Doze

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Quando eu chego em casa, ela já está, e as crianças vem falar comigo, mas ela não diz uma palavra.
Ela os leva pro quarto e eu sento, encosto no sofá e olho pra cima, algum tempo depois, eu ouço passos na escada, antes de terminar os degraus, ela diz
- Eu quero você fora daqui, amanhã
- Eu ainda não tenho pra onde ir
- Dane-se, o que foi que você disse pra Zola que ela acha que você tá triste?
- Ela percebeu que eu estou triste, foi ela que falou comigo, eu não disse nada
- Eu não quero saber, apenas saia, é a minha casa, meus filhos, a minha vida e eu quero você fora dela
- Eu preciso de mais alguns dias
- Andrew, você acha que tem alguma coisa errada comigo não é? Você já percebeu que meu único problema é você? Sua presença me lembra constantemente aquele dia, eu não quero olhar pra você, falar com você e eu não posso imaginar você me tocar, você acha que eu já não quis sexo? É claro que eu quero, mas não com você, por consideração, eu vou te deixar passar a noite, se suas coisas tiverem aqui quando eu chegar do hospital amanhã, eu jogo na rua e boa noite
Ela volta a subir as escadas e eu corro pro banheiro pra vomitar, eu não consigo acreditar que ela pode ser tão cruel, acho que agora eu não tenho mais o que fazer, eu tenho que ir embora, quando eu consigo acalmar meu estômago, subo tomo banho e começo a tirar as roupas do guarda-roupas e colocar numa mala, não tenho ideia de onde eu vou, eu nem me preocupei em procurar nada, as palavras que ela disse ecoam na minha cabeça, um bolo cresce na minha garganta, lágrimas insistem em borrar minha visão mas eu não deixo que elas caiam, eu queria bater em alguma coisa mas faria barulho, as crianças estão dormindo, eu não faço ideia de como eu vou ficar longe deles, já é madrugada e eu sigo arrumando minhas coisas, eu sei que eu não vou dormir, então eu ouço gritos, mais um pesadelo, eu corro pro quarto dela, o que vai acontecer quando eu não estiver aqui? Quem vai acorda-la e fazer ela perceber que tá segura? Eu abro a porta devagar e a ouço gritar
- Andrew, não, por favor, não vá, Andrew, não
Cada vez que ela diz meu nome é como se um pedaço do meu coração fosse arrancado a força
- Meredith, acorda, você tá em casa, tá segura, acorda Mer
Nós nunca falamos sobre os pesadelos dela, depois que ela acorda, eu só saio do quarto e fingimos que nada aconteceu
- Mer, acorda, tá tudo bem, eu to aqui, é o Andrew
Ela se senta na cama com respirações curtas, ela olha pra mim
- Eu já disse que não quero ver você, mas que droga, saia daqui, suma da minha vida
Eu saio do quarto dela, eu vou embora imediatamente, mas as lágrimas que eu tanto evitei caem antes que eu chegue ao quarto, eu tropeço e termino no chão do corredor, eu não tenho mais forças pra continuar, eu só quero sair daqui e parar de ser tão magoado, todos os dias, eu só quero que essa dor vá embora, quando as lágrimas começam, não querem mais parar, eu choro por tudo o que já aconteceu, por cada vez que eu engoli, eu simplesmente não consigo parar, não consigo levantar, eu não consigo respirar, não tem ar suficiente, eu realmente daria tudo pra sumir, eu ouço passos mas não consigo olhar
- Andrew
Ela me chama baixinho
- Andrew, o que houve?
Eu não consigo olhar pra ela e também não consigo parar de chorar, ela se abaixa
- Você tá machucado? Precisa de ajuda?
- Não... tá... tudo bem
Eu seco as lágrimas mas elas não param, que droga, só saiu um fio de voz
- Andrew, eu...
- Não... precisa
Eu respiro fundo, seguro na parede e fico em pé, mas minha respiração falha e eu me curvo, imediatamente ela me segura
- Você tá tendo um ataque de pânico m, vem aqui
Ela me ajuda até chegar na cama e eu sento
- Respira devagar, Andrew
- Não... precisa... só volte... saia
- Shiu, não fala, se concentra na sua respiração
Ela tá parada na minha frente mas eu to curvado, não a vejo, ela passa  a mão pelo meu cabelo, ela se aproxima um pouco mais e desce as mãos pelo meu pescoço e ombros, ela se aproxima ainda mais, me fazendo ficar mais reto, eu finalmente olho pra ela, ela também tem lágrimas nos olhos
- Continua respirando fundo
Ela diz baixinho e me abraça, eu fecho os olhos e retribuo o abraço, ficamos assim por alguém tempo até minha respiração normalizar, sinto a mão dela no meu cabelo novamente
- Desculpa, eu não queria que fosse assim
- Não precisa pedir desculpas, eu sinto muito por isso, fugiu do meu controle
Eu solto meus braços
- Eu já to bem, obrigado
Mas ela não se afasta
- Não, você não tá bem, nós não estamos bem
- Eu vou respeitar sua vontade
Ela suspira, se afasta um pouco e levanta minha cabeça pra que eu olhe pra ela
- Eu não quero nada disso
Então ela me beija, eu levo um tempo pra reagir, não esperava por isso, mas eu beijo de volta, eu senti tanta saudade dela, ela se senta no meu colo e meus braços voltam ao redor dela, deitamos na cama, sem parar o beijo, quando ela se afasta pra tirar a blusa, eu digo
- Você tem certeza?
- Eu quero, Andrew, por favor, eu preciso
- Mas você disse...
- Esquece o que eu disse e me mostra que ainda me ama, mesmo eu estando quebrada
- Você não está quebrada e eu amo você
Nós voltamos a nos beijar, o sexo foi diferente dessa vez, foi lento, calmo, eu beijei todo o corpo dela e disse que a amava muitas vezes, eu a vi chegar ao orgasmo muitas vezes antes de irmos juntos, estamos abraçados na cama, sinto ela passear pelo meu peito com os dedos
- Andrew, tá acordado?
- To
- Obrigada
- Mer, sério?
- Não, não pelo sexo, foi incrível mas não é por isso, obrigada por ficar, por não me deixar, eu fui horrível
Eu aponto as malas
- Bom...
Ela se senta, pega minha camisa e veste
- Não vai, não, me ouve, eu tava sendo horrível porquê eu queria que você me odiasse, eu queria que você fosse embora sem sentir culpa por me deixar por que eu era desprezível, Andrew, eu queria beijar você, eu queria tanto dormir nos seus braços que mal conseguia dormir mas eu sentia muito medo também, eu tive medo de pedir pra você dormir comigo e te expulsar no meio da noite, eu tinha medo de te beijar e não conseguir, eu tentei lembra? Eu não queria que você tivesse que ficar comigo por obrigação, pelo cara incrível que que você é, então se eu te expulsasse, seria mais fácil pra você
- Independente da situação, não importa o que aconteça, não seria fácil te deixar
- Eu não sei como você conseguiu, eu fui horrível
- Por que eu amo você
- Ama muito mesmo
Eu sorri
- Muito mesmo
- Você me perdoa? Eu quero tentar, mas é tão assustador
Eu arrumo o cabelo dela
- Eu não vou a lugar nenhum e basta você me dizer quando tiver com medo e nós tentamos resolver
- Então promete que vai me tratar normalmente agora
- Como assim?
- Você me avisa até se vai dar um passo mais perto, é condescendente o tempo todo e não toca em mim, eu sei que foi tudo horrível mas eu não vou quebrar, eu preciso da normalidade, eu preciso da gente de volta, como era antes
- Eu vou tentar, eu prometo
- Eu não posso garantir a frequência que isso vá acontecer mas volta pro quarto, dorme comigo
- Eu não me importo com a frequência desde que eu esteja com você
- Você é ridícula e apaixonadamente fofo ao mesmo tempo
Ela volta a deitar no meu peito
- Eu to tentando decidir se isso foi um elogio ou não
Ela ri, eu senti tanta falta desse som, eu a abraço mais forte
- Vamos pra nossa cama? Eu gosto mais de lá
- Nossa?
Ela olha pra mim e sorri
- Nossa
Nós levantamos e vamos pra nossa cama, pra uma ótima noite dormindo juntos, assim, apoiando e confiando um no outro, eu sei que nós vamos passar por tudo isso.

Fim

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