O plano de minha mãe de me manter afastado de Jullieta deu muito certo. Emily ficou responsável por cuidar disso e eu fiquei furioso por que já não gostava muito dela e agora ser vigiado pela menina que me irritava era como estar preso em um navio pirata querendo ir logo para a prancha para ser jogado ao mar.
Agora passou a tomar café da tarde com minha mãe enquanto eu inventava que estava com sono. Sempre dormi pontualmente as dez, então minha mãe achou duas horas da tarde exagero de minha parte.
Me senti tão sufocado quando minha mãe percebendo minha ansiedade para admirar a rua pela janela a fechou de forma que ninguém poderia abri-la sem arrancar a parede.
Aos poucos meu sorriso se fechou a ponto de imaginar que tinha uma masmorra no lugar dele. Comecei a ficar amarelo feito japonês. Não tinha fome, não tinha ânimo, nem vontade de ouvir mais um A de Emily e minha mãe.
Iniciou que passei a responder mal as duas, mais minha mãe, que começou a me passar no psicólogo. Sua maior frustração foi ouvir do Dr. que precisava ver minha amiga, pois essa falta de rotina que havia imposto a mim mesmo poderia ter graves consequências se não fossem seguidas. Dona Elisabeth começou a achar esse papo de psicólogo uma idiotice e nem tive mais ninguém para me dar razão.
Os dias se passaram e meu semblante foi caindo em precipício. Não conseguia sair da cama. Nem eu entendia o motivo de meu corpo parecer uma bigorna gigante. Minha mãe suava frio, pois sabia do que eu precisava. Às vezes a ouvi chorando. Para ela Jullieta iria me fazer sofrer, mas quando viu que sua ausência poderia mesmo é me matar foi até sua escola e conversou com ela, sem eu saber.
Enquanto suava frio embaixo de um cobertor grosso em um calor de mais de trinta graus ouvi a porta se abrir. Não ouvi dois passos, ouvi quatro com meu ouvido de gato. Me escondi para não falar com Emily chatonilda, mas ao abaixarem meu cobertor vi um rostinho de guaraná geladinho na minha frente de suor e sorri feito bobo. Jullieta também sorriu e minha mãe um pouco, tipo só uma tirinha de sorriso.
Tomamos suco de cenoura com torta de frango, meu lanche da tarde predileto. Jullieta ficou com vergonha da minha mãe, mas ela foi boazinha e ofereceu mais torta pra minha guaranazinha que aceitou serelepe, balançando os pés no sofá. Percebi que minha mãe melhorou a fisionomia ao ver que Jullieta tinha minha idade e não era um e.t deslocado que parecia ter trinta com experiência de cinquenta.
Nos deixou sozinhos finalmente. Conversamos sobre nossos assuntos que nos faziam rir feito hienas com coceira. Jullieta pegou na minha mão pra ver se estava suando ainda, mas já havia normalizado tudo dentro de mim. Voltei a sorrir pra fora do rosto. Tomei a liberdade de experimentar um beijo na garota a minha frente. Beijei na bochecha, pra ver qual era o gosto e era gostoso, era fofinho. Ela me deixou pegar no seu cabelo para ver como era ele todo de uma vez na minha mão. Era fofinho também. Ela passou a mão no meu cabelo lisinho e disse que era o cabelo mais liso que ela conheceu.
Jullieta se despediu de mim e minha mãe pedindo desculpas por ter me feito mudar de cidade e escola, mas disse que também precisou mudar, mas mudou de assunto para não precisar dizer o motivo.
Minha mãe não sorriu com todo o rosto, mas agradeceu por ela ter pedido desculpas e eu agradeci minha mãe por agradecer a Jullieta e virou uma despedida de agradecimentos.
Depois desse dia minha mãe liberou um dia da semana para conversarmos enquanto assistíamos a nossos programas preferidos. Eu ria muito, primeiro de felicidade, segundo porque Jullieta era engraçada.
Já havia virado rotina nos vermos uma vez na semana, por meses e por anos. Quando estava no último ano do ensino médio resolvi ousar e lasquei um beijo dramático na minha melhor amiga. Ela riu, disse que eu era engraçado beijando, então me ensinou. Quando minha mãe nos viu nesse beija que beija resolveu que era hora de levar Jullieta ao médico.
Nesse tempo era como da nossa família, apesar da gente não conhecer a sua. Era estranho, mas a gente não insistia. Do outro lado Jullieta disse que eles sabiam que ela vinha me visitar uma vez por semana por todo esse tempo. Acreditamos, talvez por conveniência, mas acreditamos.
Aquele foi o segundo pior momento da minha vida. Minha mãe voltou sem Jullieta. Estava furiosa, estava soltando fogo pelas narinas, estava gesticulando muito mesmo, só fazia isso quando brigava com o meu pai. Mais uma vez disse algo que me fez sentir uma pontada de uma espada afiada no peito. Não poderia mais ver Jullieta. Motivo: era muito avançada pra minha inocência. Não entendi. Como alguém pode ser avançado? Não usou qualquer outro termo além desse.
Não entendi, mas não permiti. Dessa vez não ia passar pela dor que já havia passado. Enfrentei minha mãe, mas em vão. Ela passou mal, foi para o médico e ele disse que ela não poderia passar nervoso.
Naquela altura não podia mais fazer nada que não tivesse minha Jullieta pelos meios. Era uma vez por semana, mas os preparativos pra vê-la preenchiam todos os meus dias. Não havia mais forma de esquecer a menina forte e determinada que vencia todas as partidas de vinte e um, parecia guru. Não dava pra deixar de sentir o aroma de perfume de café com leite que exalava por toda a casa, mesmo um dia após sua saída. E o sorriso, e o som do sorriso? O rostinho que às vezes do nada ficava sério e pensativo e que eu daria tudo pra comprar apenas um minuto de pensamento da menina de cabelos de leãozinho.
Dessa vez não poderia ficar doente senão nossa família acabava por ali, mas não pude resistir. Pesquisei um jeito rápido de não ficar mais nesse mundo, mesmo sabendo que minha mãe iria se magoar, mas aí eu não iria ver. Não sabia, mas ela monitorava tudo o que eu pesquisava na internet. Me internou, foram os piores dias da minha vida, mas para minha sorte ela não aguentou viver sem mim e me contou a verdade de forma detalhada para ver se desistia de Jullieta.
Descobri que meninas têm uma coisa que meninos podem romper e a dela já havia rompido e isso pra minha mãe queria dizer que ela não era mais inocente e iria me magoar. Quando fiz a ligação de tudo que minha mãe disse achei sem sentido algum. Sempre comia a primeira bolacha do pacote e isso não impedia os outros de terminar o pacote e eu não me magoava. Quando entendi um pouco mais achei minha síntese patética. Mesmo extremamente contrariada, minha mãe me disse que fosse falar com Jullieta, se ela ainda a perdoasse poderíamos namorar de verdade.
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PARA SEMPRE JULLIETA
Любовные романыLouis é uma menino introvertido, romântico por força do hábito e diagnosticado com Asperger em sua infância o que o torna alvo de olhares tortos, resultando em uma auto imagem depreciativa e abandono paternal. Seu porto seguro, seu ponto de equilíbr...