Cap 3 - A mensagem

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"Querido diário, estou impaciente pra caramba. Eu sei que só se passou um dia, mas eles já deveriam ter me dado uma resposta, né? Será que eu preciso ser formada na NASA para conseguir um trabalho simples? Provavelmente, estou fadada ao fracasso mesmo e virarei uma sem-teto.

- 14/03/2019: Lara S. Vicente"

- Lara, o que foi? Por que você tá dando voltas na sala encarando esse celular?

- MARIANA, VOCÊ NÃO VÊ?

- Não vejo o quê?

- Eu sou uma inútil! Um fracasso total.

- Como assim, garota?

- Até agora não recebi nenhuma resposta de NENHUMA das empresas que entreguei meu currículo. Será que eu não sirvo nem pra ser atendente do Mcdonald's? Hein?!

- Ah, então é isso? Kkkkkkkk, menina, relaxe. Pode demorar um pouquinho, mas é normal.

- É...pode ser, não sei.

- Confie em mim, é assim mesmo. Agora, vamos sair um pouco pra descontrair.

- Pensei que você iria encontrar o seu boy hoje.

- Ah...aquele filho da puta. O imbecil terminou comigo.

- Quê? Como assim? Me explica isso.

- No carro eu digo, vai lá se arrumar pra gente tomar um sorvete. Eu tô meio mal.

- Certo, deixa só eu trocar a roupa rapidinho.

No carro

- E então? Vai me dizer?

- O acéfalo do Kaylon disse que precisava de espaço, que queria viver a vida dele e sei lá mais o quê. Ele terminou comigo por mensagem! POR MENSAGEM!

- Que covarde, mano.

- Muito.

- Mas ele não merecia você. Nem um pouco, ele era só um desempregado que vivia às custas dos pais. Você é uma grande gostosa.

- Valeu, amiga, kkkkkkk. Você tem razão.

Tentei passar aquele tempo no carro sem focar nas energias negativas que estavam me rondando, isso só pioraria tudo. Tomar um sorvete seria bom pra mim também, distrair a mente um pouco.

Estávamos tomando um sorvete naquela sorveteria famosa, a "Sorveteria da Ribeira". Os sorvetes de lá são muito bons, por sinal.

- Sinceramente, Lara, estou quase desistindo de ter um relacionamento. Esse foi o maior que eu tive e só durou 4 meses.

- Eu sei bem como isso é, não tenho sorte com essas coisas. Olha pra mim, nunca namorei ninguém, sou virgem e só fiquei com 3 pessoas a minha vida inteira.

- Sim, 3 meninas.

- O que você quer dizer com isso?

- Você já teve vontade de ficar com um cara?

- Na verdade não, nunca tive essa curiosidade. Mas por quê?

- Sei lá, você poderia tentar.

- Só se você tentar ficar com uma garota.

- Ai, Jesus, Kkkkkkk. Tá bom, mas isso depois, porque agora é a sua hora.

- Como assim?

- Você não percebeu?

- Percebi o quê?

- O garçon tá te olhando há mó tempão.

- Sério?!

- Sim, é a sua chance.

Eu não sei como, mas estava com uma coragem absurda. Ou talvez era porque eu simplesmente queria desviar a minha mente daquilo sobre o emprego. De qualquer forma, eu queria me arriscar.

- Mas o que eu faço?

- Deixa comigo, Lara.

- O que você vai fazer?

- Apenas veja. Ei! Moço! Pode vir aqui, por favor?

- Sim, senhora? -- disse o rapaz.

- A minha amiga aqui quer você.

Eu fiquei pasma.

- Mariana, como assim?!

- Não liga pra ela, moço, ela é meio tímida.

Ele riu.

- Isso é sério? Bom, se for, por mim tudo bem -- disse ele.

- Tá vendo, Lara? Vai lá.

E pior que eu fui. Ele me levou até os fundos da sorveteria. Eu, como sempre, fiquei sem graça, mas aceitei. Começamos a nos beijar, eu não sentia nada de especial, pra falar a verdade. Ele me segurava pela cintura, às vezes passava a mão pelos meus cabelos, mas apenas isso. Eu estava estática, segurando em seus ombros, apenas seguindo o ritmo da língua dele na minha boca. O hálito dele era de chiclete de hortelã. Poderia ser um beijo normal, até eu dar uma de louca.

Enquanto ele me beijava, senti algo estranho roçando na minha coxa. Foi aí que eu me toquei do se tratava. O cara estava excitado! Eu tomei um susto, e no calor do momento acabei dando um tapa na cara dele. Por que eu fiz isso?! Aquilo era completamente normal! Mas não pra mim. Saí correndo dali. E a última coisa que pude notar foi a reação estática dele, boquiaberto, sem entender nada e com cara de assustado.

- Mariana, rápido, vamos agora.

- Como assim? Tá tudo bem? O que ele te fez?

- Nada. Paga o sorvete aí, eu te espero no carro.

Voltando pra casa, contei o que aconteceu pra ela. E, claro, ela passou mal de tanto rir, enquanto eu só conseguia ficar com a minha cara fechada.

Já estava tarde, fui tomar um banho quente, ouvindo "Set fire to the rain" da Adele. Essa música toca na alma, cara. Foi quando recebi uma notificação no celular. Desliguei o chuveiro e fui ver o que era. Será que finalmente me enviaram uma resposta me oferecendo um emprego?! Na verdade, não. Era sobre a oferta do colega de quarto. Só esperava que não fosse aquele velho de novo. Mas não era, ainda bem.

A mensagem vinha no meu direct, de uma mulher chamada "Heloísa P. França". Não tinha foto de perfil e nenhuma publicação, mas uns 200 seguidores. Ela estava perguntando se ainda estávamos aceitando entrevistas para a vaga da colega de quarto. Fiquei surpresa, deu certo mesmo! Respondi que sim, e que ela poderia vir aqui a partir de amanhã, caso tivesse interesse no quarto disponível. Ela concordou em aparecer depois do almoço.

Fiquei tão feliz que fui correndo contar pra Mariana, depois de me vestir, é óbvio. Mas a resposta dela não foi bem o que eu esperava.

- Que mulher estranha é essa, Lara?

- Não tô te entendendo.

- Como você aceita que essa doida venha aqui em casa? Nem foto de perfil ela tem, nem nada na bio, apenas "Carpe Diem". Eu nem sei o que isso significa!

- Significa "aproveite o dia", em latim.

- Aí, tá vendo? É louca.

- Eu achei bacana, é peculiar.

- Pois eu não vou achar nada peculiar se ela resolver assassinar a gente enquanto dormimos.

- Relaxa. A gente ainda vai entrevistar ela, pode ser gente boa.

Acabei convencendo Mariana a ficar mais tranquila e encarar de forma mais positiva. De qualquer jeito, só saberemos quando conhecermos essa Heloísa pessoalmente.

Só nós duas (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora