Inevitável

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É impossível determinar o exato momento em que tudo começou a dar errado, mas é sempre possível reconhecer o ponto de partida.

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Kara acordou molhada de suor. Tinha tido mais um de seus sonhos aterrorizantes. Por mais que lutasse para esquecer, ainda lembrava de cada segundo. Respirou fundo e repetiu calmamente a escalação do Giants do último jogo. Era o seu mantra, sua forma de se conectar com a realidade e esquecer do pesadelo. Precisou repetir os nomes algumas vezes até conseguir se mover. Tomou um banho gelado, jogou o pijama na pilha de roupa suja e vestiu seu traje de treino.

Quando pegou a sua moto percebeu que o carro da sua irmã já não estava mais ali. "Merda." Ela queria treinar sozinha hoje. Precisava colocar a sua raiva para fora e não da sua irmã bancando a protetora e querendo saber o que tinha acontecido. Ainda assim, foi até a academia.

A Danvers Artes Marciais ainda estava fechada. Uma das vantagens da sua irmã ser a dona do negócio era ter a chave e a liberdade de poder entrar e sair quantas vezes quisesse em qualquer horário. Kara foi até a sala principal e encontrou a mais velha fazendo o aquecimento.

"Está muito cedo para os seus padrões." Alex parou e a encarou, "aconteceu alguma coisa?"

"Sonho ruim. Podemos não falar nisso e focar nas porradas?" Kara deixou sua mochila em um canto, tirou os sapatos e subiu no tatame para fazer o seu aquecimento.

"Certo...mas se precisar.."

"Foco nas porradas." Kara falou lentamente as palavras encarando a irmã. Era a mensagem mais clara que poderia passar que não queria falar sobre o sonho. Ela entendia a preocupação da mais velha e agradecia do fundo do seu coração. Desde que tudo aconteceu, ela e Alex se aproximaram ainda mais, transformando a amizade de irmãs que existia em algo muito mais sólido.

Mas Alex também era protetora demais. Era a sua única família na cidade, já que os seus pais moravam no interior e sua outra irmã era um mistério o paradeiro. Então, com tudo o que elas passaram, principalmente Kara, a mulher se tornou mais protetora com a caçula. As duas moravam no mesmo prédio, eram vizinhas de porta, e por intermédio do destino ou não, Alex acabou se apaixonando por sua melhor amiga e está noiva dela.

Após um aquecimento rápido, Alex pegou os equipamentos e Kara colocou as luvas. Ela deu três pulos, entrou em posição e despejou a sua raiva contra os aparadores que a irmã segurava. Intercalou socos e chutes por uma hora e ouviu a mais velha ir guiando seus golpes sem parar. Chegou ao seu limite físico e se jogou no chão.

"Você realmente tava com raiva. Teve aquele sonho de novo?"

"Só porque tô quase morrendo aqui, não significa que não tenho mais forças pra chutar o seu traseiro." Sorriu e olhou para a irmã. "Obrigada pela aula particular." Levantou em um pulo e colocou as mãos nos ombros da mulher dando um beijo em sua bochecha. "Vou tomar uma ducha e ir trabalhar."

"Ótimo, mas nós ainda vamos ter essa conversa." Alex falou para o vento, já que Kara saiu o mais rápido que suas pernas a obedeciam direto para o vestiário. Encontrou com algumas outras alunas que começavam a se preparar para as aulas, deu um sorriso amarelo e se enfiou embaixo do chuveiro. Enquanto isso, sua irmã deu o golpe fatal enviando uma mensagem para alguém que Kara não iria conseguir escapar de falar.

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Lena virou na cama e sentiu um perfume estranho no seu travesseiro. Com um certo embrulho no estômago ela abriu os olhos para identificar o que era aquilo. A resposta ainda estava por ali e para completar o seu infortúnio, ela não fazia a menor ideia de qual era o nome. Jogou o travesseiro no chão, passou o lençol ao redor do seu corpo e levantou. Trancou a porta do banheiro e fez o máximo de barulho que conseguiu. Se tivesse sorte, quando saísse dali não teria mais ninguém na sua cama.

Vamos tentar mais uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora