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-Eu

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-Eu... eu estou com medo. Não vou conseguir. – Sussurrei entre lágrimas, temendo o pior.

-Ei, olhe para mim, Agnes. – Ela disse, mas eu não conseguia se quer abrir os olhos. Eu não queria ver. – Eu e seu pai iremos te segurar, querida.

-E se eu cair?

-Pequena, todos nós já caímos algumas vezes. Às vezes é necessário para nós aprendermos. – disse meu pai, que eu agora estava observando.

O ângulo em que eu os via era ruim. Eu estava tremendo, com medo e ansiosa. Eu havia subido em uma árvore para pegar uma flecha minha que havia prendido entre os galhos, depois não consegui descer.

-Tudo bem...- Fechei os olhos com mais força ainda e pulei. Meu pai me segurou e minha mãe soltou uma gargalhada, a mais linda que já ouvi.

-Viu? Por isso não devemos ter medo. Temos que acreditar no nosso potencial, e o seu é enorme! – Então ela me encheu de beijos.

No momento em que passo pela barreira, penso na minha família e o quanto eu a amava. Eles me ensinaram a ser forte. Destemida. E eu os perdi. Foram mortos, por alguém. Quando os vi, acabados e inconscientes, eu só pude chorar. Me agachei e agarrei ambos corpos, os abraçando e gritando que fosse mentira. Naquele momento, prometi os vingar, então passei o resto da vida procurando um culpado. E encontrei. Um velho fazendeiro que morava perto, eu acabei com a vida dele em poucos segundos.

Observo que aqui o clima é frio e escuro. O som de vultos e grilos é irritante, mas sigo andando mais ainda.

Fiquei tão entretida em meus pensamentos que percebi que eu já estava em uma espécie de vilarejo. Vazio. Sem sequer uma alma. Talvez os noturnos estivessem em suas casas. Ou não. Eu não sei nada sobre eles. Grimm era um noturno, então talvez sejam estranhos e traiçoeiros como ele.

Mas o que mais me apavorava era não entender por que o velhote me mandou pra cá. Eu tenho uma coisa que eles querem, Arabella tinha me dito, mas eu não tenho nada. Tenho só um arco, flechas e uma bolsa. Isso interessaria seres místicos, espirituais e deuses? Chuto que não.

Mais longe dali, tinha um grande e enorme castelo, preto e com gárgulas voando por toda parte. Parecia uma pintura de tão maravilhoso que era ver aquilo. Me aproximei do grande portão de ferro e o empurrei para abrir, rangendo tão alto que eu mesma me assustei, mas abriu. As gárgulas se assustaram com o som e ficaram alertas em mim, quando olharam em meus olhos, fugiram. Com certeza foram avisar a dona ou dono do castelo que uma estranha estava invadindo e pedir permissão para comer meus olhos e ossos.

Andei por um extenso jardim morto até chegar a segunda porta. A qual entrei facilmente, e era estranho. Um castelo tão perverso ser tão acessível. Esse lugar de certa forma me causou incontáveis sensações, era como se eu pudesse sentir cada neurônio presente em meu cérebro.

Olho em volta, e percebo um grande salão com muitos candelabros, lustres, sofás e as cores preta e vermelha predominantes. Percebo o ar sexy que esse lugar exalava e dei uma risada, Arabella adoraria o lugar. Ela sempre foi muito atirada ao primeiro que aparecesse para ela.

Passo o meu olhar por cada parte desse lugar, cada som que ele me presenteava a ouvir, cada calafrio, até que por algum motivo me viro para trás.

E então, o vejo. O resto em volta, os rugidos identificáveis, o choro de alguma alma atormentada, os vultos que causam calafrios, as portas rangendo, os lustres balançando e piscando, qualquer coisa peculiarmente estranha não era nada perto do que vi.

Suspiro tentando entender se era ou não real. Tentando entender o que era. Dizem que os olhos são a janela da alma, seus olhos vermelhos diziam muito sobre ele.

Me atrevi a me aproximar, dando longos passos, devagar o suficiente para poder observar e pescar cada detalhe extraordinário. Sua boca era tão desejável e suave. Quase como uma pena, ou uma folha. Eu queria me aproximar o suficiente para poder senti-la, mas eu não sou esse tipo de pessoa. Ele finalmente subiu o olhar ao meu. Seu cabelo era como ébano e sua pele como o céu. Tão branca.

Eu tinha muitas perguntas, mas eu não fui capaz de abrir a boca. Quando ouvi risadinhas, sai do transe intenso em que eu estava, e percebi que meu corpo estava a menos de três passos do corpo dele. Quando sua boca fez um movimento afirmando que ele estava prestes a dizer algo, um estrondo se fez naquele grande salão, uma porta que ficava em um canto qualquer, se abriu.

Surgiu então, um ser de 2 metros de altura, sua pele era áspera e de uma cor puxada para o verde musgo, mas claro. Ele tinha feições parecida com as de humanos, mas era bem diferente.

-Senhor Jockel, desculpe interromper. Mas achamos o que o senhor procurava, é essa jovem. – Ele jogou um saco no chão e de dentro saiu uma mulher, ela era morena e tinha lábios invejáveis. Seu cabelo era como ondas lindas. Ela estava aterrorizada, mas quando olhou para Jockel, que agora já estava distante de mim, ela desabou. Começou a tremer, parou de chorar e sua perna tinha espasmos. Na medida que Jockel se aproximava dela, ela ficava mais assustada. Observando tudo aquilo, percebi que a mulher era como eu, uma "mortal". O reino Gweneth era proibido para nós, mas o que ela estava fazendo aqui?

-Acalme-se, criatura. – Ele agachou-se perto da mesma, e ela se retraiu para um conforto que não iria ter. Ele tocou em seu cabelo e a acariciou. – Diga: Quod promissum est cor meum, et dabo vobis cor tuum mihi, et tibi et mihi.

A garota franziu a testa, mas não hesitou em obedecer. Disse a frase em latim, idioma que eu entendia perfeitamente sem entender. Ele sorriu, mas de uma forma ruim.

-Inútil. Você foi inútil. – Ele, em um ato horrível, arrancou o coração da mesma. E pela ironia, meu coração acelerou, mas eu não podia fazer nada. Ela estava morta. Jockel olhou para mim e se levantou.

-Vai levar um tempo para limpar todo esse sangue do chão. – Eu disse.

-Quem é você?

-Felizmente não sou essa pobre garota, imagina, ser morta por um ser tão intrigante e... diferente. Lá no lado Celestia me chamam de Agnes. – Ele estava mais perdido do que nunca, e era extremamente perceptível.

-Magnus, leve ela para um quarto, e você, Agnes, espere por mim lá.



Caçadora - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora