XIX - "walk away"

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andávamos lado a lado e a cada alguns segundos minha mão acabava por esbarrar na dele - sem querer; eu juro pelo que há de mais sagrado nesse mundo. tinha de reduzir o passo porque os seus pés eram muito mais rápidos, e eu, bem, não prestava muita atenção em nada.
andava muito distraída, como era aquela música dos mutantes mesmo? meio desligada. andava meio desligada, sem sentir meus pés no chão. sem sentir o vento, sem ouvir uma voz e nenhum barulho; um completo silêncio vindo da cidade mais barulhenta do mundo era algo no mínimo estranho. não via, também. se me pedissem para descrever aquela noite, eu não poderia. recordo apenas de poucos detalhes, que me servem de consolo nesses dias tão frios. bem dizem que o amor é cego, surdo e mudo.
aos poucos me deixei ficar para trás. parei para observar as estrelas e só fui dar falta dele ao meu lado quando não senti sua mão quente e desajeitada pendendo à ponta dos braços como um acessório. ele continuava seguindo em frente, mas não me convinha perguntar por que havia me deixado. não caminhou para longe subitamente. parecia apreciar cada passo longe de mim. era minha impressão, ao menos.
tentei alcançá-lo múltiplas vezes, e quando finalmente o fiz, percebi que tinha sido deixada para trás há muito, muito tempo.
não se pode recuperar o tempo perdido em estradas pelas quais fomos levados, pensei, e desisti de andar.
                                             onomatopwia.

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