➳ CAPÍTULO 1: O CASAMENTO

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          HAVIA UMA MESA DE MOGNO retangular no centro do pequeno salão, era enorme o suficiente para que mais de vinte pessoas pudessem se acomodar e se servir sem incomodar umas às outras. No meio da mesa, um vaso de vidro com um arranjo de rosas brancas e lírios coloridos fora disposto sobre o tecido de renda. Os talheres de prata repousavam em seus devidos lugares, assim como os pratos, tigelas e travessas recheadas de aperitivos e comidas suculentas. Tinha costela de porco, batatas coradas, carneiro com cenouras, tiras de frango assado no palito e tortinhas de queijo com linguiça calabresa. Pude sentir o interior de minhas papilas gustativas se contorcerem e minha boca salivar.

          Sem dúvida alguma, aquela era a melhor parte da festa: a comida. Estava impecável, perfeita, como era de se esperar de uma comemoração daquela magnitude.

          O mesmo não poderia ser dito sobre a decoração do restante do lugar, que estava, no mínimo, entediante. Havia muitas flores. Para todos os cantos que eu olhava, via flores. Flores, flores e mais flores. Até mesmo no bolo e nos docinhos elas estavam. Sinceramente, naquele momento, fiquei com medo de entrar no banheiro e achar uma mini-árvore com laços e fitas cor-de-rosa.

          Eu detestava laços e fitas cor de rosa. Além disso, mais do que tudo, odiava festas. Desde pequena, eu nunca gostei de ambientes com mais pessoas do que se era possível contar com os dedos das mãos. Não importava se o lugar estava bem iluminado, se a comida era boa ou se havia ar-condicionado. Eu detestava festas. No entanto, estava incondicionalmente apaixonada pela mulher responsável pela festa.

          Aquele era o principal motivo de eu estar ali. E, mesmo controlando-me para não cometer um crime contra as condutas sociais, jamais conseguiria suportar passar mais de trinta minutos em um ambiente daqueles sem reclamar. Infelizmente, para meu azar, já tinha chegado no meu limite e não havia ninguém ali para me ouvir.

          — O que está fazendo aqui? — alguém perguntou. Em seguida, senti mãos repousarem sobre meu ombro esquerdo e, ao girar na direção da voz familiar, encontro os olhos castanhos e preocupados de Georgina. — A banda já está pronta. Você já deveria estar lá, Lirah! — ela gritou e eu me encolhi, tentando ignorar sua presença. — Não me diga que serei obrigada a chutar a sua bunda até o palco?

          — Não vai fazer isso. — disse, esforçando-me ao máximo para manter minha melhor expressão de seriedade. Uma grande parte de mim sabia que, se pudesse, Georgina faria isso e muito mais. — Por mais convidativo que essa ideia possa parecer — debochei —, não acho que seja uma boa ideia — abaixei a cabeça e fitei o chão. Pude senti-la perseguindo-me com seus enormes globos oculares preocupados. Detestava aquilo. —  Prometi para ela que iria cantar. — suspirei, dando-me por vencida. — E é isso que eu farei.

          Ficamos alguns breves segundos em silêncio, o que facilitava minha tarefa de evitar encará-la. Afinal, era como falar sozinha. 

          Antes que eu pudesse reunir coragem, as pessoas começaram a se movimentar em direção à porta, retirando-se do salão. Eu esperava ter mais tempo, mas logo o ambiente ficou vazio, restando apenas eu, Georgina e as variadas porções intactas de comida sobre a mesa.

          — Já contou para ela? — ouvi a voz de Georgina e, de repente, senti seus dedos acariciando o dorso da minha mão. O vazio sonoro que nos envolveu em seguida era esmagador, e sua voz soou alta, criando um eco em meus ouvidos.

          Um som involuntário escapou de meus lábios e reprimi a angústia que me consumiu de dentro para fora. Eu conhecia suas preocupações, seus medos eram os meus medos. 

          — Não — respondi. Ergui a cabeça e encontrei seus olhos marejados. Nos lábios, um sorriso. Se mais alguém além de mim pudesse vê-la, diriam que estava apenas emocionada com a comemoração, mas eu sabia a verdade. Não eram lágrimas de felicidade e aquele, tão pouco, um sorriso real.

          Georgina inspirou profundamente, tentando acalmar a si mesma, fitou-me com seus enormes olhos brilhantes e eu devolvi o olhar. Sua aura me transmitia tranquilidade e senti que estava pronta. Ela, então, guiou-me pelo salão, marchando porta afora. Durante o pequeno trajeto, não pude parar de pensar. Minha mente fervilhava, refletindo diálogos passados e memórias inexistentes no mundo real. Aquele não seria um bom momento para ter uma crise de ansiedade.

          Deixando o salão de festas para trás, caminhamos pelos corredores de porcelanato que logo deram lugar ao gramado úmido do campo exterior. A lua brilhava como um farol, ofuscando toda atenção para si, iluminando o céu azul-marinho sem nuvens. Pude sentir as mãos delicadas de Georgina empurrando-me pela trilha de pedras até a capela.

          Aquele era o momento.


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