu vou tomar meu banho. Vocês podem tomar também no banheiro aqui de baixo, ou lá no chuveiro do quintal, ou me esperarem sair do banho. Eu não demoro. — Hoseok disse. — Já tem roupas de vocês aqui mesmo, e a casa é mais de vocês do que minha, então dane-se. Tanto faz.
– Não. Eu quis dizer quanto a essa história. O que vamos fazer? Esquecer e fingir que nunca aconteceu? — expliquei a minha pergunta.
– Acho que é o mais saudável pra todo mundo, Kook. — Namjoon pôs a mão no meu ombro.
– Mas...
– Jungkook, acho que o Namjoon tem razão. Ficar pensando nisso não vai fazer bem pra ninguém. E se contarmos pra alguém, quem vai acreditar? — Seokjin falou.
– Mas eu tenho provas! Posso mostrar as conversas que eu tive com ele! — desbloqueei meu celular e o joguei no chão, com o susto que levei. Mas, felizmente, ele caiu sobre o tapete felpudo de Hoseok, o que amorteceu a queda.
– O que houve? — O dono da casa perguntou assustado.
– As conversas sumiram!
– O que é isso? Your Name, agora? — Hoseok correu para pegar o celular.
– Ele apagou as mensagens que te enviou? — Namjoon perguntou.
– Não! Sumiram! Como se nunca tivessem existido! — falei ainda em choque.
– Meus irmãos, o negócio tá ficando cada vez mais hard aqui. — Seokjin comentou. — Vamos torcer, gente. Vamos torcer pra que o site, ou o aplicativo ou o seu celular tenha bugado, coincidentemente, agora.
– E-eu vou tomar logo meu banho, antes que algum espírito resolva levar a água da minha casa embora. — me devolveu o celular — Fiquem à vontade... se conseguirem. — Hoseok terminou e subiu correndo.
– Vai lá tomar seu banho, Kook. Vou pedir alguma coisa pra comer aqui pelo celular. — Namjoon disse — E avisar à minha mãe que estamos no Hoseok.
– Você contou pra ela o que fomos fazer hoje? — perguntei.
– Não, por quê?
– Não conta, não. Senão ela vai ficar falando que não tem nada pra descobrir e vai insistir mais ainda pra eu voltar pra casa.
– Não concordo contigo, mas respeito. Vou contar, não.
– Valeu. — fui ao banheiro.
– Vou tomar meu banho lá fora, Joon. — Seokjin o informou, tirando a camisa.
– Mas já tá de noite e tá frio. Espera um dos dois terminarem o banho.
– Tem problema não. Não sou as Wonder Girls, mas I'm so hot! — terminou com uma piscadinha, arrancando um riso do meu primo, e saiu para o quintal cantando a música.

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Depois de todos tomarmos nossos banhos, nos encontrávamos reunidos na sala, comendo uma pizza gigante, ainda em silêncio. Eu mal conseguia mastigar. Sentia meu estômago embrulhado demais.

– Abre a boquinha, Kook! O aviãozinho quer entrar! — Seokjin quebrou o silêncio fazendo uma voz fofa e segurando um pedaço de pizza no garfo, mirando na minha boca.
– Quantos anos você acha que eu tenho, Jin? — reclamei apertando a barra da minha camisa favorita.
– É assim que a gente faz na creche que eu trabalho com as crianças que não querem papar a merendinha. Vamos lá! Zooooooom! O aviãozinho quer entrar na garagem, Kook!
– Abre, Kookzinho! O aviãozinho precisa estacionar! — Hoseok entrou na onda.
– Não deixa o aviãozinho esperando, Kookinho! — Meu primo completou. Cedi e abri a boca.
– Bom menino! — O loiro colocou a garfada na minha boca, bagunçando meus cabelos — Merece uma recompensa: um abracinho! — me abraçou forte, fazendo sinal para os outros dois se juntarem. E eles foram. — Uuuupaaa! Tá se sentindo melhor, agora, mocinho?
– Palhaçada! — ri cruzando os braços, não crendo na forma que estava sendo tratado.
– Ah, ah, ah! Sem malcriação, senão o Papai Noel não vem te dar presente no Natal! O Bom Velhinho só presenteia os meninos que foram bons durante o ano todo!
– Vai ver se eu tô na esquina, Jin. — esbravejei, mas ele colocou outra garfada na minha boca. — Ô, seu merd...
– Ai, ai, ai! Que boquinha suja! Boca suja merece ser lavada com sabão, sabia?
– Eu não sei vocês, mas eu quero muito assistir a uma aula do Jin! — Namjoon gargalhava.
– Assistir às minhas ninguém quer, né? — Hoseok bancou o dramático.
– Que feio! Não pode sentir inveja do coleguinha! — Seokjin continuou falando com sua voz fofa, como se estivesse conversando com as crianças às quais dá aula — Tem que fazer as pazes. Vai até o colega e aperta a mão dele e dá um abraço.
– Mas, mano, eu tô falando com você. — O dono da casa falou confuso.
– Sem mas, nem meio mas!
– Jesus. — Hoseok se rendeu e o abraçou.
– Agora diz: Você é meu amigo!
– Você é meu amigo. — o Jung disse com os olhos revirados.
– Muito bem! Não doeu, doeu? — Seokjin tirou um bombom de seu bolso — Aqui! Meninos bons merecem bombons!
– Tá falando sério, mano? — Hoseok sorriu.
– Sim! Você merece!
– Valeu, então! — sorriu e comeu seu bombom, ainda não acreditando.
– Seokjin, por que ele merece um bombom e eu só ganhei um abraço? — perguntei indignado.
– Ai, ai, ai! Você não estava prestando atenção no tio, né? Não falei que não se deve ter inveja dos amiguinhos? Vai até ele e o abrace! — os outros dois riram.
– Mereço! — ri também.
– E não é que funciona? — Seokjin voltou "ao normal".
– O que funciona? — Namjoon perguntou.
– As teorias de ensino e educação para crianças. Elas também funcionam com pessoas acima dos dezoito anos! Eu estava querendo comprovar isso e escrever um livro, e agora que vi que funciona, vou super começar a escrever! — sorriu.
– Nosso Seokjin é tão inteligente! — Hoseok bateu palmas e fingiu estar emocionado.

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Depois daquilo, conversamos mais um pouco, até que fomos dormir. Foi um dia confuso e assustador para todos nós, que faríamos questão de esquecer dele para sempre.

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