Vida

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Quando Lena conheceu Kara, ainda na faculdade ela logo descobriu o lado impulsivo da loira. Primeiro ela agia e depois pensava. Foi assim com o primeiro beijo delas, que pegou a estilista de surpresa ou com a ideia de irem morar juntas. Com o passar da relação, ela também aprendeu que a fotógrafa colocava sempre os outros em primeiro lugar e isso muitas vezes a deixava em situações complicadas. Dizer um não ou ver o perigo iminente, nunca foi uma das qualidades de Kara.

Ainda assim, ou talvez por isso, Lena a amava. Sempre. E por mais que ela tivesse vontade de socar a loira ou jogá-la pela janela, não conseguia controlar o sentimento de cuidado que estourava em seu peito toda vez que Kara agia por impulso. Quando elas chegaram em casa, a estilista foi direto para o banho. A fotógrafa até tentou falar alguma coisa, mas Lena pediu que ela aguardasse.

E pacientemente, ou nem tanto, Kara o fez. Quando a estilista saiu do banho encontrou a mesa pronta para o jantar e a noiva colocando a comida comprada em pratos. "Chinesa?"

"É, pedi daquele restaurante aqui perto que você gosta. Chegou bem rapidinho." Kara olhou sobre o ombro e sorriu. "Estava bom o banho?"

"Sim." Lena pegou uma cerveja para cada uma enquanto que a loira trazia a comida para a mesa. "Os gatos já perdoaram você?" Indagou depois que viu os dois bichanos andando atrás da fotógrafa, esperando por qualquer sobra de comida.

"Eu sou muito fofa, é difícil ficar bravo comigo por muito tempo." Kara sorriu para a noiva.

"Quer apostar?" Lena sentou e encarou a loira com a sua clássica sobrancelha erguida. Foram tantas vezes naquela noite só para a fotógrafa, que Kara achava que elas nunca mais iriam abaixar.

"Você ainda está brava." Kara concluiu e olhou para o seu prato. "Sinto muito."

"Por eu ainda estar brava?"

"Pela forma que as coisas aconteceram. Por eu ter trazido o filhote sem pensar nas consequências. Por colocá-lo na moto e correr o risco de sofrer um acidente trazendo o bicho agitado dentro da roupa. Por não ter te avisado antes. Por ter me machucado e negar querer ir pro hospital." Kara listou seus erros e ficou olhando para noiva. "Sinto muito babe."

"Eu fico tão brava com você quando coloca todas as outras pessoas na frente das suas necessidades, quando se coloca em risco...Você é importante babe. Seus desejos, seus sonhos, sua vida importam demais. E parte meu coração toda vez que vejo você fazer algo impulsivo pelo bem dos outros."

"É um gatinho." Kara fez aquele olhar de cachorro abandonado.

"É o gato. É o dinheiro das suas economias que você ia usar pra investir em algo pra sua carreira que vai dar pros seus pais. É proteger a Imra e os erros dela. É ir para brigas de rua. É deixar de lado o crush na sua melhor amiga porque a sua irmã gostou dela. É passar a cola, ser pega e assumir a culpa no lugar de um amigo. É acreditar que a única pessoa que vai dar valor para o seu trabalho é uma psicopata..."

"Eu não sabia que ela era uma psicopata." A fotógrafa sussurrou e brincou um pouco com a comida. "Eu sinto muito."

"Eu só queria que você entendesse que você importa demais. Que você não é descartável." Lena estendeu a mão para a amada e sorriu. "Eu te amo muito Kara e eu gostaria que você se amasse da mesma maneira."

A fotógrafa segurou a mão da noiva e deu um longo beijo. "Me perdoa. Eu...vou levar o que você falou para a Anna. E prometo tentar pensar nas coisas antes de fazer."

"E não trazer mais gatos pra dentro de casa. Três é o limite."

"Três é o li...pera aí, nós vamos ficar com o Scratch?" Kara abriu um sorriso enorme.

Vamos tentar mais uma vezOnde histórias criam vida. Descubra agora