10: Quando minha camisa voltou a ter cheiro

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– Kook! — ouvi uma voz distante — Ei, filhão! — abri meus olhos instantaneamente. Era ele.
– J-Jimin? Quer dizer, pai? — me sentei no sofá e ele estava ao meu lado. Não havia mais ninguém no local. Ele vestia roupas claras e estava com o semblante tranquilo e sorridente.
– Entende, agora, por que eu não podia ficar com você do jeito que você estava querendo? — bagunçou meu cabelo.
– Sim, mas, por que não me explicou? Por que veio falar comigo, pra começar? Como?
– Nossa! Quantas perguntas! Mas eu entendo! Não te expliquei, porque você acharia que eu era um stalker, por saber da sua cidade e outras coisas. É assim que vocês falam, hoje em dia, né? Stalker? — riu — Ou então, que eu era um louco. Já pensou? "Não posso namorar você, porque sou seu pai." Quê isso? Darth Vader contemporâneo? — gargalhamos.
– Estava com saudade de ouvir sua risada... — falei cabisbaixo.
– E eu a sua, filho!
– Mas, por que não disse que queria se manter só meu amigo?
– Porque quebraria o seu coração e você não se recuperaria totalmente, porque teria sempre uma esperança no fundo de que eu pudesse ficar com você.
– Faz sentido. Como sabia disso?
– Sou seu pai. Eu te conheço. E isso você puxou a mim! E, sobre a sua segunda pergunta: eu sempre quis falar com você! Quando você nasceu, eu comecei a imaginar como seria quando você começasse a falar, e em como conversaríamos sobre tudo... Ah! — seus olhos brilhavam — Eu vim falar com você naquele momento, porque só naquele momento você criou uma rede social. Agradeça ao seu amigo, Seokjin, por isso! Como eu poderia me comunicar com você antes? Por carta? Para onde você enviaria as suas cartas para que eu as recebesse? A culpa da minha demora em ir falar com você foi sua mesmo! Nem vem! — fingiu indignação e rimos em seguida.
– Ah! Eu sempre faço burrada mesmo!
– E como! Você não sabe o quão difícil é cuidar de você!
– Como assim?
– Você acha que as coisas estranhas que te protegem são o quê? Mágica? — riu e seus olhos se apertaram — Sempre fui eu cuidando de você, filho! Te protegendo sempre!
– AH, MINHA NOSSA! FOI VOCÊ QUEM LAVOU E PASSOU A MINHA ROUPA NA MANHÃ SEGUINTE A DA FESTA DA FORMATURA?
– E quem mais seria?
– Glória a Deus! Eu achava que eu estava ficando maluco ou estava sendo assombrado por um satanás!
– Ai! Essa doeu! Não sou o Gasparzinho, mas sou um fantasminha camarada! Juro! — o senso de humor dele era incrível.
– Posso te perguntar o porquê de ter sempre cuidado de mim? Quer dizer, quando as pessoas morrem, elas... partem dessa pra melhor, não?
– Há muitas verdades para você acreditar, filho. Não cabe a mim te dizer o que acontece ou não. Mas no meu caso, eu não poderia deixar o meu único filho, ainda bebê, desamparado e sentindo falta de mim o tempo todo. Você era bem apegado a mim, sabia?
– Sim, eu fiquei sabendo há pouco tempo... então, você desistiu de ter o seu descanso por minha causa?
– E o que mais eu faria? Ir embora e deixar o meu filho largado nesse mundo? Eu te amava demais pra fazer isso, filho. Ainda te amo muito também. Mais do que qualquer outra pessoa vai te amar na vida.
– Também te amo... pai. — nos abraçamos com os olhos marejados. Pude sentir seu cheiro. Era como eu me lembrava da minha infância. O mesmo cheiro que a minha camisa tinha, antes de ser lavada várias e várias vezes.
– Você não desapegou mesmo da minha camisa, né? — brincou puxando a barra da camisa que eu estava vestindo quando finalizamos o contato.
– Ela é o único pedacinho de você que eu tinha. E eu nem sabia disso!
– Bom, agora você tem essa conversa pra se lembrar pra sempre, Grandão!
– Como assim? Quer dizer que nunca mais vai falar comigo?
– Agora, você já está crescido e sabe de toda a verdade! Não precisa mais de mim. Você fez um bom trabalho crescendo e sendo o homem que é hoje, Kook! Devo muito a sua tia!
– Mas, pai, por que não podemos nos ver sempre? Ou continuar nos falando pelo celular?
– Filho, é hora de desapegar. Além disso, seu velho merece um descanso, não acha?
– Velho? Velho nada! Só tem dois anos a mais que eu! — fingi que não sabia de nada.
– Dois mais vinte e um! — riu — É que eu como frutas e faço exercícios. Além disso, uso produtos para a pele e tomo suplementos alimentares que rejuvenescem o organismo! — gargalhamos.
– Não quero que você vá...
– Eu também não, mas é necessário... Preciso que entenda isso. Você compreende? — balancei a cabeça positivamente — Lembrei agora de quando você me pediu pra fazer uma ligação de vídeo!
– É mesmo! Por que não fez?
– Porque o sinal lá do outro lado é horrível! — rimos — Eu não menti!
– Entendi. — o abracei de novo e senti o corpo pequeno dentre meus braços — Você é pequenininho, pai.
– Sua mãe dizia a mesma coisa! — fingiu raiva, mas riu também. — Você ia adorar conhecer ela!
– Aposto que sim!
– Obrigado, filho. Por me mostrar que você foi a melhor coisa que eu fiz na vida! E, agora, eu posso descansar em paz, enfim!
– Mas, pai! E se outra lata cair na minha cabeça? Ou outro ônibus vier me atropelar? Quem vai me ajudar? — tentei o convencer com todos os argumentos que vinham na minha cabeça. Mesmo os mais bobos.
– Não me faça te mandar a lugares inapropriados na nossa primeira e última conversa, Kook! — riu e eu fiquei perplexo.

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