A FORÇA NÃO VINHA DOS CABELOS DE JULLIETA

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Após uma semana de idas e vindas por conta da mudança, consegui me assentar em nosso novo quarto de hóspedes. Mesmo que Dr. Hermann demonstrando apoio de um pai, era assim que ainda me sentia.

Os resultados dos exames de Jullieta haviam chegado. Descobrimos que a quimioterapia não havia obtido o efeito desejado. Precisaria de mais sessões ou uma cirurgia de retirada de um fígado. Determinada Jullieta resolveu encarar mais sessões que agora seriam feitas em um hospital mais próximo da casa do Dr. abobrinha.

Sabíamos que precisávamos conversar sobre nosso futuro e decidimos que voltaria a procurar emprego dentro da minha área para podermos nos mudar definitivamente para nossa casa e Jullieta me surpreendeu ao confidenciar que se inscreveria para o vestibular de Direito no próximo ano, precisava fazer algo por si.

Olhar aqueles olhinhos explodindo como duas pipocas me encheu de paz, mas me preocupava saber que encararia uma sala cheia de jovens e Jullieta já passada dos vinte e com toda aquela bagagem poderia ser alvo como eu fui por anos de olhares maldosos ou de piedade. Não poderia desanimá-la, mas não pude deixar de me preocupar. Como ainda faltavam alguns meses para o vestibular, resolvi me acalmar, eram muitas informações, estava abatido por tantos percalços.

Em um dia de reunião de família, com poucos parentes do Dr. Hermann mamãe apareceu em casa com uma surpresa para Jullieta. Era uma peruca cor de guaraná, na altura do ombro. Há uma coisa estranha nas perucas: você está com cabelo, mas o cabelo não está com você. Tentava com todo o esforço do mundo ver cabelos saindo da cabeça de Jullieta, mas parecia um corpo estranho. Tentamos colocar um chapéu, uma tiara, um lenço, mas a peruca parecia uma intrusa com problemas de socialização. Jullieta agradeceu, mas ficaria careca mesmo. A essa altura já havia me acostumado com sua nova aparência, mas sua palidez me preocupava.

Mamãe a auxiliava em seus enjoos e mau humor. Saiam para se distrair e eu esperava sempre em casa após um dia exaustivo de procura ao trabalho. Em uma dessas oportunidades apresentei um de meus projetos à empresa a qual meu ex-patrão mantinha sociedade até rompê-la por uma razão desconhecida. Ao analisar meus projetos se viu confuso. Com um imenso tapa na testa me recordei que meus projetos eram lhe apresentado como os da empresa. Por conta dessa duplicidade de Projetos a empresa foi obrigada a investigar tanto a mim quanto meu antigo chefe e fora constatado que eu o realizara a priori.

De forma ocasional fali a empresa do meu antigo chefe o qual nem digo o nome, pois é um patife, meus amigos perderam o emprego, se é que poderia chama-los de amigos, pelo simples fato de saberem que ficaria à mingua e nem o favor de me colocar a par da situação foram capaz, e tirei o sorriso do cara de banana nanica aguada. Receberia indenização, mas o infeliz teria que vender alguns bens para me pagar.

Como resposta a minha paciência e na verdade idiotice de não ter pensado nisso antes, recebi uma proposta para trabalhar na empresa do Dr. Eustáquio Chaves. Olhava para ele e tentava associar a algo comestível, mas na verdade tinha cara de tábua de passar roupa. Minha Jullieta voltou a ter um plano de saúde bom que supria todas as suas necessidades. Iniciaria a usá-lo no início do ano.

Estava mais uma vez sem ar perante tantas mudanças, na verdade era para estar apavorado, tantas mudanças em tão pouco tempo era para no mínimo me matar, e estava ali, não sei se já não morto, mas sabia que em breve faríamos nossa última mudança de casa. Ao menos era o que desejava, pois do contrário, talvez eu não resistisse mais. A força de Jullieta não estava mesmo em seus cabelos. Estava mais serena que o marido estranho dela.

PARA SEMPRE JULLIETAOnde histórias criam vida. Descubra agora