Mesmo assustada, Jullieta aceitou passar por consulta e realizar mais exames. Estava amarela, um pouco enjoada. Decidiu continuar a trabalhar e ir para a faculdade até saber o que realmente estava se passando. Algumas vezes voltava do meio da aula, pois estava com ânsia e dor, além da febre, mas prosseguiu, não queria desistir do que conquistara.
Ligava uma hora sim e outra também. Minha concentração no trabalho decaiu, então compreendendo meu caos, meu chefe me concedeu um mês de férias para poder cuidar de Jullieta, havia me indicado para um novo projeto, mas não conseguiria enquanto não soubesse o que de fato acometia minha doce menina.
Alguns em meu trabalho diziam que eu era privilegiado, o garoto do chefe, o iluminado. Alguns na verdade se envenenavam, mas apenas um lançava a semente do mal na fazenda dos importunos: Diego Tavares. Sempre permaneci firme perante as provocações, mas nesse dia ao ouvir de um desajeitado que o mais que fazia era fingir que fazia algo, que eu tinha a empresa nas mãos me ergui confiante, e mesmo desajeitado na fala, discursei que se ele estive em minha pele um só minuto saberia o que é a dor de ver quem se ama sofrer e não poder tirar esse sofrimento de dentro dela.
Prossegui dizendo que não entenderia mesmo, era um mimado, acostumado a colecionar mulheres, pensões. Dependia da mãe para ajudar com as ex-namoradas, mulheres, casos, que não dava conta, não sabia o que era depender de um único ser. Disse que poderia ceder minhas férias para que me ajudasse nessa situação, mas no caso sabia que não daria conta, então o melhor seria eu mesmo fazer esse papel de homem. Ele quis responder, mas não havia o que dizer. Não gosto de discussões, mas falar de mim não havia problema, mas nesse momento considerava que também estava falando de minha garota.
Todos, menos o metido a canastrão me abraçou em apoio. O metido a superior apenas se recolheu em sua insignificância, sua falta de tato social, naquela cabeça de banana nanica, cumprida, mas ao mesmo tempo pequena, inclusive no cérebro.
Retornei a casa com a notícia. Achei que Jullieta ficaria feliz por saber que estaria a seu lado, mas recebeu a notícia com indiferença. Alegou que conseguiria se ajustar ao que viria, estava preparada. Enquanto falava notava sua expressão debilitada. Concordei, mas disse que precisava descansar, não era forte tanto quanto ela. Ela sorriu como quem diz: "Lá vem ele com seu jogo de cintura para me persuadir". Respondeu mais animada que então a ajudaria com os trabalhos, pois não queria homem vagabundeando em casa. Retribui o sorriso e bati continência. Em resposta ganhei uma almofada na cabeça.
Jullieta era tão organizada que já havia separado seus medicamentos para controlar ânsia, febre e dor de maneira categórica. Estava se sentindo melhor o que lhe conferiu mais ânimo. A noite quis manter relações, mas insinuei que seria melhor descansar. Bola fora. Dormi no sofá.
Não sei se algum medicamento estava afetando seu humor. Estava diferente. Sempre foi geniosa, e isso lhe conferia um ar forte, mas agora estava nervosa, irritada, com farpas nas palavras. Notava que tratava de forma hospitaleira a todos, menos a mim.
Mamãe me explicou que deveria ter paciência, estava com medo, mas a cada dia estava mais irritada comigo. Me fez dormir no sofá até o dia do resultado do exame. E quase não permitiu que a acompanhasse, estava fria.
Apenas percebi o que estava ocorrendo, quando peguei em seu celular uma mensagem de um garoto, um motoboy que lhe entregava o marmitex no trabalho, com certa intimidade. A esperei chegar em casa e pedi para me mostrar o celular, que já sabia de tudo. Me agrediu com palavras e com braços e tudo o que encontrasse pela frente.
Me senti pequeno, me senti perdido. Corri o máximo que pude. Me perdi literalmente após pegar o primeiro ônibus que encontrei pelo caminho.
Meu celular tocou infinitas vezes, apenas atendi quando mamãe ligou. Disse que estava bem, apenas queria ficar sozinho. Pensei em papai, pensei no asqueroso pai de Jullieta, pensei em todos que foram vis em sua vida, e por último, pensei em mim. Nunca pensaria em mais ninguém além de Jullieta, mas ela pensou em alguém além de nós. Pela primeira vez me perguntei se Jullieta era quem eu imaginava que fosse. Talvez não tivesse sentimento também, talvez nunca gostasse de mim, talvez estivesse apenas confusa, ou talvez não fosse quem eu pensava.
Quando mais uma vez me ligou, resolvi atender. Disse para que voltasse, precisava me explicar o que acontecera, que precisava de mim, que não era nada do que estava imaginando. Não respondi nada, mas dadas as circunstâncias, resolvi retornar, alguém precisava cuidar de Jullieta.
Retornei de taxi, pois nem sabia que ônibus deveria pegar para retornar para a casa. Jullieta me recebeu com um abraço que desta vez não retornei. Me pediu para sentar. Iniciou dizendo que em nenhum momento se sentiu confusa, ou que não me amava. Apenas estava se sentindo incompleta, triste, menos mulher e ouvir elogios de outra pessoa lhe faziam bem, mas quando esse alguém quis avançar, ela entendeu prontamente que não era isso que queria.
Não era pra entender, mas compreendi. Pedi apenas para que me desse um tempo, que precisava processar o último ocorrido. Precisava restabelecer meu equilíbrio. Não demorei muito na verdade para processar. Apenas me recordei que na manhã seguinte iriamos buscar os resultados do exame de Jullieta, talvez não recebesse as melhores das notícias, então por que insistir em algo que não mudaria em nada o que constava naquele pedaço de papel.
Quando cheguei ao quarto e vi Jullieta encolhida, triste, joguei o último acontecimento pela janela e compreendi que fora apenas um momento de euforia o qual naquele momento eu não poderia lhe proporcionar. Precisava de uma segunda opinião, elogio, mas se disse que não acontecera nada além daquilo, eu iria acreditar.
Me deitei a seu lado. Ela se virou surpresa e me abraçou sorridente. Há dias não via esse sorriso, compensou tudo. Passei minha mão pelos seus cabelos, seu rosto, seu corpo ao que retribuiu.
Aos poucos o momento de carinho foi se tornando íntimo. Vi minha garota confiante, se desprendeu, se soltou. Vi minha Jullieta novamente ali e tudo retornou em seus eixos. A beijei por completo, a tomei com tanta vontade que gemeu. Me assustei, porque sou um pamonha sem eira nem beira, ela sorriu, mas chegou ao seu ápice e eu também.
Nos beijamos muito após este momento. Nos beijamos como se não fossemos sobreviver ao apocalipse. Parecíamos dois adolescentes treinando técnicas de beijos. Toda a tensão que passei durante esses dias e nos últimos momentos se dissipou. Imaginei se isso era felicidade plena, não sei, mas bem poderia ser.
Julietta adormeceu em meu braço e ele também adormeceu, tive trabalho para fazê-lo reconectar ao meu corpo pela manhã, mas nada importava. A paz que eu precisava estava ali, deitada sobre ele, tranquila, serena, bela, deslumbrante. Passei minha mão sobre a marca da cirurgia da minha cenourinha e me orgulhei. Todos nós temos nossas marcas de guerra e Jullieta tinha as suas, mas pra mim era como aquele machucado que quando criança, você se orgulha, pois sente que sobreviveu a mais uma aventura. Por fim, pleno, adormeci.
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PARA SEMPRE JULLIETA
Любовные романыLouis é uma menino introvertido, romântico por força do hábito e diagnosticado com Asperger em sua infância o que o torna alvo de olhares tortos, resultando em uma auto imagem depreciativa e abandono paternal. Seu porto seguro, seu ponto de equilíbr...