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O quarto cheirava a lavandas, o que me fez lembrar de mamãe e o quanto ela amava todos os tipos de flores e plantas, até aquelas mais venenosas

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O quarto cheirava a lavandas, o que me fez lembrar de mamãe e o quanto ela amava todos os tipos de flores e plantas, até aquelas mais venenosas. O chão era de um mármore caro e extravagante. Havia uma cama bem grande e cheia de almofadas, um armário enorme e uma mesinha encostada no canto, fazendo conjunto com a visão desse lugar pela janela.

Eu queria muito entender o que estava acontecendo comigo e que decisão maluca foi a que eu tive. Eu queria fugir do que eu estava sentindo, o sentimento de angústia e medo. E eu fugi. Mas, isso me custou tudo. Grimm mentiu para mim, e por mais que eu não me importasse, me senti traída.

A minha única responsabilidade era ficar em Gweneth, mas por quê? Donato era um comandante muito influente em Celestia, eu estaria morta se o desobedecesse, mas o que ele queria?

E Jockel? Ele arrancará meu coração como o da pobre moça? Com certeza ele não é do tipo que se sente junto a uma dama e a oferece chá.

-Você pensa demais. – Ouço a voz rouca e sensual dele. Encaro a porta e o vejo.

-Às vezes é preciso, Jockel. – Ele entra no quarto e se senta na cama, ficando de frente para mim.

Ele parece relutar em dizer algo, confuso com algo que nem eu entendia. Em um ato rápido, ele balança suas mãos na altura de seu peitoral. Então sinto uma dor insuportável em meu peito. Era como se uma faca fosse encravada várias vezes dentro de mim. Mas o sentimento de desespero, os sussurros infernais em meus ouvidos, o suor escorrendo e a falta de ar doíam mais.

-O que está fazendo no meu castelo? – Ele gritou com um ódio imensurável em seu olhar e voz. Ele se levantou e balançou novamente suas mãos, fazendo com que uma força enorme me empurrasse para o chão, não conseguia controlar se quer um nervo dentro de mim, então cai, e minha cabeça vibrou ao ter impacto com o mármore frio.

-Eu... não- Eu estava sentindo que iria ir de encontro a morte esta noite. Era como se a sensação de final chegasse ao meu emocional. -Eu... não sei...

As sensações pararam e tossi feito um porco. Agradeci aos deuses por estar viva. Fiquei de bruços no chão, recuperando o ar.

-Você é bem resistente, Agnes. – Ele diz com total naturalidade – Por mais tonta que você seja, pelo menos é verdadeira.

-Você é um maluco, e como... – penso em suas mãos balançando – como fez aquilo? Essas sensações.

-Você fala demais. – Ele se virou em direção a porta, mas antes me encarou – o jantar será servido daqui a pouco. Você ficará aqui até que eu mande que saia. Entendeu?

-Não entendi. Mas eu não nego comida, muito menos abrigo. Gentileza sua, senhor psicopata bruxo. – Ele saiu dando seus sorrisinhos irônicos que quase me estressaram.

Me levantei do chão, tentando ainda me recuperar de tanta dor. Eu não entendia de onde que veio aquele sentimento. Mas eu sabia que era de algum lugar muito obscuro de minha memória.

Eu devia ter recusado o que ele me disse e partido desse lugar estranho, mas eu queria entender toda essa confusão, e ele me daria abrigo, coisa que eu não tinha.

Abro finalmente a bolsa que havia ganhado. Nela havia algumas peças de roupas muito vulgares, eu não posso mentir dizendo que não gostei. Eu não amei, mas não eram tão ruins.

Pelo jeito que Jockel se vestia, se eu usasse essas roupas que ganhei de Donato, estaria sendo taxada de vestir trapos velhos. Ele zombaria e talvez balançasse suas mãos de novo.

Abro o armário enorme, e vejo não só vestidos inexplicavelmente lindos, mas sapatos incríveis. Qualquer mulher de Celestia piraria. Mas eu não sou qualquer mulher.

Vesti um vestido rodado e que arrastava um pouco ao chão. Um vestido vermelho como o sangue. O sangue daquela pobre mulher... Eu... eu não posso continuar agindo naturalmente. Sei que algo de errado acontecendo por aqui e por Celestia, eu estava prestes a jantar com um lunático enquanto via o circo pegar fogo. Não, não hoje.

Ao sair do quarto, passo pelos corredores assustadores e elegantes, com saltos que faziam muito barulho e perturbava minha postura, então os jogo em um canto qualquer e fico descalça.

Sigo até ao final, subo uma escada e um novo corredor de portas surgiu. Fui novamente até o final, até que ouvi um sussurro.

-A porta mais simples. – Era uma voz feminina, talvez do além. Eu posso parecer louca, mas eu não tinha mais ninguém, eu precisava ouvir ela.

Olhei em volta e percebi que eu estava ignorando uma porta muito simples. Ela parecia com a porta de entrada da minha antiga casa, de madeira. Eu a abri silenciosamente e ela rangeu um pouco. Entrei rápido e suspirei.

Olhei em volta e era um enorme espaço vazio, branco e limpo. Haviam cristais pendurados do teto até quase minha cabeça. Passo as mãos neles, a medida que eu andava, uma paz reinava sobre meu corpo e alma. E coração.

Uma figura feminina, borrada e quase impossível de ver, se aproximou e tocou meu braço. Senti cócegas e sorri.

-O mal está chegando, Agnes. Seja esperta. – Pude ouvir sua voz metálica, a mesma do sussurro. O cheiro era de algo velho, como um porão antigo. Mas, sua imagem era tão doce.

-Eu... eu não entendo.

-Você vai entender. - Agora eu via mais nitidamente. Era como uma ninfa mágica como nos livros que li. Era linda. Seu rosto era fino e seus olhos vagos. Seu cabelo era loiro e sua pele pálida. Mas, ela não parecia bem. Pisquei duas vezes e ela sumiu.

Eu me sentei no chão e respirei  fundo. Eu estava literalmente louca.

-O que eu estou fazendo da minha vida? - Pergunto para os céus em voz alta e olhos fechados.

-Besteira, com certeza.

-Deuses ? Esperis? São vocês? - Abro os olhos e me levanto assustada e surpresa.

 -Não, sou sua avó. Deixa de ser boba, Agnes de Celestia. Por que está aqui e por que não jantou? Saia daqui agora. - Jockel agarra meu braço, senti sua força e doía, ele me puxou para fora do quarto e o trancou. Puxo meu braço para mim, o que fez com que ele o soltasse. - Você está querendo me provocar com esse vestido, com esse decote? Está querendo algo comigo...

Encaro fixamente a corrente que ele estava usando. Havia um símbolo, era a lua, o sol e uma estrela. Eu não pensei bem, mas pensei rápido.

O puxei por trás por sua corrente, asfixiando seu pescoço. Ele tentava fazer com que eu me soltasse do cordão, mas eu estava determinada. Até que ele cai no chão, desacordado. Agacho perto dele e dou um beijo em sua testa.

-Os mais bonitos são sempre os mais odiáveis, me deixe sem ar então também lhe deixarei.


Caçadora - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora