With Belong With me e os blocos de concreto

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Pacientes eram terminantemente proibidos de perguntar sobre outros pacientes, não importa o motivo, não importa o tamanho da sua curiosidade. E as Flores eram claramente proibidas de dar quaisquer que fossem as informações sobre outros pacientes, o que limitava minhas chances de saber mais sobre o caso do quarto azul. Eu poderia simplesmente deixar para lá? Poderia, mas não é algo que eu quisesse fazer. Alisson sempre dizia que eu devia insistir nas coisas que eu queria, que eu não deveria desistir facilmente, porque era o que eu costumava fazer. Não era boa em insistir nas coisas, e nunca tive uma curiosidade tão avassaladora que me fizesse ir até o inferno procurar por algo. Não que eu realmente acredite no inferno, fui criada com crenças completamente diferente da famosa divulgação cristã de céu e inferno, então não acreditava nessas coisas. Mas eu jamais tinha ido até o inferno para saber de algo.

Provavelmente minha vida antes do dia 14 de agosto era tão monótona quanto a de qualquer garota de 16 anos, ainda mais sem toda a agitação dos garotos, das amigas e das festas e de tudo que o ensino médio proporcionava para aquelas princesinhas loiras que dividiam a turma comigo. Não me arrependo de nunca ter feito parte de nada disso, sempre acreditei que fosse mais uma das futilidades adolescentes, mas talvez isso tivesse me feito ser um pouco mais esperta com relação as fofocas do mundo. Toda essa história do quarto azul não passava de uma fofoca, eu sabia disso, mas não significa que eu não pudesse estar totalmente interessada. E aqui no hospital Santa Lúcia para pessoas mentalmente debilitadas eu não tinha um clã de loiras fabulosas que sabiam tudo de todo mundo para me dizer os segredos obscuros de Louie.

"Você não vai ficar sentada sem fazer nada enquanto isso corroe sua cabeça né ratinha ?" A voz da Alisson ecoava na minha cabeça com as mesmas palavras que ela dizia quando eu estava prestes a desistir de qualquer coisa.

Todo ano na escola tínhamos uma semana de gincanas, e o último dia era composto por um mini show onde os alunos mostravam seus talentos. No ano anterior eu queria cantar You Belong With Me no último dia de gincanas, eu sempre cantava com Alisson essa música, e ela estava possivelmente mais animada que eu por eu estar me arriscando a fazer algo diferente. Ela iria recitar um poema que ela escreveu e tinha ganho um prêmio na cidade, todos estavam ansiosos para ouvir o poema premiado. Mas uma garota da outra turma convenceu a professora responsável de que a música que ela queria cantar seria mais legal do que You Belong With Me e me tirou do show. Alisson ficou tão nervosa que brigou com a professora e foi parar na diretoria, eles queriam tirar ela do show também mas não podiam excluir um poema premiado do show medíocre que eles estavam preparando.

"Você não vai ficar sentada sem fazer nada enquanto isso corroe sua cabeça né ratinha ?" Foi exatamente o que ela disse naquela noite quando eu estava resmungando sobre isso sozinha no meu quarto. Eu disse que eu não tinha uma música premiada para apresentar e ela se sentiu um pouco mal por ter explodido com a professora. Não era culpa dela, eu sabia disso, ela sabia disso. Só que as pessoas preferiam ouvir uma das meninas populares cantando do que a garota que senta sozinha a maior parte do tempo.

No dia do show, Alisson foi aplaudida de pé pelo poema premiado, que era fabuloso, mas eu já tinha ouvido um milhão de vezes. A garota que tomou meu lugar cantou uma música popular com as amigas e as pessoas aplaudiram ela. Eu assisti tudo sentada com meus pais na terceira fileira, imaginando como seria se eu tivesse ouvido Alisson e lutado pelo meu direito de cantar, sendo que eu tinha sido a primeira a me candidatar. Eu imaginei as pessoas dançando ao ritmo que eu cantava e depois me aplaudindo em pé, como fizeram com a Alisson. Eu imaginei que poderia ter uma microfonia tão forte que deixaria as pessoas irritadas, que eu poderia tropeçar no palco, ou que eu não fosse tão boa quanto Alisson dizia, e que ao final eles iriam vaiar a minha tentativa de me expressar. Passei tanto tempo pensando nisso que não vi metade das apresentações e ao final do show ainda não tinha me decidido se não cantar havia sido uma boa ou uma má escolha.

Querida AlissonOnde histórias criam vida. Descubra agora